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Capítulo 8

Quem quer que estivesse falando deve ter respondido, mas não consegui entender a resposta. Sua voz se calou por alguns segundos, mas então ouvi um suspiro que soou muito frustrado e exausto. Ele murmurou algo baixinho que não consegui entender.

Francesca, provavelmente percebendo que eu estava absorta nos assuntos do pai, subiu no meu colo e se aconchegou contra mim, agarrando minha camisa com os dedinhos como se buscasse conforto. Eu a abracei com força, com a atenção dividida entre ela e a voz que se ouvia no corredor. Já conhecia Alaric o suficiente para saber quando ele estava irritado, mas isso era algo mais... um novo nível de irritação que nunca tinha experimentado antes.

— Então faça — disse ele bruscamente, num tom que não admitia réplica. — Ou vou garantir que alguém que possa fazer isso substitua você. Fui claro?

O silêncio que se seguiu foi tenso, parecendo interminável antes que seus passos soassem e começassem a se aproximar. Francesca me olhou com um olhar inocente e inquisitivo, mas eu lhe dei um pequeno sorriso, acariciando suas costas como para assegurar que estava tudo bem.

Alguns momentos depois, Alaric apareceu na porta, com uma expressão de calma cuidadosamente controlada, embora eu pudesse ver os restos de sua frustração na tensão de sua mandíbula. Ele fez uma pausa, seu olhar oscilando entre Francesca e eu, como se estivesse avaliando a cena diante dele.

— Nicol — disse ele, seu tom suavizando, embora ainda houvesse um certo tom cortante. — Peço desculpas se o incomodei.

Neguei com a cabeça, mudando Francesca de posição nos meus braços. —Não, tudo bem. Estávamos aqui, brincando —respondi, tentando manter a voz relaxada.

Ele assentiu, soltando um suspiro enquanto entrava no quarto. —Queria que você soubesse... —Ele fez uma pausa, seu olhar se voltou para Francesca antes de voltar para mim, baixando um pouco a voz—. Consegui que você visite seu irmão amanhã. A cirurgia dele está marcada para essa data.

Meu coração parou, uma mistura de surpresa e gratidão me inundou instantaneamente. Por um instante, não consegui encontrar as palavras; minha mente lutava para processar o que ele acabara de dizer. Eu não esperava que ele fizesse isso, não tão cedo, especialmente depois da nossa discussão de ontem. Mas lá estava ele, oferecendo-me a oportunidade de estar ao lado do meu irmão quando mais importava.

— Obrigada — consegui dizer, com a voz quase um sussurro ao levantar os olhos. — Obrigada, Alaric. Isso significa mais do que você imagina.

Ele assentiu levemente, com uma expressão indecifrável enquanto me observava. — Falei sério, Nicol. Não faço as coisas pela metade. Se digo que vou cuidar de algo, vou cuidar.

Mantive o olhar fixo nele, deixando suas palavras invadirem-me. Queria dizer mais, expressar minha gratidão, mas fiquei sem palavras. Minhas emoções estavam muito confusas e mal conseguia organizá-las.

Ele limpou a garganta, quebrando o silêncio. —Vou pedir ao Allesio para te levar ao hospital. Você terá todo o tempo que precisar.

Eu assenti, engolindo o nó que se formou na minha garganta. —Eu... eu realmente não sei como te agradecer —disse com a voz carregada de emoção—. Nunca pensei que teria a oportunidade de estar lá para ele.

O olhar de Alaric suavizou-se e um lampejo de algo parecido com compreensão cruzou seu rosto. —A família é importante —disse ele em voz baixa. —Eu entendo —acrescentou, com os olhos fixos na filha.

— Francesca ficará bem enquanto você estiver fora — acrescentou, voltando a olhar para a filha, que já havia adormecido em meus braços, com o peito subindo e descendo constantemente. — Vou garantir que tudo seja resolvido.

Acenei com a cabeça, um pequeno sorriso se formou em meus lábios enquanto olhava para Francesca, sua respiração suave era o único som que quebrava o silêncio. —Obrigado —disse novamente, minha voz pouco mais que um sussurro. —Por tudo.

Alaric me observou por mais um momento antes de acenar brevemente com a cabeça, com uma expressão indecifrável. — Descanse um pouco, Nicol. Você vai precisar para amanhã.

Dito isso, ele se virou e saiu do quarto, deixando-me sozinha com Francesca. Eu a abracei com força, com a mente acelerada enquanto tentava processar tudo o que tinha acabado de acontecer.

O ponto de vista de Alaric.

Ao observar Francesca, não pude ignorar a mudança que havia ocorrido nela nos últimos dias. Desde que Nicol chegou às nossas vidas, minha filha havia começado a sorrir mais, e sua risada ecoava por toda a casa de uma forma que eu não ouvia há muito tempo. Ela estava mais animada, mais alegre, e só isso já me fazia sentir menos estressado. Era como se um peso tivesse sido tirado de cima de mim.

Como Nicol estava hoje no hospital, acompanhando a cirurgia do irmão, decidi tirar o dia de folga para passar com Francesca. O trabalho podia esperar por uma vez. Minha filha precisava de mim e eu queria lhe dar algo autêntico, algo além do meu eu frequentemente ocupado e distraído. Além disso, não era frequente vê-la tão feliz. Ela merecia, mesmo que fosse apenas por um dia.

Passamos a manhã na sala de jogos, rodeados por seus brinquedos favoritos. Francesca tinha uma coleção impressionante, graças às minhas tentativas de mantê-la entretida na minha ausência, mas nada parecia alegrá-la tanto quanto a simples companhia. Hoje, Allesio se juntou a nós; seu rosto, normalmente sério, suavizou-se quando Francesca insistiu que ele se sentasse ao seu lado, tirando os brinquedos com entusiasmo para ele.

—Olha, tio Al —disse ela, colocando um ursinho de pelúcia nos braços dele. Suas risadas encheram a sala, e não pude deixar de sorrir ao vê-la. Era raro ver Allesio relaxado com ela, mas hoje ele parecia mais tranquilo, agradando-a enquanto ela colocava brinquedos em suas mãos.

—Ela é uma força da natureza, não é? —comentei, vendo Francesca subir no colo de Allesio, pedindo que ele a ajudasse a empilhar uma torre de blocos.

—Mais do que você imagina — respondeu Allesio com uma risadinha, tentando acompanhá-la—. Ela é implacável. Não acredito que essa coisinha tenha tanta energia.

A risada de Francesca soou novamente, e ela olhou para mim, seu rosto iluminado de pura alegria. — Pai, nos ajude! —

Aproximei-me, sentei-me ao lado dela e trabalhámos juntas para construir a sua torre mais alta. Ela estava radiante, as suas mãozinhas procuravam blocos. E então, emocionada, exclamou: “A mamã ia adorar isto!”.

Meu corpo ficou tenso por um momento, surpreso. Não era a primeira vez que a ouvia chamar Nicol de “mamãe”. Ela continuava fazendo isso desde que Nicol voltou naquele dia e, embora no início eu não tivesse dado importância, parecia estar acontecendo com mais frequência. Olhei para Allesio, que parecia claramente incomodado, com a mandíbula ligeiramente apertada.

— Francesca — eu disse com doçura, acariciando seus cachos macios com a mão. — Por que você chama Nicol de “mãe”?

Francesca olhou para mim piscando, com uma inocência cativante. —Porque... ela é boa comigo. Ela me ama —disse ela simplesmente, como se isso explicasse tudo—. E ela me olha como uma mãe.

Suas palavras me comoviram. Eu me senti culpada. Muito culpada. Ela nunca conhecera sua mãe, mas parecia natural para ela buscar esse tipo de amor e conexão. Nicol trouxera um calor ao nosso lar que Francesca percebera claramente e, com sua natureza infantil, associara à maternidade.

Mas um olhar para Allesio me indicou que ele não compartilhava do meu sentimento. Ele apertou os lábios em uma linha fina e evitou meu olhar. Deixei escapar um suspiro, intuindo que ele tinha mais em mente do que deixava transparecer.

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