Capítulo 6
Assim que Alaric entrou na sala, sua presença me oprimiu, obscurecendo meus sentidos, e eu soube que era apenas uma questão de tempo antes que eu perdesse a razão e me tornasse desajeitada ao lado dele. Era estranho estar grata e cautelosa ao lado dele, como estar diante de uma tempestade: linda de longe, mas perigosa de perto. Ele estava de pé na minha frente, com um pequeno sorriso de satisfação nos lábios, e quando falou, suas palavras me paralisaram.
— Já cuidei das contas do seu irmão — disse ele com naturalidade, como se não tivesse acabado de lançar uma tábua de salvação para a pessoa que eu mais amava no mundo.
Por um segundo, não consegui falar. Fiquei com um nó na garganta, o coração batia forte e só conseguia pensar que Matteo estava a salvo; que Alaric, apesar de ser o homem frio e impenetrável que era, tinha cumprido sua palavra. Senti lágrimas nos olhos e cobri a boca com a mão, tentando me recompor.
— Obrigada, Alaric. De verdade, eu... — Minha voz falhou e eu baixei o olhar, subitamente oprimida por tudo: alívio, gratidão e a sensação de que talvez, apenas talvez, as coisas pudessem melhorar. Não consegui conter o sorriso que se formou em meu rosto, um sorriso genuíno e incomum que eu não sentia há meses. — Muito obrigada. Acho que você não tem ideia do que isso significa para mim.
No início, ele não respondeu. Apenas me olhou com aquela mesma expressão indecifrável, com um lampejo de algo — seria diversão? — nos olhos. Esperei, quase esperando que ele me dissesse que era tudo uma piada, que havia uma armadilha.
Mas ele não fez isso. Simplesmente ficou ali, observando-me em silêncio enquanto eu me deixava levar pelas emoções, como se ele as absorvesse, armazenando-as.
Finalmente, respirei fundo para me acalmar, preparando-me para o meu próximo pedido: — Gostaria de ir vê-lo agora, se você concordar.
A mudança no comportamento de Alaric foi quase imediata. Sua postura relaxada endureceu, sua mandíbula ficou tensa e ele cruzou os braços sobre o peito como se tivesse acabado de cruzar uma linha invisível. —Não.
Meu sorriso desapareceu. — Como assim, não? Ele é meu irmão. Só quero vê-lo.
— Ele tem um trabalho a fazer aqui — disse ele em tom severo. — A presença dele é necessária. Além disso, o pessoal do hospital é mais do que capaz de cuidar dele.
Senti uma onda de frustração. — Ele não é apenas um paciente, Alaric. Ele é minha família.
— Pode ser verdade — respondeu ele com voz fria e firme. — Mas agora você trabalha para mim. Seu tempo pertence a Francesca, e ela precisa de você aqui.
Apertei os punhos, reprimindo a vontade de gritar. Como ele podia ser tão frio, tão indiferente ao que isso significava para mim? Eu só queria algumas horas, simplesmente sentar ao lado de Matteo, para ver por mim mesma que ele estava bem. Mas era como falar com uma parede. Alaric não me via como uma irmã desesperada para estar com sua família; ele me via como uma funcionária, uma ferramenta para ser usada e mantida em seu lugar.
Respirei lenta e profundamente, tentando manter a voz firme. — Eu voltarei. Dê-me apenas uma hora, é tudo o que peço. Nem preciso do dia inteiro...
— Não — repetiu ele, interrompendo-me abruptamente. Seu olhar fixou-se no meu, frio e cortante. — Você aceitou isso, Nicol. Sabia no que estava se metendo.
—E eu que pensava que isso significava que ainda poderia ver minha família —repliquei, incapaz de conter a ironia das minhas palavras. Olhei para ele com os olhos semicerrados. Era como se estivesse falando com uma pedra—. Não sou uma prisioneira, Alaric. Você não pode controlar cada minuto da minha vida.
O olhar de Alaric escureceu, seus lábios se apertaram em uma linha fina. Eu sabia que estava tentando a sorte, mas não conseguia evitar. A frustração crescia, alimentada pela crueldade que ele demonstrava por mim. Como ele podia ser tão impiedoso? Ele pode ter pago as contas de Matteo, mas isso não lhe dava o direito de me manter longe dele.
— Você se esquece de si mesmo — disse ele em voz perigosamente baixa. — Eu cumpri o que prometi. Estou cumprindo minha parte do acordo. E você vai cumprir a sua.
Engoli em seco, forçando-me a não me afastar dele tanto quanto queria. Este não era um homem acostumado a ouvir a palavra “não”. E, no entanto, eu não podia recuar. Não nisto.
—Tudo bem —disse com a voz carregada de raiva contida—. Mas não foi isso que combinamos. Você pode me manter aqui hoje, mas eu vou vê-lo. Você não pode afastá-lo de mim.
A expressão de Alaric mudou, um lampejo de algo ilegível cruzou seu rosto antes de se fechar novamente. — Esta conversa acabou, Nicol.
Dito isso, ele se virou e foi embora, deixando-me sozinha na sala silenciosa, com minha frustração e impotência. Eu queria gritar, quebrar alguma coisa, mas sabia que isso não mudaria nada. Alaric tinha tudo a ganhar, e ele sabia disso. O único poder que me restava era minha própria teimosia, a certeza de que não desistiria de Matteo, acontecesse o que acontecesse.
Mas enquanto estava ali, respirando com dificuldade e contendo as lágrimas, não pude deixar de me perguntar se seria forte o suficiente para continuar lutando contra ele. Se já havia traçado esse limite, se estava disposta a me afastar do meu irmão agora, o que mais tentaria controlar? Por quanto tempo tentaria ficar longe da família dele? Até onde estenderia o poder dele?
E quanto me custaria lutar com ele?
Passei as mãos pelo cabelo, deixando as lágrimas finalmente caírem pelas minhas bochechas. Tudo isso era culpa minha. Eu não deveria ter aceitado isso desde o início. Sentia que tinha me vendido ao diabo.
O ponto de vista de Alaric
Entrei em casa, franzindo a testa ao ver como estava silenciosa. Isso me deixou muito inquieto. Normalmente, ao cruzar a porta, a risada de Francesca ecoava pelo corredor, e eu via Nicol correndo atrás dela, com um pequeno sorriso teimoso sempre nos lábios. Mas naquela noite, tudo estava tão silencioso, quase como se algo estivesse errado.
Pendurei meu casaco ao lado da porta e olhei ao redor, quase esperando que Nicol aparecesse, carregando Francesca nos braços ou talvez acompanhando-a até a cama. Mas, em vez disso, quando as encontrei, Nicol mal levantou os olhos. Ela estava sentada com Francesca no sofá, escovando seus cabelos prateados com uma delicadeza que contrastava com a rigidez de seus ombros.
—Pai! —gritou Francesca, mas não se levantou do sofá, permanecendo quieta enquanto Nicol continuava a escovar seu cabelo. Sorri para ela em resposta.
—Boa noite —disse eu, mantendo a voz firme enquanto me aproximava. Nicol não respondeu. Pelo menos não imediatamente.
Ela acenou com a cabeça, com o olhar fixo no pincel que tinha nas mãos. Só levantou os olhos brevemente, o suficiente para me reconhecer, antes de voltar a concentrar-se na minha filha. —Como foi o teu dia, Francesca? —perguntou em voz baixa, como se eu não estivesse lá.
Não pude ignorar a mudança no seu tom de voz. Era reservado. Era como se lhe tivessem erguido uma parede da noite para o dia. Como uma barreira que não se tinha dado ao trabalho de esconder. Era subtil, mas eu notei. Ela estava a virar-me as costas, e eu não era estranho a esse tipo de comportamento. Já tinha visto isso vezes suficientes para saber quando alguém tentava deliberadamente distanciar-se. Mas era a primeira vez que a via assim.
