Capítulo 3
— Pensei que você queria parar. Você prometeu — murmurou meu amigo atrás de mim. Eu me virei e vi seu grande sorriso enquanto ele deixava uma caixa de cerveja sobre o balcão. Ele rapidamente a guardou em um armário próximo.
— É a primeira que fumo hoje. É preciso reconhecer que estou progredindo. —
Ele conteve uma risada. — Eu acredito, eu acredito. — Respondeu ironicamente antes de colocar um copo de água, uma aspirina e um cinzeiro sobre a madeira escura e brilhante do balcão. Com o dedo indicador, ele me pediu para apagar o cigarro. Dei mais duas tragadas longas sob seu olhar ameaçador, percebendo o quanto ele me conhecia bem. Finalmente, apaguei-o.
— Você sabe que é dramático, não é? — resmunguei, engolindo o analgésico para a dor de cabeça. Em seguida, segui-o para dentro do depósito. Como sempre, tudo estava em ordem e limpo. Olhei para as diferentes prateleiras e, enquanto ele me informava sobre tudo, pensei em como ele fazia bem seu trabalho. — Você merece um aumento — interrompi, fazendo-o perder o fio da meada. Ele me olhou confuso.
— Como assim? —
— Você merece um aumento. — Reiterei. — Este lugar entraria em colapso se você não estivesse aqui. Eu admiro você, você faz tudo com muita paixão.
— Não precisa de nada. Se quisesse, você também poderia fazer. —
— Não, você faz melhor. —
Ele sorriu. — Fico feliz que o grande chefe aprecie meu empenho. —
Eu concordei, seguindo suas palavras. — Bom amigo, obrigado. Agora vá para o balcão enquanto eu termino algumas ligações. — Ordenei, tirando meu celular do bolso da minha calça jeans preta. Ouvi o som de seus passos se afastando cada vez mais de mim enquanto verificava a agenda de contatos para encontrar o nome do fornecedor.
— Que merda! — soltei quando o nome de Nikki apareceu na tela.
“Você sabe que odeio quando você me liga, não é?” — repreendi-a, mas ouvi seu sorriso do outro lado da linha.
“Mas você adora quando eu chupo seu pau.” — Ela respondeu sem rodeios e, sinceramente, não estava mentindo. “E você adora quando eu empurro até o fundo da minha garganta. Estou errada, talvez?”
Recuperei o juízo após algumas breves lembranças da noite anterior. “O que você queria? Rápido, porque estou ocupado.”
“Do que você está falando? Você nunca está ocupado.” — respondeu ele rindo. — “De qualquer forma, só queria avisar que não vou trabalhar hoje à tarde. Já falei com a Brenda e, se não for problema para você, ela vai me substituir.”
“Não, tudo bem, e talvez a gente feche por causa das enchentes.” Eu disse como se ela se importasse muito. “Vou avisar a Brenda se ela vai ou não. Tchau.”
Desliguei antes que ela pudesse responder. Não estava com disposição para ouvir as bobagens de Nikki. Eu gostava simplesmente de transar com ela, sem compromisso nem explicações. Não tinha tempo nem vontade de ser namorado.
Voltei ao que estava fazendo e liguei para todas as empresas fornecedoras, esclarecendo como agiríamos diante da situação de mau tempo. Enquanto isso, aproveitei a ausência de Cooper para fumar outro cigarro em paz. Na primeira hora, pensei em voltar ao clube para dar uma olhada e informar os rapazes sobre como iríamos proceder. Fechei a porta do depósito e dei uma olhada nas diferentes mesas. Meus olhos se fixaram em uma em particular, e quase parecia que o tempo desacelerou, até parar completamente, quando ela desviou seus olhos castanhos de Jorge, que provavelmente estava incomodando-a com suas teorias sobre o serial killer de Oak Beach... sobre mim.
Franzi a testa. Nunca a tinha visto antes. Ela nem parecia uma garota local ou uma garota com quem eu teria saído. Ela era diferente. Tão ingênua e simples que foi impossível não ficar hipnotizado e fascinado por ela, a ponto de até esquecer meu próprio nome.
— Henry? A Terra chama Henry! Você está aqui? —
Ah, sim, meu nome... Henry. A voz de Cooper me tirou dos meus pensamentos, mas foi quando bati com o pé em um dos bancos que recuperei completamente a consciência.
— Merda! — Reprimi um grito de dor, evitando desajeitadamente que a cadeira caísse. Coloquei-a de volta no lugar, ouvindo as risadas do grupo de crianças no fundo da sala.
— E quem é essa? — perguntei a Cooper, que deu de ombros depois de olhar para ela.
— Não sei, ela entrou há dez minutos com o Jorge. —
— Ligue para ele! — sussurrei para Cooper, que franziu a testa, sem entender o motivo. — Vamos, diga-lhe para vir aqui agora! — insisti, incomodando-o até que ele ligasse. Enquanto isso, eu me perguntava o que diabos alguém como ela estava fazendo naquele lugar e como ela tinha conseguido passar despercebida todo esse tempo.
— O que é? — perguntou Jorge, apoiando-se no balcão enquanto seu cabelo ficava crespo devido à umidade.
— Onde você a rebocou? — perguntei com indiferença para evitar chamar muita atenção, embora não tenha conseguido muito, pois imediatamente um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.
— Eu sei onde você quer chegar com isso, mas não, pessoas como ela nunca vão te dar, amigo. Pode ter certeza! — Ele bateu no meu ombro algumas vezes, como se fosse me consolar, enquanto eu o olhava irritado, afastando sua mão áspera.
— Naquela época? Onde você a conheceu? — Rapidamente me virei para observá-la sem ser pego. Ela tinha um perfil tão perfeito e delicado, assim como sua postura serena e elegante. — Você sabe o nome dela?
— Não, não perguntei. Ela estava aqui fora, encharcada... — disse ele. — Tive pena dela naquele estado, então a convidei para entrar. — acrescentou. — Fiz algo errado?
De forma alguma, pensei, olhando novamente para a garota que estava ocupada arrumando a franja molhada. Provavelmente ele não lhe deu descanso. Como ela estava concentrada em outra coisa, tive a oportunidade de observá-la melhor. Ela não era muito alta e era bastante magra para o meu gosto, mas mesmo assim eu não teria reclamado. Ela tinha cabelos longos, cor de chocolate escuro, e vestia um vestido branco curto, com alças finas, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Ela combinou com uma jaqueta jeans leve e um par de tênis Vans pretos. Fiquei surpreso ao olhar para ela, apesar de desta vez ter sustentado seu olhar penetrante. Ela desviou rapidamente, fingindo dar uma olhada no lugar.
— Pessoas como ela partem corações. — Cooper falou atrás de mim, como se tivesse lido minha mente, querendo me dar um conselho. Não ouvi, pois voltei minha atenção para meu amigo.
— É mesmo? Eu devoro-os como ela nos brunchs de domingo. — Respondi, piscando-lhe o olho. — Olha e aprende, gordo! — Bati no peito de Jorge, fazendo-o queixar-se enquanto ordenava a Cooper que me passasse uma cerveja.
— Ou você pode ser abstêmia. — disse Cooper, passando uma lata de Coca-Cola e um canudo. — Esta é melhor.
Caminhei até a mesa daquela garota e sentei-me em frente a ela, depois entreguei-lhe o refrigerante.
— Por conta da casa. —
Suas bochechas ficaram vermelhas instantaneamente e um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Apoiei os cotovelos na mesa e me acomodei.
— Obrigada — respondeu ela, deixando-me perplexo ao sentir em primeira mão a sua vergonha. Sorri divertido com a sua reação e abri a lata, colocando o canudo dentro.
— Você está perdida ou procurando alguém? — Fui direto ao ponto, fixando meus olhos em seu rosto, até que eles se deslocaram para o peito dela. Vi-a engolir quando acariciei com o olhar sua boca carnuda e vermelha. Fiquei maravilhado por ela nem usar maquiagem e, apesar dos olhos cansados e do cabelo despenteado, era realmente linda em sua simplicidade.
