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Capítulo 3

CARLA

A ligação de Levi me deixou paralisada, não porque eu imaginasse que nunca mais o veria — mesmo que esse fosse meu desejo mais profundo desde o momento em que corri para fora da minha casa.

Não. Eu fiquei travada no portão da casa de minha mãe porque o som de sua voz ecoou em meus ouvidos, trazendo novamente suas acusações e aquela sensação de sufocamento que senti ao ter suas mãos em volta do meu pescoço.

Ver a foto dele trouxe sua voz, que despertou um ataque de pânico que eu não esperava.

— Ele… — tentei formar uma frase quando senti a mão contra minhas costas, mas nada além disso saiu de mim.

— Está tudo bem, ele não pode te tocar através do celular — John falou com uma certeza que me causou inveja, então arrancou o celular de minhas mãos, me livrando daquela cara medonha. — Ele nunca mais vai te tocar, teria que passar por mim primeiro.

Aquelas últimas palavras quase tiveram o poder de me fazer desabar. Eu me recostei contra seu toque e corpo, fechei os olhos e permiti que uma lágrima escorresse.

Não esperava que fosse estar chorando e me apoiando contra o homem que eu não queria por perto. Mas ouvi-lo dizer que Levi nunca mais iria me tocar mexeu comigo de uma forma que nem mesmo as ameaças do meu irmão, dizendo que o mataria, foram capazes de fazer.

— Nós temos que ir — pigarreei, tentando afastar a voz embargada. — Se ele está me ligando, pode já estar sabendo de algo, e não quero ter que vê-lo novamente. Não até a audiência de divórcio, pelo menos.

— Então está decidida a se divorciar dele?

— E o que mais eu faria depois de tudo? — rebati com outra pergunta, enquanto esperava que ele abrisse o carro e me deixasse entrar, já que queria bancar o meu chofer. — Nosso casamento já não estava bem. Segundo Alejandro e minha mãe, nunca deveríamos ter nos casado.

John abriu a porta, me deixando entrar como um cavalheiro, e então deu a volta rapidamente, indo para trás do volante. Mas eu pude ver em sua expressão que suas perguntas não haviam acabado.

— E o que você pensa disso? — ele perguntou como se não se importasse realmente com a resposta, concentrando os olhos nas ruas.

O que eu pensava sobre minha escolha em ter me casado com Levi? Não tinha a menor ideia do que estava sentindo naquele momento. Todas as minhas certezas, a minha confiança, meu mundo, tudo havia sido abalado naquela manhã.

A única coisa que me sobrara era a vontade de que deveria me afastar de Levi, mantê-lo longe de mim e de todos que eu amava!

— Está parecendo um interrogatório. Por que não me conta da sua vida? — joguei para ele novamente, tentando fugir de suas perguntas. — Já que meu irmão quer nos obrigar a conviver, nada mais justo que eu saiba sobre você.

John me deu um olhar de soslaio e voltou rapidamente para a rua. Ele não era como eu imaginava que um segurança particular seria. Sempre pensei que fossem mais velhos, taciturnos, com um ponto no ouvido, atentos a tudo. Mas John usava um blazer feito sob medida, com uma calça jeans e sapatos combinando, parecendo apenas um homem bem vestido para o dia a dia. O ponto alto da diferença com certeza era seu rosto — não havia como esconder que ele era novo, mesmo com a fina barba sobre o rosto.

— Não há muito para saber de mim. Já sou segurança há quatro anos. Comecei aos dezoito anos.

Com certeza havia muito mais para saber sobre ele. Começando pelo motivo de um homem bonito como ele, que poderia facilmente ter se tornado modelo com aquele rosto perfeito, bem marcado e o par de olhos azuis incríveis, ter preferido ser segurança.

Mas aquela era uma pergunta que eu nunca faria, pois jamais diria a ele o quanto era bonito.

— Você é um bebê, apenas vinte e dois anos — murmurei, tentando não encará-lo demais, e falhando completamente.

— Um ano mais novo que você. Acha que tenho cara de bebê? — John abriu um sorriso largo com a pergunta, fazendo uma covinha aparecer em sua bochecha.

Com toda a certeza, ele não parecia um bebê. Nem mesmo a covinha em sua bochecha o fazia parecer inocente como um.

Eu estava hipnotizada pela maneira como ele dirigia, as mãos se movendo em torno do volante, fazendo-as parecer ainda maiores e com as veias mais destacadas. Quando o carro começou a parar, eu me obriguei a desviar os olhos dele para o lado de fora, só para descobrir que estávamos em frente à minha casa.

— Como… como sabia onde ir? — o questionei, encarando a casa onde vivi até hoje, e depois o homem ao meu lado. — Alejandro não pode ter lhe falado em tão pouco tempo.

John abriu a porta e desceu do carro como se eu não tivesse dito nada. Eu o olhei, em descrença dar a volta e vir até o lado do passageiro, estendendo a mão para mim ao abrir a porta.

Não aceitei sua mão e não consegui desviar os olhos dele, enquanto esperava uma explicação para ter encontrado minha casa com tanta facilidade.

— Sempre que aceitamos um trabalho, devemos fazer uma pesquisa sobre a vida de quem vamos proteger. Família, trabalho, endereço, ficha médica... Coisas essenciais.

— Você investigou a minha vida? Eu não estou acreditando. Não pode ser! — bradei, já abrindo o portão e partindo para dentro de casa. — Quem lhe deu o direito de revirar a minha vida sem nem ao menos me conhecer?

Eu sentia a preocupação do que ele poderia ter descoberto atravessando meus pensamentos em uma velocidade absurda. Não tinha ideia do que ele já estava sabendo ou não.

Porém, John não parecia se importar com minhas perguntas. Apenas passou na minha frente, entrando em casa primeiro e começando a vasculhar o lugar.

— Não poderia saber para quem iria trabalhar sem levantar uma ficha — foi o que ele respondeu, sumindo no corredor enquanto eu me movia para a cozinha. — Isso também é para o bem da pessoa que vamos proteger. Assim podemos saber quais inimigos ela tem — e desconhece —, como qualquer problema de saúde.

— Então sabe que sou alérgica a avelã? Que pergunta a minha... já deve saber de tudo sobre a minha vida… — todas as provocações que eu tinha para fazer se perderam no momento em que vi minha bolsa no chão, junto com todos os meus croquis. Alguns estavam até sujos com o sangue dele, assim como a pequena tesoura esquecida no chão.

— Por que não vai até o quarto pegar suas roupas, e eu pego seus croquis? — John me pegou de surpresa, me fazendo notar, tarde demais, o quão perto ele estava.

— A tesoura foi a única coisa que encontrei para me defender — murmurei, mesmo que ele não tivesse me perguntado. — Talvez eu deva agradecer pelo tapa que me fez perder o equilíbrio e deixar minha bolsa cair no chão, ou não teria conseguido me livrar de suas mãos.

Ele se curvou, apanhando a tesoura, onde meus olhos estavam presos.

— Você o acertou com isso?

— Levi tinha as mãos em volta do meu pescoço, me mantendo contra o chão. Eu já estava ficando tonta quando meus dedos encontraram o metal frio e, sem pensar, enfiei em seu braço, conseguindo uma brecha e tempo para fugir — confidenciei a ele. Mas rapidamente pisquei os olhos, voltando a recolher meus papéis. — Pode deixar que eu mesma faço isso. Você pode ir buscar minhas roupas, já que está familiarizado com minha vida depois de me investigar.

Ouvi um pequeno riso, mesmo sem me virar para ele, e escutei seus passos se distanciando.

Não queria continuar pensando em Levi, e isso significava ter que sair daquela casa o mais rápido possível. Eu não queria deixar que as lembranças daquela manhã entrassem mais fundo dentro de mim e me assombrassem para o resto da vida.

Estava tão concentrada em encontrar os croquis que estivessem em bom estado, que demorei a perceber que estava sendo chamada.

— Já terminei. Suas malas estão prontas — ele disse, apontando para duas malas e uma pequena bolsa de viagem. — Não sabia se levaria todas as suas calcinhas e… brinquedinhos, mas coloquei todos na bolsa.

Abri e fechei a boca, sem conseguir acreditar no que ele havia acabado de falar. Não podia ser... John não podia estar falando sério.

— Você fez o quê?

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