Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 4

*Negando Fogo*

*Dante*

Como hoje é Domingo, tirei uma folga do serviço. Deixei Juliano no meu lugar, com a ronda sob controle, e vou aproveitar o fim de semana para ficar em casa estudando um inquérito. A investigação está me dando nos nervos: o corpo é de um dos garotos que prendemos na última ronda. Ele foi liberado dois dias depois e, no mesmo dia, apareceu morto.

Segundo a ficha, o moleque nunca tinha sido preso. Ficha limpa, sem passagem, mas dava pra ver que estava envolvido com o pessoal do crime. Esses caras são espertos. Pegam adolescentes assim para fazer o trabalho sujo, achando que, se a polícia pegar, não dá em nada. E muitas vezes é isso mesmo. Mas alguma coisa deu errado para ele. As manchas roxa espalhadas pelo corpo mostram que foi torturado antes de ser executado. Esse tipo de brutalidade não é só para matar, é pra mandar mensagem. Gente desse meio não perdoa quem pisa na bola ou chama atenção demais. Não duvido que tenha sido o próprio grupo com quem ele andava. Quando o cara se torna um problema, eles resolvem na bala.

Fico horas em cima dos arquivos, tentando encontrar algum fio solto. Mas é como procurar agulha em um palheiro. Nada ali vai trazer o garoto de volta — Amanhã a tia dele vai na delegacia, cobrar uma resposta do caso.— Passo a mão pelo rosto e suspiro, sentindo a cabeça pesar.

Confiro o relógio e é quase meio-dia. A barriga ronca e resolvo dar um tempo para cozinhar. Vou até a cozinha e abro a geladeira. Tiro o frango que deixei descongelando desde cedo e separo o açafrão. A receita é simples, mas tem valor sentimental. Esse é o prato preferido da minha mãe, que sempre me pede para fazer quando vem de São Paulo me visitar.

Não sou nenhum chef, mas aprendi a cozinhar por necessidade. Morei um tempo fora do Brasil e, como não tinha ninguém pra fazer por mim, precisei me virar. Cozinhar acabou se tornando uma dessas habilidades que a gente adquire sem perceber.

Enquanto corto o frango, lembro das vezes em que minha mãe chegava na cozinha, reclamando da minha falta de jeito no começo, mas acabava elogiando o resultado. Com o tempo, acabei gostando desse ritual. Cozinhar me dá uma sensação estranha de controle, como se, pelo menos nesse momento, as coisas saíssem do jeito que planejei. Horas depois termino de almoçar e vou lavar a louça.

Estou entediado e decido que vou sair para aproveitar, subo para tomar um banho rápido. Vou até a boate de um amigo, que funciona o dia todo e a noite. O lugar é perfeito pra esquecer qualquer problema. Assim que entro, sou recebido pelo som alto da música eletrônica, luzes coloridas cortando o ambiente e corpos suados dançando na pista.

Sento no bar e peço um drink. Enquanto espero, observo as mulheres no palco dançando sensualmente. Elas são hipnotizantes, cada uma com um jeito único, mas uma em especial chama minha atenção. A garota é morena, com curvas provocantes, usando um top preto que realça cada detalhe do corpo. Seus movimentos são lentos, controlados, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.

Termino o primeiro drink sem tirar os olhos dela e logo peço o segundo. A música, o álcool e o clima sensual da boate me deixam mais leve.

Quando termino o segundo drink, levanto do banco, ajeito a jaqueta e vou até ela. Assim que me aproximo, a morena desce do palco com um sorriso sedutor. Não preciso dizer muito, apenas lanço um olhar cheio de intenção. Ela entende na hora.

— Vamos para o quarto morena? — sou direto ao fazer a proposta.

Ela dá uma risada baixa e mordisca o lábio inferior, como se gostasse da minha abordagem.

— Achei que nunca ia chamar, bonitão.

Subimos as escadas em direção aos quartos privativos. A música vai ficando distante enquanto entramos num ambiente com luz baixa e cheiro de perfume adocicado. Ela não perde tempo e me empurra até a cama, tirando o top e ficando apenas de calcinha. O corpo dela é escultural, e cada movimento parece calculado para me enlouquecer.

Eu a puxo para mais perto e começamos a nos beijar com intensidade. Suas mãos percorrem minhas coxas, subindo devagar, enquanto eu aperto sua cintura com firmeza. A excitação está ali... ou pelo menos deveria estar. Mas, para minha surpresa, nada acontece. Nada mesmo. Ela ri e sussurra no meu ouvido:

— Relaxa, tá tudo bem. Isso acontece.

"Isso acontece? Comigo?" Meu sangue ferve de frustração, mas tento disfarçar. Passo as mãos pelos seios dela, mordisco o pescoço, puxo seus cabelos de leve, esperando alguma reação do meu corpo. Ela se esfrega em mim com habilidade, os quadris desenhando movimentos calculados, mas, mesmo assim... nada.

— Vai... Só se solta —sussurra em meu ouvido, tentando me animar.

Respiro fundo. "_Vamos lá, companheiro_", não me decepcione agora.

Beijo-a mais forte, aperto sua bunda com mais intensidade, tentando reverter a situação. Mas é como se meu _"companheiro"_ estivesse de férias. Nada acontece, e cada segundo de silêncio entre nós só aumenta minha irritação.

— Quer tentar mais um drink? — sugere com um sorriso paciente.

— Não... Isso não tem nada a ver com bebida. — Respiro fundo, irritado comigo mesmo.

Ela percebe minha frustração e coloca a mão no meu rosto, numa tentativa de me acalmar.

— Não esquenta. Tem dias que não rola mesmo.

"_Tem dias que não rola?! Como assim?_" Eu nunca passei por isso. Aos 27 anos, nunca "neguei fogo" na vida. Sempre fui rápido no gatilho, sem rodeios, sem falhas. Agora, aqui estou eu, encarando o teto como um completo amador. Passo a mão pelos cabelos, irritado.

— Vamos lá, parceiro, não me faz passar essa vergonha — murmuro baixo, como se ele fosse entender.

Mas é inútil. _Nada. Zero. Férias totais_.

Com a frustração batendo forte, pego a carteira e tiro algumas notas, entregando para a garota.

— Desculpa por isso.

Ela pega o dinheiro com um sorriso simpático, sem qualquer julgamento.

— Acontece, bonitão. Quem sabe outro dia?

Ela se veste rapidamente e sai do quarto, deixando-me sozinho com minha frustração e um silêncio incômodo. Encosto na cabeceira da cama e respiro fundo. "_Nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo_."

Passo a mão pelos cabelos, tentando entender. Será que o estresse do trabalho está me afetando mais do que eu imaginava?

Mas a verdade é que, desde aquela noite com a ruiva, algo dentro de mim mudou. Por mais que eu tente ignorar, a memória dela não sai da minha cabeça. A química entre nós foi diferente de tudo que já experimentei. Agora, aqui estou eu, frustrado, tentando entender por que nenhuma outra mulher consegue me acender do mesmo jeito.

Sento na beira da cama e encaro o chão por um tempo, em silêncio. "_Não faz sentido. Foi só uma noite. Nada além disso. Não trocamos números, não sei onde ela mora... Não tem motivo pra me prender a isso_."

Levanto, pego minhas coisas e saio do quarto. O som alto da boate me envolve novamente, mas não sinto a menor vontade de voltar para a pista. A energia do lugar, que antes parecia promissora, agora me irrita. Vou direto para o carro, respiro fundo e ligo o motor. O caminho até em casa é silencioso, apenas eu e meus pensamentos, que insistem em martelar na minha cabeça.

Assim que chego, vou direto até o bar na sala e sirvo um whisky generoso. Preciso de algo forte para apagar o fiasco da noite. Sento no sofá com o copo na mão, dando um longo gole, como se o álcool pudesse dissolver o bloqueio que parece ter tomado conta de mim. "_O que diabos está acontecendo?_"

A lembrança da noite com a ruiva não sai da minha cabeça. Cada detalhe daquela noite me assombra, como se alguma parte de mim tivesse ficado presa lá. "_Por que nenhuma outra mulher consegue acender o que ela acendeu?_" Sempre fui bom nisso, nunca precisei de esforço. Agora, o que era natural se transformou em um desafio frustrante.

"_Juliano_." Só de pensar na reação dele, sinto um calafrio. Se aquele desgraçado souber, vai rir da minha cara pelo resto da vida. Vou ter que ouvir piadinhas eternas sobre isso.

Tomo mais um gole, deixando o whisky queimar na garganta enquanto encaro o vazio da sala. Preciso de tempo para entender o que está acontecendo comigo, para descobrir por que, de repente, algo tão simples se tornou complicado.

A mente não pára de fervilhar com perguntas e dúvidas. "_Será que foi só estresse? Ou é mais do que isso?_"

Balanço a cabeça, como se pudesse afastar esses pensamentos insistentes, mas a sensação incômoda continua, pesada, dizendo que algo precisa mudar. "_E rápido_."

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.