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5

Asa narrando:

Eu estava acordada, pesando na minha vida.

O cheiro do desinfetante e o som suave dos equipamentos médicos ao meu redor me lembravam que ainda estava em um hospital. Mas, dessa vez, o que me aguardava era diferente: a fisioterapia.

Ainda me sentindo um pouco perdida, olhei para o relógio na parede. Era hora de conhecer meu fisioterapeuta. Uma parte de mim estava apreensiva, não apenas pelo desafio físico que eu teria que enfrentar, mas também pela ideia de interagir com outra pessoa. Meu coração ainda estava frágil, um vidro quebrado que eu temia que qualquer movimento brusco pudesse estilhaçar novamente.

Quando ele entrou na sala, meu mundo interior deu um solavanco. Era como se o tempo tivesse parado por um instante. Ele era alto, com cabelos castanho-escuros que caíam de maneira despretensiosa sobre a testa. Seu sorriso era caloroso, e seus olhos, um tom profundo que parecia entender mais do que eu estava disposta a revelar. Havia algo estranhamente atraente nele, algo que me fez sentir um misto de curiosidade e pavor. Eu me lembrei das promessas que fiz a mim mesma: não me envolver, não me abrir para mais dor.

— Oi, Asa. Meu nome é Luke, e eu serei seu fisioterapeuta. — disse ele, estendendo a mão. Sua voz era suave e encorajadora, mas ao mesmo tempo havia uma firmeza que me fazia sentir que eu estava em boas mãos.

— Oi. — respondi, tentando esconder a inquietação que começava a borbulhar dentro de mim. Apertei sua mão, e a conexão foi instantânea, como se um fio invisível nos ligasse. Mas eu não podia me permitir pensar nisso. — Só quero me recuperar... — murmurei, desviando o olhar.

— É exatamente por isso que estou aqui. Vamos trabalhar juntos para fazer isso acontecer. Está pronta para começar? — Ele sorriu, e por um momento, vi um vislumbre de esperança. Mas logo a doutrinação interna veio à tona: eu não precisava de nada além da minha recuperação.

Enquanto ele me ajudava a mover os membros, a realidade do meu corpo inerte se tornava cada vez mais evidente. A fraqueza era esmagadora, e a frustração se acumulava em meu peito. Mas Luke estava lá, sempre encorajando cada pequeno progresso.

— Você está indo muito bem, Asa. Um passo de cada vez. — ele dizia, e eu tentava acreditar naquilo.

A cada sessão, eu me sentia mais à vontade com ele, embora uma parte de mim ainda estivesse em guarda. O jeito como ele me olhava, como se visse não apenas o meu corpo, mas também a minha alma, me deixava confusa. Eu não queria me abrir para ele, não queria arriscar me machucar novamente. Mais uma traição, mais uma desilusão, e eu não teria forças para me levantar.

— Vamos tentar mais uma vez. — ele sugeriu, enquanto eu tentava mover a perna. O suor escorria pela minha testa, e eu sentia a pressão crescendo no meu peito.

— Só mais uma vez. — repeti para mim mesma, enquanto fechava os olhos. E, apesar do medo, eu sabia que precisava continuar. Não por ele, mas por mim.

E assim, com cada movimento, eu estava não apenas reconstruindo meu corpo, mas também tentando juntar os pedaços do meu coração. Um dia de cada vez, eu dizia a mim mesma. Mas, enquanto a sessão terminava e Luke me ajudava a me erguer, uma pergunta ecoava na minha mente: até onde eu estaria disposta a ir para proteger o que ainda restava de mim?

[...]

Duas semanas. Para alguns, pode parecer um período curto, mas para mim, foram dias intermináveis de redescoberta e luta. Acordar do coma foi como abrir os olhos para um mundo em que eu não pertencia mais. Tudo estava diferente, as paredes do hospital, os rostos das pessoas que me cercavam, até mesmo o meu próprio corpo. Eu era uma estranha em minha própria vida.

Nos primeiros dias, tudo parecia um borrão. Lembro-me de flashes de luz, vozes distantes e a sensação de flutuar entre o sonho e a realidade.

Passei dias cercada por médicos, enfermeiros e, claro, Luke. Ele se tornou uma âncora em meio à tempestade. A cada sessão de fisioterapia, ele me guiava com paciência e firmeza, como se soubesse que eu precisava de mais do que apenas cuidados físicos... eu precisava de esperança.

As primeiras tentativas de me mover foram dolorosas. Meu corpo estava fraco, como se eu estivesse tentando levantar um peso inimaginável. Mas Luke estava sempre lá, incentivando-me a não desistir. "Um passo de cada vez, Asa. Você vai conseguir", ele dizia, e essas palavras ecoavam em minha mente, mesmo nos momentos em que eu sentia que nunca conseguiria avançar.

Eu me lembro de um dia específico, quando consegui mover a perna pela primeira vez. A sensação de conquista foi avassaladora. Eu ri e chorei ao mesmo tempo, e Luke sorriu para mim com orgulho. Naquele momento, percebi que estava começando a recuperar não apenas a força do meu corpo, mas também uma parte de mim mesma que estava destroçada, meu coração estava voltando a bater forte por alguém... eu deveria me preocupar.

Agora, enquanto me preparava para deixar o hospital, sentia um misto de alívio e ansiedade. No dia seguinte, eu teria alta médica, e a ideia de continuar as sessões de fisioterapia em casa era ao mesmo tempo reconfortante e assustadora. O hospital se tornara uma espécie de refúgio, uma bolha segura onde eu poderia me concentrar na minha recuperação. Mas a vida fora dessas paredes era um mistério, e eu me perguntava como seria enfrentar o mundo novamente.

A enfermeira entrou no meu quarto, interrompendo meus pensamentos.

— Asa, você recebe alta amanhã. Está feliz? — diz ela, meu coração disparou no peito.

Eu estava pronta? Eu não tinha certeza. Havia ainda tantas dúvidas pairando em minha mente.

— Sim, eu estou. — respondi, tentando soar confiante. Mas a verdade é que estava apreensiva. O que aconteceria quando eu deixasse o hospital? E quanto às sessões de fisioterapia em casa? Eu teria a mesma determinação que tinha quando estava sob a supervisão de Luke?

Ainda por cima, eu veria Alma e, até possivelmente, Max. Eu ainda, infelizmente, sabia que não estava pronta.

Naquela última noite, enquanto tentava dormir, minha mente estava agitada. Pensei em tudo o que tinha passado. As memórias do coma, a dificuldade de reconhecer meu próprio corpo, a luta para me levantar. Mas também pensei em Luke e em como ele havia sido uma luz em meio à escuridão. Ele não apenas me ajudou fisicamente, mas também me mostrou que eu ainda era capaz de lutar, de vencer.

Fechei os olhos, fazendo uma promessa silenciosa a mim mesma: eu não deixaria que o medo me paralisasse. Eu enfrentaria cada desafio de frente, um dia de cada vez. Amanhã seria um novo começo, e eu estava determinada a transformar essa nova fase em uma jornada de autodescoberta e cura.

Quando finalmente adormeci, uma leve sensação de esperança me envolveu. Eu estava prestes a deixar o hospital, mas isso não significava que eu estava sozinha. Havia uma vida pela frente, e eu estava prestes a descobrir como seria viver novamente.

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