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Desejo contido

Octavio Rinaldi

Apaguei a mensagem de Chiara sem sequer abrir a foto.

Nem era necessário. Eu já sabia o que haveria ali — mais uma tentativa patética de me provocar, outra imagem nua com filtros exagerados e legendas provocativas, como se o sexo ainda tivesse algum valor entre nós. Já foi conveniente, já me serviu... mas isso havia ficado para trás. Antes, eu me permitia. Usava suas carícias como anestesia para as pressões do tribunal, para as cobranças do meu pai, para as noites em que não havia outra opção além do cansaço.

Mas já fazia um mês que eu evitava qualquer contato. Inventava desculpas, agendas lotadas, reuniões urgentes — quando, na verdade, o que eu queria era distância. E eu precisava acreditar que o motivo era apenas o noivado forçado que nossos pais tramavam por interesse mútuo, uma negociação disfarçada de tradição.

Precisava acreditar nisso... porque a outra explicação era inaceitável.

Não podia ser por ela.

Não podia ser por uma certa mulher de sotaque insolente e olhos que me desafiavam em silêncio.

As batidas na porta interromperam meus pensamentos. Soltei um suspiro, impaciente por ser interrompido tão cedo, mas autorizei a entrada.

E como se minha mente tivesse o poder de materializar tentações, Luana Ramirez surgiu na porta.

Segura. Destemida. Como sempre.

Seus saltos ecoaram pelo piso do escritório, marcando presença, como uma trilha sonora discreta para o jogo que se instalava todas as vezes que ela aparecia. O vestido justo que usava não era vulgar, tampouco chamativo... mas em seu corpo, tornava-se um convite indecente. A mulher sabia que era linda. Mas o que me provocava não era sua beleza óbvia — era o controle que ela fingia ter, e a luta interna que eu intuía sob cada resposta bem articulada.

— Bom dia, senhor Octavio — disse ela, cada sílaba carregada de uma confiança quase debochada.

Com seus modestos um metro e sessenta, ela me encarava como se tivesse dois metros. E isso, confesso, era a coisa mais irritante e deliciosamente instigante nela.

Eu sabia que sua submissão era forçada. Calculada. A garota tinha uma língua afiada e um espírito que não aceitava coleira. Ela estava se contendo, e isso me deixava em alerta constante — como um animal que pressente outro à espreita.

Se eu tivesse um mínimo de sensatez, teria recusado a indicação de Giovanni no instante em que a vi. Ou a teria colocado em outro andar, longe de mim. Mas eu nunca fui conhecido por tomar decisões sensatas quando algo — ou alguém — me instiga. E ela me instigava. Como um problema que eu não deveria resolver... mas queria desmontar peça por peça.

Desde o primeiro dia, sua petulância disfarçada de profissionalismo me divertia mais do que deveria. Ela sorria para esconder a raiva quando eu a testava. Engolia respostas cortantes com um brilho nos olhos que dizia tudo. Era um embate silencioso, mas constante. Uma batalha não declarada que ela se recusava a perder. E eu também.

Quase um mês se passou, e ela seguia imbatível. Cada tarefa absurda que eu delegava, ela cumpria com precisão cirúrgica. E o mais irritante? Melhor que qualquer assistente que já tive. Discreta, ágil, eficiente. E com uma ousadia sutil que me mantinha em alerta, como se estivéssemos o tempo todo a um passo do escândalo ou do prazer.

Ah, aquele olhar… o modo como ela sustentava o contato visual sem vacilar. Aquilo me instigava a quebrá-la. A empurrá-la até a borda da compostura. Eu queria ver o momento exato em que o verniz da perfeição escorregasse e revelasse a mulher que havia por baixo.

E eu desejava isso de todas as formas possíveis.

Até mesmo — especialmente — das mais erradas.

Ela se posicionou à minha frente, ereta, impecável, aguardando minha provocação matinal como quem encara o ringue com o adversário já conhecido.

— Bom dia, Luana. O que tenho na minha agenda hoje? — perguntei, sem me preocupar em disfarçar o tom cortante.

Vamos ver como você lida com o caos que estou prestes a impor.

Mas ela apenas sorriu. Aquele maldito sorriso de quem já previu o golpe e está pronta para contra-atacar.

Baixou os olhos para o tablet com a calma irritante de quem domina a situação, e começou a ler meus compromissos com uma precisão que me dava nos nervos.

— Às nove, reunião com os sócios para revisão do contrato de fusão. Às dez e meia, audiência do caso Ferrara. O almoço com o procurador foi remarcado para as treze. Às quinze, conferência com os clientes da holding...

Sua voz era clara, firme, perfeitamente profissional. Mas minha atenção já não estava mais no conteúdo.

Nenhuma hesitação. Nenhum erro.

Enquanto eu pegava os documentos sobre a mesa, percebi algo que me incomodou mais do que devia: tudo estava em ordem. Meticulosamente em ordem. Onde antes reinava o caos da minha antiga secretária, agora havia método, categorização, lógica.

Como diabos?

Meus olhos voltaram para ela, avaliando-a de novo.

Se Luana não fosse tão irritante, eu poderia admitir que estava impressionado. Talvez até encantado.

Seu profissionalismo era impecável. Sua audácia, bem dosada. E seu corpo…

Aquele vestido.

Não era revelador, mas parecia desenhado para valorizar cada curva que ela possuía. Um convite elegante à perdição. Luana era um pecado sussurrado, daqueles que se comete em silêncio e jamais se esquece.

E o pior? Ela sabia disso.

Por um instante, minha mente traiçoeira imaginou como seria desfazer aquele tecido. Ver seu corpo sem a armadura do decoro. Só pele, respiração e caos.

Merda.

Fechei os arquivos com firmeza, buscando recuperar o controle.

— Muito bem. Mantenha tudo organizado assim e talvez você dure mais tempo do que eu esperava.

Ela entendeu o tom da provocação, é claro. Seus olhos brilharam com aquele desafio mudo. Mas, em vez de retrucar, ergueu o queixo com elegância, mantendo a postura intacta.

Aquela mulher estava me testando.

E eu... eu ainda não sabia se torcia para vê-la falhar ou continuar vencendo esse jogo.

Mas uma coisa era certa: eu não planejava parar de jogar.

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