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Capítulo 2

JOHN

— O senhor tem certeza sobre isso? — questionei Patrick, que parecia mais focado nos filhos brincando no chão do que no que estava me pedindo. — Não me sinto confortável em deixá-los. Eu sou o chefe da segurança, deveríamos enviar qualquer outro homem.

Aquela ideia de me mandar para a casa de Alejandro não me parecia certa. Eu era o chefe ali, quem dava as ordens aos seguranças e mantinha tudo funcionando.

Claro que todos os homens ali sabiam bem seu trabalho. Eu os tinha treinado da mesma forma que Cris me treinou, mas era diferente ser o cabeça que mantinha tudo em ordem.

— Poderíamos, mas Alejandro te conhece e confia em você — ele murmurou depois de um longo tempo, e então se levantou, indo se sentar junto dos filhos.

— Ele está desesperado, então vai acreditar na nossa palavra quando dissermos que qualquer outro dos meus homens é tão confiável e capaz quanto eu. Posso ir até lá e fazer as apresentações, garantir isso a ele.

Depois de tudo o que aconteceu naquela família, eu não me sentia nem um pouco animado em sair de perto deles. Foram meses de terror para Patrick e Sophie. Se algo acontecesse enquanto eu estivesse longe, não me perdoaria.

— É algo temporário, John — Sophie apareceu, com a voz doce e calma, segurando as mamadeiras dos gêmeos. — Pelo que eu entendi, é até que o marido da irmã seja preso.

— Preso? — questionei, confuso, olhando para o meu amigo bancando o pai babão, de volta para sua esposa em busca de uma resposta.

— Patrick não te contou? — Eu neguei com a cabeça e ela bufou. — Meu Deus, a irmã de Alejandro foi espancada pelo marido, e Ale está com a perna quebrada. Não pode protegê-la nesse momento.

Engoli em seco com a imagem do que Sophie acabara de descrever se formando em minha mente.

Se havia uma coisa que eu odiava nessa vida eram homens que, ao invés de proteger, se aproveitavam dos mais fracos e indefesos. Meu coração bateu mais forte enquanto eu contorcia os lábios, tentando manter meus próprios demônios presos no fundo da minha mente.

Desde o dia em que Cris me recrutou para a Cerberus, eu aprendi que poderia usar todo o meu ódio e revolta para ajudar as pessoas. Enquanto meu irmão crescia na política, tentando causar uma mudança nesse mundo podre, eu fazia o mesmo com meus punhos.

Saber daquilo me fez decidir ir de uma vez por todas. Eu poderia continuar dando ordens aos meus homens de longe e monitorar o que acontecia na casa. Meus amigos estavam em boas mãos, mas aquela garota precisava de proteção.

— Onde ela está?

Meia hora depois, eu estava esperando em frente ao hospital onde Alejandro havia me avisado que estariam, enquanto lia tudo o que havia conseguido levantar sobre Carla Fontes.

Ela era mais nova do que eu esperava — vinte e três anos — e já tinha se casado com um policial filho da puta. Torci para que uma garota esperta como ela estivesse pronta para largar o desgraçado e não perdoá-lo como muitas faziam.

Não precisei que ninguém me dissesse que ela era determinada e esperta. Bastou ler todas as informações que reuni, e soube que Carla era muito sagaz. Seus esforços para criar a própria empresa e se dedicar dia e noite ao mercado da moda provavam isso.

Ergui minha cabeça no instante em que vi as duas mulheres saindo do hospital. A loira era Magie — eu a conhecia por ser próxima a Sophie — e então havia a baixinha de cabelos pretos que chegavam até o meio das costas, a pele levemente bronzeada, o corpo envolto em um vestido azul-claro, com sapatilhas que combinavam.

As duas estavam tão distraídas, conversando e rindo, que nem ao menos perceberam a minha presença.

— Magie! — chamei alto, finalmente atraindo a atenção das duas mulheres.

Ao menos era bom ver que Carla estava tendo alguma distração. Magie também havia passado por algo parecido com o ex, poderia ajudar Carla nesse momento difícil.

— John? O que está fazendo aqui? — a loira me questionou, parecendo confusa, e isso me fez perceber que Alejandro não havia avisado sobre a minha presença ali.

As duas me observaram enquanto me aproximava, os olhos descaradamente me analisando, mas aproveitei para fazer o mesmo com a garota que estava sob a minha proteção.

Seus machucados estavam visíveis e arroxeados. O olho esquerdo estava inchado e quase se fechando, enquanto o lado direito tinha uma marca roxa que, com toda certeza, havia sido feita por um punho. Mas nada se comparava ao pescoço dela, com as marcas dos dedos desenhadas em sua pele, quase como se fossem tatuagens de tão nítidas que estavam.

O desejo de ver o sangue do verme escorrendo me encheu, mas apenas levei os braços às costas, apertando os punhos para controlar os pensamentos assassinos, antes de sorrir.

— Patrick me mandou. Vou cuidar da escolta de vocês duas hoje — respondi, soando amigável e polido, agindo como aprendi desde criança: mascarar meus sentimentos.

— Você o quê?

— Quem é você? — foram as primeiras palavras de Carla direcionadas a mim, enquanto seus olhos iam de cima a baixo, me analisando cautelosamente.

— Sou John Reynolds. Vou acompanhar vocês duas até em casa e me certificar da segurança da senhorita Carla de hoje em diante.

— O quê? Como assim? Eu nem te conheço! — ela bradou, colocando as mãos na cintura e crispando os olhos em minha direção, sem se importar com os próprios machucados.

Eu já havia lidado com esse tipo de problema: pessoas que não queriam seguranças como suas sombras até que realmente estivessem em perigo. Isso não mesmo me afetava mais. Anos na Cerberus me fizeram tolerante.

— Você vai ter toda a explicação assim que chegar em casa — Magie disse, tentando acalmar a fera de um metro e meio. — O irmão protetor ataca novamente.

— Ele não pode fazer isso! — Carla exclamou, batendo o pequeno pé no chão, como se fosse uma criança mimada.

Eu quis rir. Tanta teimosia em um corpo tão pequeno, mas a situação era séria demais para isso.

— Seu irmão está machucado e se sentindo mais do que impotente nesse momento — Magie falou mais uma vez, tentando trazer juízo à cabeça da outra, e eu me perguntei se ela teria gostado de ter um Alejandro para mantê-la segura no meio do inferno pelo qual passou. — Ele sente a necessidade de proteger vocês todas, e com a perna assim não vai conseguir. Então dê um desconto a ele, que só está querendo o seu bem.

— Você o defende agora porque não é com você! — Carla retrucou, irredutível, me dando vontade de curvá-la sobre o capô do carro e lhe dar umas palmadas para que deixasse de teimosia.

— Não estou defendendo-o. Estou lembrando o quão importante é o que ele está fazendo por você — eu quis gritar em comemoração por uma delas ao menos ter bom senso. — Algumas pessoas não têm essa mesma sorte!

Magie deu a volta e entrou no carro, parecendo um tanto melancólica — e eu até poderia imaginar o motivo. Mas Carla permaneceu do lado de fora por mais alguns segundos, me encarando como se eu fosse uma pedra em seu sapato que ela precisava remover.

Entrei no meu carro e saí logo atrás delas. Isso iria mudar em breve. Andaríamos juntos no mesmo carro, mas, por ora, deixaria que ela aproveitasse os últimos momentos de liberdade até que falasse com o irmão e eu assumisse sua proteção oficialmente.

Por sorte, o caminho até a casa de Alejandro não demorou. Mesmo assim, Carla mal esperou que Magie estacionasse o carro para pular fora dele, se apressando a entrar em casa — sem deixar de me lançar um olhar mortal.

Mal sabia ela que eu estava sorrindo por dentro, querendo dizer o quão boba era por estar com raiva de ter um segurança. Existiam coisas muito piores na vida do que ter alguém do seu lado vinte e quatro horas por dia para garantir seu bem-estar.

A segui, observando desde a entrada da casa até o quarto do irmão, analisando todos os pontos vulneráveis da propriedade e o que precisaria ser feito para melhorar a segurança.

— E então, como foi? — ouvi Alejandro gritar assim que alcancei o último degrau da escada, enquanto Carla já corria pelo corredor.

— Quem é esse homem que está me seguindo o tempo todo? — ela perguntou, colocando as mãos na cintura, parecendo um pequeno touro ranzinza.

Parei logo atrás dela, passando os olhos rapidamente pelo quarto, gravando tudo o que havia ali, mas meu olhar insistia em seu voltar para ela.

— Oi, John. Muito obrigado por ter vindo — voltei meus olhos para Alejandro, observando a perna engessada antes de dar um passo à frente, estendendo a mão para ele.

Normalmente, não faria algo tão formal assim, mas ele ainda não estava na minha lista de amigos próximos, mesmo que fôssemos todos gratos por ele ter ajudado Sophie.

— É um prazer poder ajudar.

— Eu não preciso de ajuda! — ela gritou ao meu lado, semicerrando o olho bom em minha direção. — Não quero ninguém atrás de mim, me seguindo como uma sombra.

— Tarde demais, querida. Assim que seu marido souber da queixa, vai querer ir atrás de você por vingança ou querendo tê-la de volta — Alejandro disse, repetindo exatamente o que pensei ao saber da história completa. — Então, para sua segurança, John vai garantir que o filho da puta não tenha chance de te causar mais mal do que já causou.

Ela bufou, soltando os braços, antes de sair batendo os pés contra a madeira, rebolando a bunda arrebitada. Mas, dessa vez, eu não fui atrás dela. Tinha outros assuntos para discutir com seu irmão.

— É normal reagir assim, logo ela vai se acalmar. Trabalhei por dois anos na empresa de Cris antes de pedir demissão e ir trabalhar exclusivamente para Patrick. Sei bem como são essas coisas.

— É bom saber disso. É bom saber que minha irmã está em boas mãos.

— Agora me conte mais sobre Carla e esse relacionamento deles — pedi, sabendo que precisava de toda informação pessoal, que não encontraria em nenhum lugar além de com alguém próximo.

Saber como o relacionamento dos dois começou e qual era o comportamento do ex-marido, quanto ele era bem visto por todos, era essencial para eu ter certeza de qual terreno estava pisando.

— Preciso pegar minhas coisas. Não consegui trazer nada quando fugi — Carla apareceu no quarto, avisando, sem nem ao menos se dignar a me olhar. — E tem que ser agora. Quero aproveitar enquanto Levi está no trabalho, porque assim que for suspenso, ele com certeza vai colocar fogo em tudo que for meu.

— Vamos no meu carro. Eu dirijo — respondi, apontando o caminho do corredor para ela, que travou um instante, me encarando como se quisesse arrancar minha cabeça.

— Ótimo! Se quer bancar o empregado, vai carregar todas as minhas coisas! — ela afirmou, passando por mim com a mesma fúria de antes.

Respirei fundo para me controlar — e só me dei conta do meu erro quando senti o perfume adocicado dela invadir minhas narinas, bagunçando meus sentidos.

— Será um prazer, senhorita.

Mas, assim que alcançou o portão, ela estancou no lugar ouvindo o celular tocar. Os ombros ganharam uma tensão que não estava ali nem mesmo com toda a raiva que estava sentindo por ter sua liberdade roubada. O corpo todo pareceu oscilar para frente e para trás. Então eu a segurei, colocando minhas mãos cuidadosamente no centro de suas costas, torcendo para que ela não estivesse machucada ali também.

— Ele... — ouvi um sussurro escapar de sua boca, e olhei por cima de seu ombro, vendo a foto do desgraçado preencher a tela enquanto o nome piscava em uma chamada.

Ela estava sem a armadura naquele momento. Não era mais a mulher durona cheia de raiva, mas sim uma mulher assustada a ponto de tremer apenas por ver uma foto através do telefone.

— Está tudo bem. Ele não pode te tocar através do celular — tentei garantir a ela, já pegando o aparelho de sua mão e colocando no meu bolso. — Ele nunca mais vai te tocar. Teria que passar por mim primeiro.

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