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4

— Saia. — eu disse, a palavra soando definitiva. — E não volte.

Ele hesitou por um instante, mas então, como se finalmente entendesse a gravidade de suas ações, virou-se e saiu sem olhar para trás.

Sozinha novamente, deixei que as lágrimas que eu segurava finalmente caíssem. A dor ainda estava lá, mas a raiva também. E eu sabia que, de alguma forma, conseguiria me reconstruir a partir dos pedaços que restaram.

[...]

Manhã seguinte...

A luz suave da manhã filtrava-se pelas cortinas do quarto de hospital, lançando sombras delicadas nas paredes. Eu ainda estava tentando processar tudo o que havia acontecido quando a porta se abriu novamente. Desta vez, era o médico, seguido de perto por minha mãe.

O rosto dela estava marcado pelo cansaço, mas seus olhos brilhavam com um amor inabalável. Ela se aproximou da minha cama, segurando minha mão com uma ternura que só uma mãe poderia oferecer.

— Bom dia, Asa. — o médico começou, olhando para mim com um sorriso encorajador. — Como você está se sentindo hoje?

— Estou... tentando entender tudo. — respondi, minha voz um pouco rouca.

Ele assentiu, compreensivo.

— Eu sei que é muita coisa para absorver. Mas há algumas questões importantes que precisamos discutir.

Minha mãe apertou minha mão, como se quisesse me dar força. O médico continuou:

— Devido aos dois anos em coma, seu corpo passou por algumas mudanças. Precisaremos realizar alguns exames para avaliar sua saúde geral.

Assenti, já esperando algo assim.

— E quanto à minha mobilidade?

— Precisaremos começar com fisioterapia o mais rápido possível. — ele explicou. — O tempo que você passou deitada pode ter afetado seus músculos e articulações. Será um processo gradual, mas nosso objetivo é ajudá-la a recuperar sua força e independência.

A ideia de passar por tudo isso era assustadora, mas também senti uma faísca de determinação. Eu queria minha vida de volta.

— Entendo. — murmurei. — Estou disposta a fazer o que for necessário.

Minha mãe me olhou com um orgulho que aqueceu meu coração.

— Estamos aqui para você, Asa. A equipe médica estará sempre cuidando de você até estar liberada e finalmente poder sair deste hospital. — diz o médico com um sorriso gentil.

Ele continuou explicando os próximos passos, os tipos de exercícios que eu faria e a equipe que estaria ao meu lado durante a recuperação. Embora o caminho à frente parecesse longo e desafiador, havia uma sensação de esperança crescendo dentro de mim.

Quando o médico saiu, minha mãe permaneceu ao meu lado, acariciando minha mão.

— Você é forte, Asa. Sempre foi. E agora não será diferente. — diz ela. — Quero que saiba que nunca aceitei o que aconteceu. Só quero que você supere tudo e que finalmente possa seguir sua vida.

Eu assenti, a raiva voltando novamente a tona.

Eu sabia que haveria dias difíceis, momentos de dúvida e frustração, mas, eu também sabia da minha força e determinação, eu iria dar a volta por cima.

— Obrigada, mãe. — sussurrei, sentindo-me grata por sua presença constante. — Vamos conseguir.

E naquele instante, decidi que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para me reerguer. Eu estava pronta para lutar pela minha vida.

[...]

O silêncio era quase ensurdecedor, mas, de alguma forma, ele me permitia ouvir a mim mesma com clareza.

Era noite e eu estava sozinha naquele quarto de hospital.

Olhei para o teto, as pequenas manchas e marcas se tornaram um mapa de minhas reflexões. Nunca havia passado tanto tempo sozinha, e, ironicamente, essa solidão estava me fazendo companhia de uma forma estranha. Era como se, finalmente, eu pudesse me desvencilhar das vozes externas que sempre tentavam me guiar, me moldar. Agora, só havia eu e as minhas memórias.

Pensar na minha vida era como folhear um álbum de fotografias desbotadas. Cada imagem trazia à tona risos e lágrimas, amores e desilusões. Eu me lembrava de cada coração partido, das promessas feitas e quebradas. A verdade era que eu estava cansada. Cansada de me arriscar, de abrir meu coração e me expor, apenas para ver tudo desmoronar. O amor, que um dia me parecia um céu azul, agora era uma tempestade, e eu não tinha mais vontade de me molhar.

Quando eu sair daqui, quero mudar. Quero respirar livremente, sem o peso das expectativas. Quero descobrir quem sou fora das relações e dos rótulos que a sociedade impôs a mim. A ideia de viver por mim mesma, de encontrar alegria nas pequenas coisas, começou a ganhar forma. Eu poderia explorar os meus hobbies, redescobrir paixões que deixei para trás. Talvez eu voltasse a dançar balé, ou quem sabe escrever um livro, onde cada palavra seria uma nova forma de me libertar.

A verdade é que eu não queria mais me envolver amorosamente com ninguém. A dor de um coração partido ainda ecoava dentro de mim, e não havia espaço para mais feridas. Eu desejava um amor maior, um amor que não dependesse de outra pessoa. Um amor por mim mesma, um amor que me curasse e me fortalecesse.

Enquanto o tempo passava lentamente, eu me permiti sonhar com o futuro. Imaginei um lugar onde eu poderia ser livre, onde as cores da vida não estivessem opacas, mas vibrantes. Um espaço onde eu poderia me reinventar, onde o passado não ditasse quem eu sou.

Então, deitada na cama do hospital, fiz uma promessa silenciosa a mim mesma.

Um acidente não conseguiu me vencer, então por que eu deixaria que meu ex-namorado e minha irmã traidora me derrubassem? Eles acham que podem me machucar, que podem me fazer sentir menos do que sou. Mas eu sou mais forte do que isso. Cada cicatriz que carrego é uma prova de que sobrevivi, de que enfrentei desafios maiores. Não vou permitir que essas traições me definam. Eu sou a dona da minha história, e ninguém vai tirar isso de mim.

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