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3

Asa narrando:

O peso do silêncio foi rompido por um grito que reverberou pelas paredes do quarto.

— Saia! Eu não quero mais te ver! — exclamei, minha voz carregada de um mix de dor e raiva. A força em minhas palavras era uma revelação, um lado meu que nunca havia se manifestado antes. Fiquei paralisada, sabendo que esse era um momento crucial, uma ruptura que eu não poderia ignorar. Cada sílaba era como um eco de traição, e a rejeição cortou mais fundo do que qualquer adjetivo que eu pudesse descrever.

O ar no ambiente ficou pesado, e a agitação entre nós três aumentou. Minha mãe, sempre a pacificadora, tentava intervir, mas a tensão era palpável. Ela caminhou até nós, as mãos levantadas em um gesto de súplica.

— Calma, vocês duas! Por favor, vamos conversar com calma. Asa, você precisa se acalmar. Essa situação é muito difícil para todos nós. — ela disse, a voz uma mistura de preocupação e amor.

Mas eu não conseguia ouvir. Apenas a traição perfurava meu pensamento, e a sensação de que minha vida inteira estava sendo modificada diante de mim era quase insuportável. Olhei para Alma, a raiva fervilhando em mim como um vulcão prestes a entrar em erupção.

— Como você pôde fazer isso, Alma? Você me traiu da forma mais cruel possível! Meu namorado, a pessoa que deveria estar ao meu lado, e você se escolheu! — A última palavra saiu como um sopro de veneno, e eu sabia que não havia volta. — Você o chamava de nerd, zoava ele de várias maneiras possíveis.

— As coisas são diferente agora... Max mudou e ele agora é meu. Desculpa, mas aconteceu. — Alma estava chorando, as lágrimas em seu rosto misturavam-se com a raiva que deixava seus olhos tão claros.

— E eu? O que sou eu nessa história? Apenas uma espectadora da vida de vocês dois? — Eu explodi, a um passo de ceder a um impulso de ira que estava prestes a me consumir. — Você pode não ter planejado, mas não me diga que não sabia que isso poderia me destruir!

Nesse instante, minha mãe, em um gesto desesperado, começou a procurar a campainha que chamava as enfermeiras.

— Calma, Asa. Vou chamar uma enfermeira. Talvez você só precise de um pouco de ajuda para relaxar. Por favor. — Ela implorou, quase em um sussurro.

Mas as palavras da minha mãe eram muito distantes, perdidas na tempestade de emoções que me cercava. Mergulhei em um ciclo de fúria e dor, relembrando os momentos que eu pensava serem sagrados, agora manchados por uma traição que nem mesmo a realidade poderia apagar.

As enfermeiras chegaram rapidamente, e vi uma delas trazer uma seringa com um calmante. Era como se o mundo estivesse prestes a desaparecer em uma nuvem de névoa. Fui empurrada delicadamente para baixo, mas a resistência dentro de mim era teimosa.

— Não! Eu não quero isso! — gritei, tentando me afastar do que estava prestes a acontecer. Vidas estavam se desmoronando ao meu redor, e a ideia de sucumbir a um sono profundo, enquanto tudo isso acontecia, parecia errado.

— Se você não se acalmar, isso vai só piorar. — A enfermeira disse de forma calma, mas firme. Percebi que, em meio ao tumulto, a única coisa que eu realmente queria era a liberdade de sentir, mesmo que a dor fosse insuportável.

— Max... — murmurei, o nome escapando de meus lábios com um peso que quase não consegui suportar. O vazio que agora ocupa seu lugar em meu coração era insuportável.

Mas o veneno já estava correndo em minhas veias. O ambiente começou a girar, e a confusão me envolveu, como uma nuvem que cobria tudo. As vozes de Alma e da minha mãe distorciam-se em ecos desconhecidos. Cada palavra perdeu seu significado. Lutei para permanecer consciente, para resistir à escuridão que se aproximava, mas era como tentar segurar a areia entre os dedos.

— Eu... eu te amo, Asa. — a última coisa que ouvi, mas não sabia se era de Alma ou da minha mãe. E então a névoa se consolidou, consumindo minha consciência, e eu sucumbi em uma escuridão confortável, apenas para me livrar da dor que me consumia.

E, com isso, a última fração da minha realidade se desfez, deixando para trás apenas uma tristeza profunda e uma confusão que se desdobraria quando eu acordasse novamente.

[...]

Despertei com uma sensação estranha. A luz do quarto de hospital me cegava momentaneamente, forçando-me a piscar várias vezes até que minha visão se ajustasse. Minhas lembranças eram fragmentadas, como peças de um quebra-cabeça espalhadas por uma tempestade.

A enfermeira havia me dado calmamente, isso me fez apagar e por algum tempo, me fazendo esquecer o que eu estava passando. Não que isso importasse agora. Meu coração ainda pulsava descontrolado, a raiva e a dor se misturando em minhas veias. A notícia que recebi logo após acordar ainda ecoava na minha mente: minha irmã, minha própria irmã, estava grávida do meu namorado. Ex-namorado, corrigi mentalmente, sentindo um gosto amargo na boca.

Enquanto tentava processar tudo isso, a porta do quarto se abriu lentamente. Lá estava ele, parado como uma estátua. Seus olhos encontraram os meus e, por um momento, parecia que o tempo tinha congelado. Ele estava diferente. Não era mais o garoto nerd que eu lembrava, mas sim alguém irreconhecível. O corpo tatuado, os músculos que agora definiam sua figura, tudo nele gritava mudança.

— Então, é assim que você aparece depois de tudo? — Minha voz soou mais firme do que eu esperava, cortando o silêncio entre nós.

Ele hesitou, abrindo a boca como se fosse falar, mas eu não lhe dei essa chance.

— Você mudou tanto, não é? Do nerd tímido ao... isso. — Eu gesticulei vagamente, indicando sua nova aparência. — Interessante como as pessoas se transformam quando acham conveniente. Inclusive, traem os outros pelas costas. Como alguém consegue ficar com uma mulher que fazia bulling, que te zoava e, acima de tudo, irmã da mulher que ele jurava amar. E que no momento mais vulnerável dela, ele estava traindo ela da maneira mais nojenta e repugnante?

Ele deu um passo à frente, mas eu ergui a mão para interrompê-lo.

— Não, você não tem o direito de dizer nada. Você e minha irmã... Vocês se merecem.

A dor em seu olhar era palpável, mas eu não estava disposta a suavizar minhas palavras.

— Eu confiava em você. E enquanto eu estava aqui, lutando pela minha vida, você escolheu a pior traição possível.

Ele finalmente encontrou a voz, mas suas palavras eram frágeis, quase sussurradas.

— Asa, eu...

— Não! — cortei, minha raiva queimando qualquer tentativa de desculpas. — Eu não quero ouvir. Você pode ter mudado por fora, mas por dentro, você é o mesmo covarde.

O silêncio se instalou novamente, pesado e sufocante. Eu não sabia se ele tinha mais algo a dizer, mas naquele momento, não importava. Ele havia cruzado uma linha, e não havia retorno.

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