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Capítulo 3

Enquanto ela adormecia, olhei para o teto, com a mente acelerada. Tudo o que tinha acontecido naquele dia tinha escapado ao meu controle. Eu odiava quando as coisas saíam do meu controle. Nicol tinha ido e voltado, e mesmo assim deixou uma marca. Uma marca que minha filha tinha guardado, uma marca que eu não tinha certeza se conseguiria apagar.

Queria bater na parede. Meu Deus. Queria bater em alguma coisa, ou bater em alguém, por todo o controle que havia perdido hoje. Por como havia perdido Francesca no hospital e como ela se agarrou a Nicol, chamando-a de mamãe. Dizendo que a via como uma mamãe. E isso era perturbador porque ela nunca conhecera sua mãe.

Passando as mãos pelo rosto, levantei-me da cama e saí do quarto o mais silenciosamente que pude.

O ponto de vista de Nicol.

Eu andava de um lado para o outro no corredor, em frente ao quarto do meu irmão, com a mente confusa com os homens brutais que acabara de encontrar. Eu tinha entrado no elevador, apenas para pegar o segundo caminho, onde não me veriam, e voltei para o quarto de Matteo, embora não tenha entrado. Ele me descobriria e eu não queria que ele se preocupasse. Minha mente não parava de relembrar a cena no saguão do hospital: a menina que me olhava como se eu fosse a solução, e seu pai, com uma presença tão intimidadora quanto magnética.

Eu estava mergulhado nesses pensamentos quando senti alguém me agarrar pelo braço. Virei-me bruscamente, disposto a me defender como pudesse, apenas para me deparar com um homem alto e musculoso que me segurava com força. Ele estava elegantemente vestido, mas seu olhar era frio e sério. Allesio. Era ele quem apontava a arma para minha cabeça.

“Vamos embora”, disse ele em voz baixa, mas firme.

Tentei me afastar. “Desculpe, quem você pensa que é? Solte-me!”

“Você vem comigo”, respondeu ele com tom inexpressivo. “Sem perguntas nem confusão.”

Olhei em volta, esperando que alguém me visse, mas o corredor estava vazio. “Por que eu deveria ir com você?”

Ele apertou o punho o suficiente para mostrar que não estava a brincar. “Não faças barulho. Só vais piorar as coisas.”

O medo percorreu minha espinha, mas me forcei a manter a calma. “Tudo bem”, disse, cerrando os dentes. “Mas se você me sequestrar, saiba que lutarei para escapar.”

Ele não respondeu, apenas me conduziu até o elevador e depois pela saída lateral até um carro preto que nos esperava. A porta se abriu e ele praticamente me empurrou para dentro, fechando-a atrás de si enquanto entrava no banco da frente ao lado do motorista. O carro começou a se mover quase imediatamente, afastando-se do hospital.

“Quem é você?”, perguntei, com um tom mais cortante desta vez. “E para onde você está me levando?”

Silêncio.

Apertei os punhos, olhei pelas janelas e percebi que não fazia ideia de para onde estávamos indo. O meu coração batia forte. “Por favor, diga-me para onde estamos indo”, implorei.

Ele poderia muito bem ser de pedra, porque nem sequer reagiu como se tivesse me ouvido. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, o carro diminuiu a velocidade e parou em frente a um prédio que parecia elegante demais para ser o esconderijo de um sequestrador.

“Saia”, ordenou Allesio e, antes que eu pudesse protestar, abriu a porta e me tirou do carro. Ele me guiou para dentro, conduzindo-me por um corredor até um escritório na penumbra. A sala era mobiliada com madeiras escuras e couro, transparecendo riqueza. Observei o espaço e lá, atrás de uma enorme mesa, estava sentado o homem de antes, aquele que estava com a menina.

Ele recostou-se na cadeira, seus olhos calculistas fixaram-se em mim. “Você é Nicol?”

Cruzei os braços, tentando manter a voz firme. “Sim. E você é?”

— Alaric Castillo — respondeu suavemente, sem tirar os olhos dos meus.

—Tudo bem. —Levantei o queixo—. Você poderia me explicar por que me tiraram do hospital e me trouxeram para cá? Ou você tem o costume de sequestrar estranhos?

Ele não se abalou, apenas apontou para a cadeira à sua frente. “Sente-se.”

—Prefiro ficar em pé —respondi, sem me deixar intimidar. Meu Deus! Estava falando com um homem cujos homens estavam apontando armas para minha cabeça só porque eu toquei sua filha, e mesmo assim eu falava com tanta grosseria. Sem dúvida, eu queria morrer.

Seus lábios se contraíram, quase como se ele estivesse se divertindo. “Como quiser.”

Eu me preparei, decidida a não deixar transparecer meu nervosismo. “E então? O que é isso?”

Seu olhar ficou mais intenso, como se tentasse ver através de mim. “Minha filha, Francesca. Ela... se afeiçoou por você. É uma pena, mas aqui estamos.”

Pisquei, desconcertado. “Apegou-se? Ela me conheceu esta manhã.”

— Sim. Mas as crianças não são conhecidas pela sua lógica — respondeu secamente. — Desde que saímos, ela só chorou porque queria voltar a ver você.

Franzi a testa ao lembrar-me dos olhos chorosos da menina. “Ela parecia... sozinha.”

Alaric inclinou-se para a frente, com uma expressão indecifrável. “Ela precisa de alguém na vida. Alguém estável.” Fez uma pausa e seu olhar ficou mais intenso. “Alguém como você.”

Arqueei as sobrancelhas, desconcertada. “Você está dizendo que me trouxe porque sua filha gosta de mim? Isso é... um exagero.”

— Estou lhe oferecendo um emprego — esclareceu, com o mesmo tom frio de sempre. — Como babá dela.

Suas palavras foram assimiladas lentamente, e eu soltei uma gargalhada sem conseguir me conter. “Você deve estar brincando. Eu não sou babá.”

—Você não tem emprego, tem? —Sua voz era calma, mas com um tom sutil.

Fiquei irritada. “E o que você quer saber?”

“Eu investiguei. Você não tinha emprego e...” Ele fez uma pausa. “Um irmão no hospital. Contas caras, eu imagino.”

Meu coração se encolheu e a raiva tomou conta de mim. “Você investigou meu passado?”

“Eu precisava ser minucioso”, respondeu ele, encolhendo os ombros, como se essa invasão de privacidade fosse completamente normal. “Eu precisava saber se você era uma boa opção.”

“Tudo bem”, eu disse friamente. “A resposta é não. Não estou interessada.”

Ele nem piscou. “Eu não estava perguntando.”

Olhei para ele, surpresa com sua audácia. “Como?”

Alaric recostou-se, com o olhar fixo. “Você será a babá de Francesca. Ela precisa de você, e você é mais do que capaz. Este acordo será benéfico para ambos.”

“Não”, repeti, balançando a cabeça. “Não tenho tempo para isso. Tenho minha própria vida, minhas próprias responsabilidades. Meu irmão precisa de mim, e não posso deixar tudo para cuidar da sua filha.”

O silêncio se prolongou entre nós enquanto seus olhos se estreitavam ligeiramente, observando-me. Eu podia ver seu maxilar tenso, e havia algo quase... predatório em sua expressão.

“Seu irmão”, disse ele lentamente, “poderia pagar as contas do hospital. Eu”.

Meu coração deu um salto. “O que você está dizendo?”

“Eu pagarei o tratamento dele”, disse ele suavemente, “e garantirei que ele tenha um emprego quando se recuperar. Estabilidade financeira. Conforto. Tudo o que tenho certeza que você deseja para ele, eu posso lhe proporcionar”.

Foi como se ele tivesse me tirado o fôlego. Esse homem estava me oferecendo tudo pelo que eu havia lutado, mas eu sabia que isso tinha um preço. Hesitei, ponderando o custo. Trabalhar para um homem como ele, sob seu controle... era assustador, mas a lembrança do meu irmão continuava me atormentando.

“Vejo que você está pensando”, disse ele, quase com satisfação.

Cerrei os dentes, recusando-me a deixar que ele visse o quão tentadora era a sua oferta. “Está bem. Vou negociar.”

“Negociar?” Ele parecia quase entretido com a ideia.

— Sim. — Levantei o queixo, olhando fixamente para ele. — Se eu aceitar ser sua babá, você não vai apenas pagar as contas do meu irmão. Você também vai conseguir um emprego para ele e dar-lhe apoio financeiro suficiente para que ele se mantenha estável.

Os olhos de Alaric brilharam, e eu soube que ele não esperava que eu me opusesse. “Você é ousada, admito.”

“Se você me quer como babá da sua filha, cumpra minhas condições”, respondi, cruzando os braços para esconder o tremor das minhas mãos. “Se não, procure outra pessoa.”

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