
Resumo
John nunca acreditou que o amor era para alguém quebrado como ele. Mas sua vida muda de ponta cabeça, quando ele tem que protegê-la. Carla fontes, a latina de sangue quente, não desiste fácil do que quer e ela deseja seu guarda-costas tanto quanto ele a deseja. A atração era mais forte do que poderiam resistir, pareciam ter sido feitos um para o outro. Até que John desaparece, a abandonando grávida e partindo seu coração. Quase dois anos depois, ele surge em sua porta, decidido a lutar por aqueles que ama. John teria que enfrentar seus próprios demônios para conseguir seu perdão, enquanto Carla tenta decidir se vale a pena lhe dar uma nova chance e colocá-lo na vida do filho.
Prólogo
JOHN
— Você não pode fazer isso, seu garoto ingrato! — ouvi o grito de Miranda enquanto eu descia as escadas de casa, apressado. — Não pode virar as costas para essa família!
Eu ri, em deboche, ao ouvir as palavras dela. Família... ela não tinha noção do que aquela palavra significava. Nenhum de nós, dentro daquela casa, sabia.
— Família é algo que nunca fomos, Miranda — falei, me virando para encará-la, enquanto ela descia as escadas apressada atrás de mim. — Podemos compartilhar o mesmo sangue, e isso é algo que eu nunca pude escolher. Do contrário, jamais teria nascido!
Coloquei o pé para fora de casa, ansioso para me ver livre daquela megera, longe daquela casa e daquela família amaldiçoada. Mas meus passos vacilaram quando avistei William, recostado contra uma das colunas que ladeavam a entrada de casa.
Os braços cruzados, ombros tensos e o olhar vago... com toda certeza, meu irmão tinha escutado os meus gritos com nossa mãe.
— Então vai mesmo embora, John? — foi tudo o que ele perguntou, e eu agradeci por isso. Não suportaria ouvir, outra vez, seus pedidos para que eu ficasse naquele inferno.
— Sim. E você deveria fazer o mesmo — respondi, sentindo meu peito se apertar ao vê-lo trincar o maxilar. Me aproximei dele. — Will, você poderia fazer tanto longe daqui, longe do nome da nossa família. Deveria ter ido embora há muitos anos, e eu te agradeço por ter ficado por mim. Mas agora não precisa mais, nós dois podemos dar o fora daqui.
Se ao menos eu conseguisse convencê-lo de que não precisávamos do nome ou do dinheiro da nossa família... se eu conseguisse fazê-lo ver que podíamos ser o que quiséssemos, longe dali... ainda ficaríamos juntos. Seríamos nós dois contra tudo, novamente.
— E contar para o mundo o que aconteceu com vocês dois? — a voz dela ressoou às minhas costas, fazendo todo o meu corpo se endurecer, enquanto meu irmão olhava por sobre meu ombro. — Você sempre quis destruir essa família. É isso o que planeja fazer, arrastando seu irmão com você?
— Se eu pudesse, colocaria fogo nessa casa com você dentro dela, apenas para apagar cada uma das minhas lembranças desse lugar. Então, acredite, mamãe, que a última coisa que eu quero é falar de você para alguém — respirei fundo, dando uma última olhada para Will, apenas para ver, em seu olhar, o pedido de desculpas que ele sempre carregava. Como se quisesse me dizer que não poderia ir comigo. — Você tem sorte de William ser tão certinho. Do contrário, estaria debaixo da terra. Adeus, irmão.
Eu o olhei nos olhos por mais um longo segundo antes de me afastar dele e descer os degraus da entrada correndo, sem olhar para aquela mulher novamente.
— Adeus, irmão! — ouvi ele gritar antes que eu apressasse meus passos pelo caminho de cascalho que me levaria para longe daquele lugar.
Assim que me vi fora dos portões da mansão, eu me permiti respirar fundo várias vezes, como se quisesse me livrar do ar tóxico daquela casa.
Eu jamais iria entender por que William não tinha ido embora quando teve a chance, enquanto eu sonhava com o dia em que faria dezoito anos e poderia ir para qualquer lugar do mundo, longe do lugar onde cresci. Mas ele já tinha vinte e um, e mesmo que eu suspeitasse que ele havia ficado por minha causa, hoje ficou provado que não era o caso.
Diferente de mim, Will era o apaziguador. Era calmo e centrado, conseguia ser frio e manipular os próprios sentimentos para agradar as pessoas à sua volta. Já eu não conseguia ser assim. Sentia a necessidade de dizer o que pensava, e um desejo ainda maior por coisas destrutivas.
E foi assim que eu fui direto para o bar do outro lado da cidade. Um bairro onde alguém nascido como eu jamais colocaria os pés, mas que, estranhamente, havia se tornado um refúgio nos últimos meses.
— De novo por aqui, garoto — Jack, o segurança, falou na porta, mas, como todas as outras vezes, não tentou me barrar. — Não vai arrumar confusão e me fazer te levar para o hospital no meio da noite.
Aquela era uma promessa que eu não poderia cumprir. Havia ido até ali justamente para isso. Agora eu finalmente poderia lutar de verdade, e não apenas provocar algum dos caras para arranjar uma briga.
— Hoje vou ter minha primeira luta de verdade, Jack — respondi, recebendo um olhar desconfiado enquanto ele movia a bunda para abrir a porta.
— Que Deus te ajude.
O cheiro de cigarro e cerveja barata invadiu minhas narinas quando entrei no bar escuro, de aparência duvidosa e com pessoas ainda mais duvidosas. Mas ao menos ali ninguém sabia quem eu realmente era. Não havia tratamento diferente por eu ser um Grant. Ninguém sabia das merdas da minha vida e, de bônus, eu podia socar algumas caras e beber sem ser questionado.
— Olha só quem voltou! — Daniel exclamou de trás do balcão quando me viu me aproximar, e foi logo colocando uma cerveja na minha frente. — Não se cansou de apanhar? Porque, se for isso, posso te dar uns socos eu mesmo.
— Me coloque na luta, Daniel — fui direto ao ponto enquanto pegava a cerveja e a levava à boca.
— O que acabou de dizer?
— Você entendeu perfeitamente. Eu quero entrar naquele ringue essa noite. Então coloque meu nome na lista.
Ele semicerrou os olhos, se aproximando de mim como se quisesse ter certeza sobre isso. Mas eu não podia estar mais certo sobre o que queria. Aquele era o meu presente de aniversário. Eu finalmente tinha idade para subir no ringue e brigar com algum dos brutamontes.
— Tem certeza, garoto? Esses homens não estão brincando, e ninguém vai se responsabilizar pelo que acontecer com você quando estiverem lutando — ele tentou me alertar, usando um tom que eu nunca tinha escutado antes.
— Só coloque meu nome. Eu me preocupo com o resto.
Esperei ansioso até que meu nome fosse anunciado e eu entrasse no ringue como o último vencedor. Depois de derrotar três oponentes, era de se esperar que o homem estivesse cansado, mas, a cada vez que seu punho acertava meu rosto, eu sentia todo o meu corpo oscilar para frente e para trás.
Minhas mãos doíam e, apesar da pequena camada de fita enrolada entre meus dedos, já podia ver o sangue marcando. Só não sabia ao certo se era do estrago que eu havia feito em seu rosto ou se era pelos nós dos dedos cortados.
— Reage, garoto! — ouvi Daniel gritar, e me inflamei com o incentivo, indo contra o homem que parecia uma montanha.
Meus punhos o acertaram duas vezes, em um golpe seguido e perfeito. Mas, antes que eu acertasse o terceiro, um soco atingiu minhas costelas esquerdas, me roubando o ar.
Eu tentei acertar novamente, mesmo que meu corpo gritasse para que eu buscasse por ar. Mas meu olho foi golpeado com força, me fazendo ver estrelas e ser jogado contra as cordas.
Uma repetição de golpes foi deferida em minhas costelas, e todos ao meu redor gritaram. Alguns me chamavam, enquanto a maioria ovacionava o homem que estava prestes a derrotar seu quarto oponente da noite.
Senti meu corpo oscilar para frente e para trás quando o homem se afastou. Mas, ao invés de dar a luta por encerrada, eu avancei em sua direção, acertando um soco e levando outro na altura do queixo.
O gosto metálico invadiu minha boca, mas isso não era uma novidade para mim. Não me incomodava mais tanto assim.
— Desiste, garoto — o lutador falou, me olhando tentar acertar um soco nele, quando tudo o que ele precisava fazer era dar um passo para trás.
— Só quando me derrubar, porra! — gritei, avançando e acertando mais duas vezes suas bochechas, de maneira desengonçada, mas conseguindo meu objetivo.
Mas, antes que eu fosse rápido o bastante, um soco acertou meu nariz, me jogando para trás no tatame.
Eu tentei me levantar, me apoiar nas mãos sujas de sangue, mas meu corpo havia desistido de me obedecer e apenas ficou lá, imóvel no chão, enquanto ele comemorava mais uma vitória.
— Você lutou bem, garoto — Daniel disse, tentando animar meu espírito, enquanto eu limpava o sangue do meu rosto com um pedaço de pano que ele havia atirado para mim. — Quem sabe na próxima.
A verdade é que, mesmo tendo perdido, eu estava feliz por ter finalmente lutado naquele ringue. Me bastava saber que havia conseguido acertar vários golpes sem ninguém entrando e tentando me impedir.
— Seria mais vantajoso que não tivesse uma próxima vez — um homem tatuado, com cabelos pretos e uma regata ridícula, se sentou ao meu lado, me analisando de cima a baixo. — Você tem potencial.
— Obrigado — resmunguei, tentando decifrar o que diabos ele queria comigo. Naquele lugar não costumava ter pervertidos, mas eu também nunca tinha visto aquele cara.
— Mas é um desperdício vir aqui só para descarregar a raiva — ele bateu na mesa, e Daniel colocou duas cervejas na nossa frente. — Por que não se junta à Cerberus?
— Escuta, cara, não estou a fim de entrar pra nenhuma porra de seita.
— Que bom, porque isso não é uma seita e sim uma empresa de segurança — o homem explicou, empurrando um cartãozinho contra a cerveja. — Suas habilidades e, especialmente, sua raiva podem ser usadas de forma útil. E você ainda vai ganhar dinheiro.
Eu peguei o cartãozinho preto com a palavra Cerberus escrita de branco, enquanto, em vermelho, estava o desenho em relevo de um cão com três cabeças — o famoso cão que cuidava dos portões do inferno.
Olhei de volta para o homem, o analisando. Ele era intimidante, mas seu olhar e sorriso não o deixavam assim — apenas o corpo grande e tatuado. A última coisa que queria era me envolver com pessoas malucas, mas eu precisava de um emprego, e talvez, nesse lugar, eu aprenderia a usar armas e a lutar como queria.
— Por que eu entraria para sua empresa esquisita?
— John Grant — meu corpo todo entrou em alerta e meu coração disparou quando ouvi meu nome completo. — Um riquinho mimado, filho de uma senadora famosa, herdeiro de uma quarta geração. O único motivo para um garoto como você se enfiar em um bar de malucos e bárbaros toda semana, me diz que sua vida é um verdadeiro inferno, e você quer apenas fugir da sua realidade.
Engoli em seco, vendo que o homem havia acabado de descrever perfeitamente quem eu era e o que acontecia comigo.
— Como sabe tudo isso sobre mim? E como estava me vigiando todo esse tempo sem que eu ao menos te visse?
— Você vai aprender isso e muito mais na Cerberus. Como nocautear seus oponentes, por exemplo — ele falou e estendeu a mão na minha direção. Encarei a palma estendida entre nossos corpos.
Aquilo era uma proposta boa para quem não tinha mais nada na vida além da dor.
— Com uma condição: nunca mais me chame de Grant — respondi, vendo sua sobrancelha esquerda se erguer. — De agora em diante, meu nome é John Reynolds.
O homem apertou minha mão e sorriu largo, quase como se soubesse de algo que eu ainda não tinha ideia. Então voltou a empurrar a cerveja para mim.
— Bem-vindo, Reynolds. Eu sou Cris Miller, seu mentor.
