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Capítulo 4

— Pensei que você queria parar. Você prometeu. — murmurou meu amigo atrás de mim. Eu me virei e o vi sorrindo amplamente enquanto deixava sobre o balcão uma caixa de cerveja que havia tirado do depósito e rapidamente guardava.

— É o primeiro que fumo hoje. É preciso reconhecer que estou progredindo. —

Ele mal conseguiu conter o riso. — Eu acredito, eu acredito. — acrescentou ironicamente, colocando um copo de água, uma aspirina e um cinzeiro sobre a madeira escura e brilhante. Ele me bateu suavemente com o dedo indicador, pedindo que eu apagasse o cigarro. Dei mais algumas tragadas longas sob seu olhar ameaçador, sabendo o quanto ele me conhecia, e finalmente apaguei.

— Você sabe que é dramático, não é? — resmunguei, engolindo o analgésico para aliviar a dor de cabeça, depois segui-o para dentro do depósito. Como sempre, tudo estava em ordem e limpo. Olhei para as diferentes prateleiras enquanto ele me informava sobre o inventário, pensando em como ele fazia bem seu trabalho. — Você merece um aumento. — Interrompi seu discurso, fazendo-o perder o fio da meada. Ele me olhou confuso.

— Como assim?

— Você merece um aumento. — Repeti. — Este lugar entraria em colapso se você não estivesse aqui. Eu admiro você, você faz tudo com muita paixão.

— Não precisa. Se você quisesse, também poderia fazer. —

— Não, você faz melhor.

Ele sorriu. — Fico feliz que o grande chefe aprecie meu compromisso. —

Eu concordei, seguindo suas palavras. — Bom amigo, obrigado. Agora vá para o balcão enquanto eu termino algumas ligações. — Ordenei, tirando meu celular do bolso da minha calça jeans preta. Ouvi seus passos se afastando enquanto revisava a agenda para encontrar o nome do fornecedor. — Que merda! — Soltei, ao ver o nome de Nikki na tela.

“Você sabe que odeio quando você me liga, não é?” — Repreendi-a, mas ouvi-a sorrir do outro lado.

“Mas você adora quando eu chupo seu pau.” — Ela respondeu sem rodeios e, sinceramente, não estava mentindo. “E você adora quando eu empurro até o fundo da minha garganta. Estou errada, talvez?”

Recuperei o juízo após algumas breves lembranças da noite anterior. “O que você queria? Rápido, porque estou ocupado.”

“Do que você está falando? Você nunca está ocupado.” — ela respondeu rindo. — “De qualquer forma, só queria avisar que não vou trabalhar esta tarde. Já falei com Brenda e, se não for problema para você, ela vai me substituir.”

“Não, tudo bem, e talvez a gente feche por causa das enchentes.” Eu disse como se ela se importasse muito. “Vou avisar a Brenda se ela vai ou não. Tchau.”

Desliguei antes que ela pudesse responder. Não estava com disposição para ouvir Nikki e suas bobagens. Gostava simplesmente de transar com ela, sem compromisso nem explicações. Não tinha tempo nem vontade de ser namorado.

Voltei ao que estava fazendo e liguei para as empresas fornecedoras, uma por uma, esclarecendo como agiríamos diante da situação do mau tempo. Enquanto isso, aproveitei a ausência de Cooper para fumar outro cigarro em paz. Na primeira hora, pensei em voltar ao clube para dar uma olhada e informar os rapazes sobre como iríamos proceder. Fechei a porta do depósito e, enquanto verificava as mesas, meus olhos se fixaram em uma em particular. O tempo pareceu desacelerar, e parei completamente quando ela também desviou o olhar de Jorge, que provavelmente estava incomodando-a com suas teorias sobre o serial killer de Oak Beach... sobre mim.

Franzi a testa. Nunca a tinha visto antes e ela não parecia ser uma garota local ou alguém com quem eu já tivesse saído. Ela era diferente. Tão ingênua e simples que foi impossível não ficar hipnotizado e fascinado por ela, a ponto de até esquecer meu próprio nome.

— Henry? A Terra está chamando Henry! Você está aqui?

Ah, claro, meu nome... Henry. A voz de Cooper me tirou do transe, mas foi quando bati com o pé em um dos bancos que recuperei a consciência.

— Merda! — Reprimi um grito de dor, evitando desajeitadamente que a cadeira caísse no chão. Ouvi risadas ao fundo, vindas do grupo de crianças na sala. — E quem é essa? — Perguntei a Cooper, que encolheu os ombros, olhando para a garota.

— Não sei, ela entrou há dez minutos com o Jorge. —

— Chame-o! — sussurrei para Cooper, que franziu a testa, sem entender por quê. — Vamos, cumprimente-a e diga para ela vir aqui agora! — insisti, incomodando-o até que ele o fez, enquanto eu me perguntava o que diabos alguém assim estava fazendo neste lugar e como ela tinha passado despercebida todo esse tempo.

— O que foi? — Jorge perguntou, apoiando-se no balcão enquanto percebia que seu cabelo estava crespo devido à umidade.

— Onde você a encontrou? — perguntei, tentando manter a calma, embora minha curiosidade me consumisse por dentro. Observei a garota enquanto ela parecia concentrada em arrumar a franja molhada, sem perceber que também estava me observando.

— Não sei, mas parece que ela está incomodada com alguma coisa — disse Jorge. — Tive pena dela naquele estado, então a convidei para entrar.

Olhei para Cooper, pensando em como fazer perguntas sem parecer que me importava.

— Você sabe o nome dela? — perguntei, esperando que ele soubesse mais do que eu.

— Não, não perguntei — disse Jorge, batendo no queixo, pensativo. — Mas sei onde ela está hospedada.

Não pergunte. Repeti mentalmente, mas sem sucesso. Cooper não queria ouvir falar nisso.

— Ele disse alguma coisa... bem... alguma coisa sobre mim? — perguntei, enquanto observava sua imagem lamentável de porco.

— Sim, você parece um espantalho.

Cooper soltou uma gargalhada. — Mais alguma coisa que não tenha a ver com o Jorge? —

Eu concordei, pensando nas palavras da garota. — Que ele se lembraria do nome dela por muito tempo.

— Parece uma ameaça. — Exclamou meu garçom, divertido. — Gosto disso, tem coragem.

— Parem de dizer bobagens e avisem a todos que o lugar estará fechado neste fim de semana. — Acendi um cigarro, estressado, antes de passar o maço para Jorge, que imediatamente tirou um e me agradeceu. Exalei um pouco de fumaça enquanto meu olhar se perdia entre as garrafas de álcool atrás do bar.

O que aquela garota queria de mim?

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