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Capítulo 5

Deixei escapar uma risada. Era estranho sentir diversão simplesmente observando-os. A maior parte do meu dia era repleta de números, disputas territoriais ou o tipo de tarefas que mantinham minha organização funcionando perfeitamente. Mas, naquele momento, a cena diante de mim parecia saída de um conto de fadas: Nicol, a garota que ousara fazer um acordo com um chefão da máfia, sentada no chão como uma princesa improvisada, entretendo minha filha com uma sinceridade que quase me fez esquecer como havíamos chegado ali.

Mas eu não podia baixar a guarda. Ainda não. Nicol estava ali sob minhas condições — em grande parte, pelo menos — e eu precisava saber que ela cumpriria sua parte. Apesar de sua paixão, havia algo vulnerável nela. Essa vulnerabilidade, o desespero que vislumbrei quando ela negociou, só tinha aguçado minha curiosidade.

Quando me certifiquei de que Nicol não fugiria durante a noite com minha filha, voltei para minha mesa e mergulhei no trabalho.

Acordei no escritório esta manhã e fui ao quarto de Francesca, como sempre, apenas para encontrá-la e Nicol aconchegadas na cama de Francesca. Deixei-as lá e voltei para o meu escritório. E agora estava observando-as.

Nicol estava atenta a todas as necessidades de Francesca: a guiava para o café da manhã, lembrava-a de escovar o cabelo e até ria das piadas dela. Ela havia assumido o papel com naturalidade, como se já tivesse feito isso centenas de vezes, e Francesca apreciava sua atenção. Não senti falta de como suas risadas enchiam os corredores, um som que eu não tinha percebido que sentia falta.

Depois do café da manhã, desci as escadas e encontrei Allesio no corredor. — Algum problema com Nicol? — perguntei em voz baixa.

Allesio negou com a cabeça. — Nenhum, chefe. Ela é... boa com Francesca. Surpreendentemente boa.

Acenei com a cabeça, embora já soubesse disso. — Tenha um carro pronto em uma hora. Preciso que me leve a um lugar.

— Sim, chefe.

Passada uma hora, sentei-me no banco de trás de um dos nossos carros, com Allesio ao volante, abrindo caminho no trânsito matinal da cidade. Não costumava prestar atenção às pessoas; não era o meu estilo. Mas a situação de Nicol era única e, se queria cumprir a minha parte do acordo, queria ver os detalhes por mim mesmo.

Logo chegamos ao hospital onde seu irmão estava internado. Eu havia recebido informações sobre seu estado na noite anterior; basta dizer que era uma situação desanimadora. Ao sair, fui atingido pelo ar fresco da manhã e ajustei meu casaco, preparando-me para o frio glacial dos corredores do hospital.

Lá dentro, tudo cheirava levemente a antisséptico. As pessoas se moviam em silêncio, cabisbaixas, absortas em suas próprias preocupações. Esse mundo de salas de espera e monitores apitando era desconhecido para mim, e não era um lugar onde eu normalmente estaria. Mas, por hoje, abri uma exceção.

Encontrei o quarto dele sem problemas. Seu irmão estava deitado na cama, conectado a uma infinidade de máquinas, pálido e inconsciente. Eu não conseguia imaginar como seria, dia após dia, visitar alguém querido em um lugar como aquele, vê-lo desaparecer, incapaz de mudar sua situação.

Uma enfermeira entrou silenciosamente, mal olhando para mim enquanto verificava os sinais vitais dele. Virei-me para ela, limpando a garganta. —Qual é o estado dele agora?

Ela levantou os olhos, assustada ao me ver ali parada. —Você é da família? —Sua voz era cética, mas pude ver sua curiosidade lutando com seu profissionalismo.

— De certa forma — respondi com voz calma.

Ela hesitou por um momento e depois voltou a olhar para o homem. —Ele está estável, por enquanto. Mas sem o tratamento adequado, sua condição só vai piorar. É uma questão de tempo.

Tempo, refleti. Para mim, o tempo estava sempre do meu lado. Eu podia comprá-lo, manipulá-lo, usá-lo a meu favor. Para Nicol, o tempo era o inimigo. Ele tinha visto o tempo escapar, apertando o cerco sobre o destino de seu irmão. E acho que foi por isso que ele aceitou trabalhar para mim.

Olhei novamente para o menino, seus traços suaves e vulneráveis contra as linhas duras da cama do hospital. Era por isso que Nicol havia negociado com tanta ferocidade, era por isso que ele ousara me desafiar. Ele não havia pedido luxo nem conforto, apenas uma chance de vida para seu irmão.

Então percebi que ela não era como as outras que haviam tentado negociar comigo. Ela não se importava com riqueza nem poder. Sua única moeda era o amor, e ela havia dado tudo por ele.

— Obrigado — disse à enfermeira, que pareceu surpresa com minhas palavras, mas acenou com a cabeça. Vi-a se afastar antes de me aproximar da cama e observar o homem pela última vez.

Então, sem dizer mais nada, virei-me e voltei para o corredor, indicando a Allesio que me seguisse. —Cuide das contas —disse-lhe enquanto voltávamos para o carro—. Tudo o que for necessário. E certifique-se de que não haja nenhum problema com o tratamento dele daqui em diante.

Allesio não hesitou. —Sim, chefe.

Enquanto o carro voltava para casa, recostei-me no banco, refletindo. Eu tinha cumprido minha parte do acordo e sabia que Nicol cumpriria a dela. Mas, ao pensar nela, mantendo-se firme em meu escritório com aquele olhar decidido, percebi algo inesperado: admirava sua teimosia e determinação.

Aquela mulher tinha coragem, uma lealdade feroz que ardia mais do que qualquer coisa que eu tivesse visto em muito tempo.

Quando voltei para minha propriedade, a casa estava silenciosa. Francesca provavelmente ainda estava ocupada com suas atividades matinais, e Nicol estaria ao seu lado, orientando-a e rindo com ela.

Ao me aproximar do quarto de brinquedos de Francesca, vi os dois através da porta entreaberta. Nicol estava sentada no chão, com as pernas cruzadas, totalmente concentrada na minha filha enquanto trabalhavam juntas em um projeto de arte. Francesca estava com a cabeça baixa, concentrada, e o sorriso de Nicol era suave e sincero, enquanto guiava as mãozinhas da minha filha nos movimentos.

Ao observá-las, senti uma pontada de... algo que não consegui identificar. Não era ciúme nem saudade, mas o reconhecimento do que Francesca havia perdido, o que eu havia escondido dela durante todos esses anos.

Nicol era exatamente o que Francesca precisava, mesmo que ela ainda não soubesse. Ele lhe daria a estabilidade que eu nunca pude lhe dar, e o faria com a mesma determinação férrea que a levou a negociar comigo em primeiro lugar.

Enquanto permanecia perto da porta, observando-os, percebi algo: Nicol poderia estar ali graças ao nosso acordo, mas não era apenas um peão. Era uma peça formidável no tabuleiro, uma que eu queria manter por perto. Havia força nela, uma lealdade inabalável, e eu sabia que, enquanto a vida de seu irmão dependesse de mim, essa lealdade também se estenderia a Francesca.

Afastei-me da porta e voltei para o meu escritório. Eu tinha um negócio, um império para administrar, e embora o calor daquela cena me atormentasse em algum canto esquecido da minha mente, eu sabia que não devia pensar nisso.

Entrei no meu escritório e fechei a porta com um estrondo.

Nicol estava agora sob minha proteção, para o bem ou para o mal. E enquanto ela cumprisse sua parte, eu garantiria que seu irmão fosse bem cuidado, sem fazer perguntas. Mas isso não era caridade; era um acordo, um acordo que eu esperava que ela cumprisse sem hesitar.

E se algum dia ela esquecesse os termos, bem... eu estaria lá para lembrá-la.

Mas, de alguma forma, não achei que ela o faria.

O ponto de vista de Nicol.

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