Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 9

— Você está preocupado com alguma coisa, Allesio? — perguntei em voz baixa, mas firme. Queria que ele falasse. Tínhamos um acordo, ele e eu; confiava na sinceridade dele.

Ele hesitou por um momento, olhando fixamente para Francesca, que voltara a se concentrar nos brinquedos, cantarolando uma melodia. Finalmente, falou em voz baixa, para que só eu pudesse ouvir.

— Continuo sem confiar nela — disse com voz tensa. — Nicol. Toda essa história da babá... não me convence.

Franzi a testa, voltando toda a minha atenção para ele. — Ela tem sido muito boa com a Francesca. Você mesmo viu.

— Não é essa a questão — respondeu ele, balançando a cabeça. — Não se trata de como ela trata a Francesca. Trata-se dos motivos dela. Ela apareceu no hospital do nada e se aproximou da sua filha em questão de dias. É conveniente demais.

— Você está sugerindo que ela tem algum plano oculto? — perguntei, mantendo um tom sereno, embora sentisse que minha paciência estava se esgotando. — Ela nos procurou por uma necessidade genuína: seu irmão estava no hospital e ela precisava de trabalho.

— Mas ela aceitou suas condições com muita facilidade — disse Allesio, endurecendo a expressão. — Ou ela é muito esperta ou está jogando a longo prazo.

Exalei, olhando para Francesca, que agora estava concentrada em um pequeno quebra-cabeça, encaixando as peças com seus dedinhos com uma concentração feroz. Eu não queria acreditar que Nicol pudesse ser outra coisa senão sincera, especialmente depois de ter feito tanto por Francesca. Mas as palavras de Allesio já haviam semeado a dúvida em mim.

—Allesio —disse em voz baixa, com um tom de advertência—. Você sabe que confio no seu julgamento, mas às vezes sua cautela beira a paranóia. Nicol tem sido muito gentil com Francesca. Até termos provas concretas de más intenções, não vou agir apenas com base em suspeitas.

Ele manteve o olhar fixo em mim, com uma expressão firme. — É disso que estou falando, Alaric. Você está deixando ela se aproximar demais. Ela já se tornou indispensável, e agora Francesca a chama de “mãe”. E se você descobrir que ela tem mentido para nós?

Apertei a mandíbula e desviei o olhar, frustrada. Não queria considerar a possibilidade de que Nicol estivesse escondendo algo, não quando Francesca tinha se afeiçoado tanto a ela. Mas Allesio sempre fora cauteloso por um motivo. Ele era uma das poucas pessoas em quem eu confiava plenamente, e suas palavras eram muito importantes.

— Vou ficar de olho nela — disse finalmente em voz baixa. — Mas enquanto não houver motivos para duvidar da lealdade dela, ela fica.

Allesio assentiu, embora eu percebesse que ele não estava totalmente convencido. Ele observou Francesca, e seu olhar suavizou um pouco ao vê-la brincar com seu quebra-cabeça. Dava para perceber que ele se importava com ela, à sua maneira, embora não demonstrasse isso tão abertamente quanto eu.

—Ela merece estabilidade —disse ele em voz baixa, quase para si mesmo—. Só espero que Nicol não a perturbe.

Olhei novamente para Francesca, que agora nos observava com seus olhos brilhantes e curiosos. Ela não tinha ideia da conversa que estávamos tendo. Para ela, Nicol era simplesmente a mulher que cuidava dela, que a fazia rir e a abraçava quando precisava de consolo. E, por enquanto, isso era o suficiente.

— Francesca — chamei suavemente, abaixando-me ao lado dela. Ela ergueu os olhos e um sorriso iluminou seu rosto enquanto largava o quebra-cabeça para chegar até mim.

—Sim, papai? — ela perguntou com a voz cheia de entusiasmo inocente.

Peguei suas mãozinhas entre as minhas e sorri para ela. —Você sabe que eu te amo muito, não é? —

Ela assentiu, com um olhar sério enquanto me olhava. —Sim, papai. Eu também te amo. E a mamãe também.

Engoli em seco e olhei para Allesio, que nos observava com cautela. Eu sabia que ele queria que eu a corrigisse, que dissesse que Nicol não era sua mãe, mas não ousei. Francesca precisava de alguém que ocupasse esse lugar, mesmo que fosse apenas em seu coração. E se Nicol podia devolver-lhe um pouco do amor que ela havia perdido, quem era eu para tirar isso dela?

Lá estava eu, tentando equilibrar a felicidade da minha filha com os riscos de abrir nossas vidas para alguém novo. Mas, ao olhar para Francesca, com suas mãozinhas agarradas às minhas, não consegui fazer isso. Partir o coração dela.

— Tudo bem, querida — eu disse suavemente, puxando-a para mim para abraçá-la com ternura. — Vamos terminar esse quebra-cabeça, está bem?

Ela sorriu radiante, esquecendo suas preocupações enquanto voltava ao seu jogo. Olhei para Allesio, que simplesmente balançou a cabeça e desviou o olhar como se não tivesse mais nada a me dizer.

O ponto de vista de Nicol.

Eu andava de um lado para o outro fora da sala de cirurgia, com o estômago revirado e as mãos apertadas como se a força do meu aperto pudesse canalizar todos os meus medos e esperanças pela cirurgia de Matteo. As horas pareciam eternas, cada minuto se prolongava dolorosamente, como se o próprio tempo estivesse me punindo. Eu tinha feito tudo o que podia, mas essa era a parte mais agonizante. Agora não podia fazer mais nada além de esperar.

—Por favor, que ele esteja bem —sussurrei, fechando os olhos com força, tentando acalmar o pânico que invadia meu peito. Minha mente repassava cada lembrança que tinha de Matteo, desde seu riso contagiante até sua teimosia em não deixar a vida destruí-lo. Ele merecia uma chance. Uma chance de viver, de se libertar dessa dor. Eu não conseguia imaginar uma vida sem ele.

O corredor estava silencioso, exceto pelos passos ocasionais das enfermeiras e pelo suave bip das máquinas nos quartos próximos. Observava cada figura que passava, esperando que fosse um médico vindo me dar notícias, mas todas as vezes elas passavam por mim sem olhar duas vezes. Aquela espera era uma tortura.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, as portas da sala de cirurgia se abriram e o cirurgião apareceu. Fiquei paralisada, com o coração batendo forte enquanto o observava, procurando alguma pista em seu rosto.

—Senhorita Nicol? —disse ele com voz firme e tranquila.

—Sim —consegui dizer, com a voz quase um sussurro. Minha garganta estava fechada e eu mal conseguia respirar—. É ele... ?

O rosto do médico suavizou-se e ele acenou com a cabeça. — A cirurgia foi um sucesso. Matteo está estável.

Por um segundo, não entendi suas palavras. Fiquei ali, olhando para ele, processando o que ele acabara de dizer.

— Ele está... estável? — repeti com a voz embargada.

—Sim. Ele saiu bem da cirurgia —me tranquilizou o médico—. Ainda há tempo de recuperação, claro, mas tudo parece bem.

O alívio me atingiu como um maremoto, me derrubando com tanta força que minhas pernas fraquejaram. Afundei na cadeira atrás de mim, levando as mãos ao rosto enquanto as lágrimas brotavam, incontroláveis e cruas. Eu nem tinha percebido o quanto estava assustada, o quanto me agarrei aos meus medos, até agora.

— Obrigada — sussurrei, embora minhas palavras fossem abafadas pelas lágrimas. — Muito obrigada.

O médico sorriu gentilmente e deu-me uma palmadinha suave no ombro. —Você é um jovem forte. Com os cuidados e o descanso adequados, deve recuperar-se bem.

Acenei com a cabeça, incapaz de articular uma palavra enquanto ele se afastava, deixando-me sozinho com minhas emoções. Enterrei o rosto entre as mãos, deixando as lágrimas correrem livremente. Eu me sentia oprimido, sufocado pelo alívio, gratidão e exaustão.

Quando finalmente me recuperei, sequei o rosto, respirei trêmula e me levantei. Em breve, Matteo seria transferido para uma sala de recuperação, e eu queria estar lá quando ele acordasse. Precisava ver seus olhos abertos, ouvir sua voz, saber que ele estava bem.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.