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Capítulo 10

Não demorou muito para que as enfermeiras o levassem para um quarto privado, com o rosto sereno e a respiração tranquila. Aproximei uma cadeira da cama dele e sentei-me, estendendo a mão para segurar a dele. Sua pele estava quente, seu pulso firme sob meus dedos. Pela primeira vez em dias, senti que finalmente podia respirar.

— Ei, Matteo — sussurrei, embora soubesse que ele não podia me ouvir. Você conseguiu, tá? Tudo vai ficar bem.

Fiquei ali sentado, observando-o, esperando qualquer sinal de que ele acordasse. Ele respirava devagar e tinha o rosto relaxado, como se estivesse simplesmente dormindo após um longo dia. Apertei sua mão suavemente, desejando que ele abrisse os olhos, mesmo que fosse apenas por um instante.

As horas passavam e o quarto do hospital ficou em silêncio. Lá fora, o céu começou a escurecer. Perdi a noção do tempo, toda a minha atenção estava consumida pelo movimento rítmico do peito de Matteo e pelo suave bip do monitor ao seu lado.

Quando comecei a adormecer, ouvi uma batida suave na porta e levantei os olhos para ver dois dos homens de Alaric em pé na porta, com expressões inexpressivas e profissionais.

—Senhorita Nicol —disse um deles com voz educada, mas firme—. É hora de voltar para casa.

Pisquei, confusa. —Já? Mas ele nem acordou ainda. Eu só... preciso de um pouco mais de tempo.

O rosto do homem suavizou-se um pouco, embora sua expressão permanecesse firme. —Eu entendo, senhorita Nicol, mas as ordens do senhor Castillo foram específicas. Precisamos escoltá-la de volta agora.

Suspirei, com o coração apertado. Eu conhecia as regras de Alaric, seus limites. E entendia que ele sabia como garantir que fossem cumpridas. Mas deixar Matteo parecia uma traição. Olhei para ele, para o movimento tranquilo de seu peito subindo e descendo. Odiava a ideia de deixá-lo, de não estar lá quando ele acordasse. Mas sabia que discutir não levaria a lugar nenhum.

—Tudo bem —disse finalmente, com a voz pouco mais que um sussurro. Levantei-me da cadeira, deixando minha mão sobre a de Matteo por mais um instante—. Mas você pode dizer a ele... quando ele acordar... você pode dizer que eu voltarei?

Um dos homens acenou brevemente com a cabeça. — Transmitiremos a mensagem.

Dei uma última olhada para Matteo, memorizando as linhas de seu rosto, o suave subir e descer de seu peito. — Aguenta firme, irmãozinho — sussurrei —. Te vejo em breve.

Com o coração pesado, deixei que os homens de Alaric me levassem para fora do quarto. A caminhada pelos corredores do hospital pareceu-me eterna; eu arrastava os pés a cada passo. Queria dar meia-volta, correr para o lado de Matteo e esperar por ele, mas sabia que isso não era uma opção. Agora não.

Ao chegar à entrada, fui atingido pelo frio da noite e tremi, abraçando-me. O carro me esperava, escuro e elegante, estacionado bem na calçada. Um dos homens abriu a porta e eu entrei; os assentos de couro estavam frios. Olhei para o hospital quando a porta se fechou, com o coração dolorido ao pensar em deixar Matteo para trás.

O ponto de vista de Alaric

Ao entrar no escritório naquela manhã, eu já estava de mau humor. O acordo com a família Morales mal havia sobrevivido à noite, graças a um dos meus homens que cometeu o tipo de erro que eu não podia deixar passar. Tudo o que eu havia construído dependia de lealdade, precisão e controle. Erros como o dele não eram apenas erros; eram fraquezas.

Agora ele estava sentado à minha frente, tremendo visivelmente enquanto esperava minha resposta. Andei de um lado para o outro atrás da mesa, mantendo a voz calma apesar da raiva que pulsava dentro de mim.

“Explique-me como foi possível você perder algo tão crucial como os detalhes da entrega”, perguntei em voz baixa, mas firme.

— Sinto muito, Sr. Castillo — gaguejou ele. — Não vai acontecer novamente.

Parei de andar de um lado para o outro e olhei para ele com frieza. — Você está certo, não vai acontecer. —

Tirei minha arma, vendo seus olhos se arregalarem de medo, mas ele não tentou fugir. Ele sabia que não era assim. No meu mundo, não havia lugar para segundas chances quando havia traição ou negligência. Apertei o gatilho, um único tiro, e ele desapareceu. Sem gritos. Sem bagunça. Apenas... silêncio. Fiz um sinal para um dos meus guardas retirar o corpo.

— Limpe isso — ordenei, minimizando friamente o desastre que havia criado e as consequências de seu erro. De uma forma ou de outra, as pessoas aprenderiam que minha confiança não era algo que se pudesse desperdiçar.

Passei o resto do dia cuidando dos negócios, apagando incêndios, garantindo que tudo funcionasse perfeitamente após o caos da manhã. Quando terminei, me sentia exausto, mais do que gostaria de admitir. Depois de me certificar de que o dia havia terminado, fui para casa.

Quando cheguei, a mansão estava silenciosa. Mas ao entrar na sala de estar, ouvi uma melodia suave que se espalhava pelo corredor. Parei para ouvir. Era a voz de Nicol, suave e tranquilizadora. O tipo de som que me era estranho em minha casa: uma mistura estranha de suavidade e calma. Segui o som até chegar ao quarto de Francesca.

Parado ao lado da porta, vi Nicol sentada ao lado de Francesca, cantando suavemente enquanto os olhos da minha filha piscavam, mergulhando lentamente no sono. A cena me pegou de surpresa e, por um instante, eu simplesmente fiquei observando, incapaz de desviar o olhar. O rosto de Nicol estava caloroso, com um sorriso tranquilo nos lábios, como se conhecesse minha filha há muito tempo. Os dedinhos de Francesca envolviam a mão de Nicol, segurando-a com uma força surpreendente, mesmo enquanto adormecia.

Nicol ergueu os olhos e me viu ali parado. Ele me dedicou um sorriso que não era forçado nem cauteloso, mas genuíno, como se estivesse simplesmente feliz em me ver. —Senhor Castillo —sussurrou ele, tomando cuidado para não acordar Francesca—. Obrigado por tudo que você fez pela cirurgia do Matteo. Não tenho palavras para expressar o que isso significa para mim.

Inclinei a cabeça, aceitando sua gratidão com um aceno. Mantive uma expressão neutra, embora sentisse algo incomum, talvez uma sensação de satisfação. —Tudo bem? —perguntei, mantendo a calma.

Seu rosto se iluminou. —Sim. O médico disse que foi um sucesso. Matteo continua descansando, mas tudo correu bem.

O alívio em sua voz era palpável, quase contagiante. Por um breve instante, permiti-me sentir um pouco de orgulho. Eu tinha o poder de mudar vidas, de criar ou destruir futuros com uma simples decisão. Hoje, eu tinha escolhido ajudar. Mas assim que a ideia me ocorreu, eu a afastei. Nicol estava grata — compreensivelmente —, mas eu me lembrei que era uma transação, nada mais. Ela estava ali para cuidar de Francesca, não para trocar sentimentos.

— Fico feliz em ouvir isso — disse, voltando meu olhar para Francesca, que já estava completamente adormecida. Nicol parecia querer continuar a conversa, abrindo a boca como se fosse dizer mais alguma coisa, mas a interrompi antes que pudesse.

— É tudo por hoje — disse em voz baixa, afastando-me da porta. Ela parecia um pouco desconcertada, mas acenou rapidamente com a cabeça, compreendendo meu tom. Eu não estava ali para conversar sem importância, nem para criar laços que acabariam por complicar a relação que eu havia traçado entre nós.

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