Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capitulo 4(suit)

Ela sorriu suavemente para ele, com um brilho de ternura nos olhos. “Você é meu irmão, Pierre. Você nunca esteve sozinho.”

Pierre fechou os olhos por um momento, deixando-se embalar pelo calor da irmã. Ele sabia que não poderia escapar dessa realidade, mas pelo menos não estava completamente abandonado nessa turbulência. Ele ainda tinha sua irmã. E, em um mundo que parecia tão escuro, isso já era alguma coisa.

Eles ficaram ali por um momento em silêncio compartilhado antes que sua irmã se levantasse lentamente. “Vou deixar você descansar”, ela disse, dando-lhe um último sorriso. “Se precisar de mim, estarei no meu quarto.”

Pierre assentiu sem dizer nada, e ela saiu, fechando a porta silenciosamente atrás de si. A solidão caiu sobre ele como um cobertor pesado, mas desta vez ele não estava completamente sozinho. E naquele pequeno conforto, ele encontrou uma aparência de paz, embora, no fundo, as perguntas nunca parassem de assombrá-lo.

A noite se estendia ao seu redor, cheia de dúvidas e medos, mas ele sabia que teria que, de uma forma ou de outra, enfrentar o que estava por vir. E mesmo que o futuro parecesse incerto, ele não estava tão perdido quanto antes.

Peter estava deitado na cama, olhando para o teto escuro. As palavras de Claude e de sua mãe continuavam ecoando em sua cabeça. Mas algo, uma tênue esperança, começou a se formar em sua mente: Talvez Damien nem saiba... Talvez tudo isso seja apenas um mal-entendido.

Ele pensou em seu primo. Para Damien. Eles cresceram juntos, numa época em que as coisas eram simples. Naquela época, tudo parecia muito mais natural entre eles. Mas agora tudo parecia irreal, como se um espesso véu de mistério envolvesse a situação.

Peter sentou-se ligeiramente na cama, dominado por um turbilhão de pensamentos confusos. Damien… Não é possível. Ele não pode estar nessa trama, nessa história de casamento forçado. Ele é meu primo. Nós sempre nos demos bem, não é mesmo?

A ideia de que ele pudesse ser um mero peão em um jogo de poder manipulado por seu pai e seu padrasto parecia quase insana para ele. Damien... ele nunca concordaria com isso, não é?

Peter levantou-se abruptamente da cama e foi em direção à janela. A noite estava tranquila, e o luar iluminava as ruas desertas. De qualquer forma, falarei com ele sobre isso amanhã, pensou determinado. Vou fazer as perguntas certas a ele. Somente com ele eu pude entender a verdade. Se esse casamento não for o que parece, então eu saberei...

Ele sentou-se no parapeito da janela, com os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele não conseguia escapar da ideia de que tudo parecia uma loucura, um emaranhado de decisões que não faziam sentido. Mas por que todos parecem tão calmos sobre isso? ele se perguntou. Por que todo mundo parece ter aceitado esse casamento como um fato, como se fosse evidente?

Um suspiro escapou de seus lábios. Talvez amanhã, quando ele visse Damien, tudo ficaria mais claro. Talvez não tenha sido tão ruim quanto parecia. Talvez ele simplesmente ficasse preso nessa situação sem poder dizer nada, como sempre tinha ficado.

Mas não, ele pensou, levantando-se novamente, não vou deixar isso acontecer comigo. Vou falar com Damien. Preciso saber. Isso tudo é loucura. Mas amanhã tudo ficará claro. Tenho que acreditar que há uma solução...

Com esses pensamentos, ele se deitou novamente, sua mente ainda em turbulência. Mas a ansiedade de não saber o consumia. No entanto, no fundo, ele se apegava à ideia de que talvez tudo fosse um mal-entendido, um erro que eles poderiam consertar juntos. Tudo o que ele precisava fazer era falar com Damien, e talvez as coisas fossem diferentes.

Amanhã ele saberia mais. Ele só esperava que, quando se levantasse, a loucura da situação se dissipasse.

Peter acordou, ainda grogue da noite agitada. Os sons na casa pareciam mais altos do que o normal naquela manhã, talvez por causa da ansiedade que lhe dava um nó no estômago. O dia do confronto finalmente havia chegado. O dia em que ele descobriria o que teria que fazer diante daquela situação, um casamento forçado sobre o qual ele ainda tinha poucas informações.

A porta do seu quarto se abriu de repente. Claude estava parado na porta, com uma expressão impassível no rosto. “Acorde, Pierre. Estamos saindo em uma hora”, ele disse em um tom seco e autoritário, como se fosse apenas uma formalidade.

Peter, com os olhos semicerrados, levantou-se lentamente. Ele não teve escolha. Ele teria que encarar isso. Mas antes disso, ele teve que confessar e confrontar o homem que foi sua figura paterna durante anos. Ele precisava entender. Porque ele não podia mais continuar vivendo na sombra do que sentia.

“Sabe, Claude”, Pierre disse, vestindo-se num tom que traía uma mistura de fadiga e raiva, “eu sempre te amei como um pai. Tentei te agradar, me encaixar, viver de acordo com suas expectativas. Mas você, você nunca me viu como um filho. Você sempre me tratou como um estranho, como um fardo. E foi isso que me machucou.”

Claude olhou para ele com um sorriso malicioso nos lábios. Ele se virou ligeiramente e deu de ombros. “É engraçado, porque eu sempre vi você como um fardo. Você é apenas um fracasso, um fracasso. Você acha que eu deveria te amar? Que eu deveria te aceitar? Não. Você nunca foi o suficiente, Pierre, e nunca será.”

As palavras atingiram Peter como um soco. Embora tivesse se preparado para esse confronto, ele não imaginava que a dor seria tão cruel, tão devastadora. Tudo o que ele sempre esperou desse relacionamento, todo o amor que ele tentou dar a Claude, parecia não ter passado de uma ilusão. Uma fantasia na qual ele se permitiu ser envolvido.

Peter se levantou, a raiva fervendo dentro dele. “Você obviamente não me vê como um filho. E é isso que dói. Porque eu te vi como um pai. Eu queria estar lá por você, para provar a você que eu era digno do seu respeito. Mas tudo o que você fez foi me colocar para baixo. Me mostrar o quão pouco eu significava para você.”

Claude, implacável, olhou-o nos olhos. “Você está certo, você é apenas um fardo, Pierre. E isso me serve muito bem. Se você acha que eu vou chorar por você, você está errado. Mas sabe de uma coisa? Se você é tão infeliz assim, se você acha que é um fracasso, então saia! Saia daqui e pare de terminar toda a comida que temos que comprar com nosso próprio dinheiro. Se você é incapaz de fazer qualquer coisa com sua vida, você pode ir embora também.”

As palavras de Claude ecoaram na mente de Pierre como um eco que não se apagava. Ele estava perdendo o juízo, mas algo nele surgiu, uma última centelha de dignidade. “Eu vou embora, sabe. Eu vou embora eventualmente, mas não vou ficar aqui e ser tratado assim.”

Ele virou as costas para Claude, com o coração pesado, mas decidido. Ele não era mais aquele garoto vulnerável que buscava a aprovação do padrasto. Ele estava finalmente pronto para encarar a realidade de sua situação.

Claude, no entanto, não pareceu afetado por suas palavras. “Faça como quiser”, ele respondeu, seu tom frio e desprovido de qualquer emoção. “Você acabará provando apenas uma coisa: você é um fracasso e sempre foi um fardo.”

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.