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Capítulo 5

*Imperador do Crime*

*Jurandir*

Aspiro forte o pó de cocaína e esfrego o nariz, sentindo a ardência familiar que me desperta. No batismo do crime, sou conhecido como *Falcão Negro.* Nasci Jurandir, mas esse nome morreu junto com minha inocência, lá atrás, quando entrei pro corre pesado. Cresci no meio da violência, e foi na ponta da faca que construí meu império. Aqui no Complexo do Alemão, sou mais que chefe: sou imperador. Tudo que acontece aqui — desde o movimento das bocas até a venda de fuzis — passa pelo meu comando. Sou eu quem decido quem vive e quem morre.

Há quatro anos, despachei dois tiras direto pro inferno. A ação foi rápida, sem vestígio. Sabia que isso ia trazer problema, mas problema é comigo mesmo. O filho do policial, aquele moleque metido a valente, jurou vingança. Segundo o X9, ele agora é delegado, mas ainda não teve coragem de bater de frente comigo. Tá achando que vai pegar atalho pro meu fim, mas mal sabe ele que o jogo aqui é outro. Se ele aparecer na minha frente, vai descobrir que eu sou o mestre dessa porra.

Agora, tô no meu espaço. Essa suíte não é um quarto comum: é um trono. Tapetes persas no chão, cortinas de seda importada, lustres de cristal. Nada aqui é barato. Vivo rodeado pelo luxo que o crime me dá. Rolex brilhando no pulso, joias que valem o que muita gente não ganha na vida, e as melhores bebidas sempre ao alcance. No meu mundo, poder é isso: quem tem mais, manda mais.

Enquanto eu afundo na banheira de espuma, duas novinhas contratadas começam a me agradar. Gosto dessas meninas novas, do tipo que se controla fácil e que não serve pra nada depois que perdem a graça. Aos 60 anos, ainda tenho pique pra esgotar a energia de qualquer uma delas. Meu corpo pode estar envelhecendo, mas minha mente tá afiada como uma navalha. Eu só amei uma mulher, mas eu mesmo matei.

Minha filha, a única pessoa que respeito, não tá por perto hoje. Ela é quem toca os negócios mais pesados e faz a ponte com gente graúda, mas não gosta das "festinhas" que eu organizo. Ela está com Pedro, meu braço direito, cuidando de algumas negociações. Sem ela por perto, posso curtir sem ninguém pra encher o saco. Aqui, eu mando e desmando.

Uma das garotas me entrega um copo de whisky envelhecido, enquanto a outra massageia meu ombro. O perfume caro delas se mistura com a fumaça do charuto que eu acendo. O som de um funk toca ao fundo. Tudo exatamente como eu gosto: luxo, prazer e silêncio.

— Ah, isso sim é vida... — murmuro, enquanto tomo um gole do whisky e olho para a cidade pela janela.

Lá embaixo, a guerra não pára. A polícia faz seu teatro, mas quem tem o controle sou eu.

A noite está ótima até que uma delas comete o erro de reclamar.

— Tá de sacanagem? — rosno, fechando a cara imediatamente.

No meu território, não tem espaço para insatisfação. Isso aqui não é bagunça. Levanto da água num pulo, e as duas novinhas logo entendem que fizeram merda. Elas tentam correr, mas aqui não tem espaço para covardia. Pego minha Glock 9mm com silenciador acoplado e olho para elas, vendo o pânico nos olhos de cada uma. Sem hesitar, disparo dois tiros secos.

— PÁ! PÁ!

Cada uma delas cai com um rombo perfeito no meio da testa, como bonecas sem vida jogadas no chão. Não é a primeira vez que eu faço isso, e não será a última. No meu mundo, errar é fatal. Quem falha, paga com a vida.

A violência faz parte do meu estilo de vida, assim como o luxo. Visto-me com calma, ajeitando o Rolex no pulso e o colar de ouro sobre a camisa aberta. Termino o copo de whisky e, sem pressa, ligo para um dos meus homens de confiança. Não demora muito para ele aparecer na suíte.

— Some com esses corpos. Joga no esgoto e faz limpo. Sem rastro.

O capanga não pergunta nada, só balança a cabeça e sai. Esse tipo de serviço não é novidade para ele. Na nossa linha de frente, erro não é permitido. Aqui, todo mundo sabe que quem fracassa... morre.

Acendo outro charuto e me sento na poltrona, sentindo a paz que só o controle total pode dar. Lá fora, a guerra vai continuar: PM tentando invadir, outros donos de morro querendo o pedaço. Mas quem manda aqui sou eu. A vida segue, e amanhã é mais um dia de guerra. Porque no final das contas, o poder é meu. A vida dos outros? É só um detalhe.

Dante

Olho para o relógio: são 23 horas em ponto. A última cagada do meu companheiro aqui ainda tá entalada na garganta. Ele me deixou na mão, então eu decidi enterrar a frustração no trabalho. A anos eu quero botar as mãos em Jurandir, mas conhecido como Falcão Negro, o desgraçado que comanda o Alemão. Levanto da cadeira e vou até a cafeteira, enchendo a xícara de café para espantar o cansaço. Estou prestes a dar o primeiro gole quando Juliano escancara a porta da sala, quase me fazendo pular da cadeira.

— Caralho, Juliano! Quer me matar de susto? — xingo, quase queimando a boca com o café.

— Foi mal, Dante. Mas temos problema. Encontraram duas garotas mortas num esgoto.

Passo uma das mãos pelo rosto e solto um palavrão baixinho. Esse tipo de cena é sempre pesada. Pego meu colete à prova de balas e aponto pra Juliano:

— Chama mais seis PMs. Vamos.

Entramos na viatura e aceleramos rumo ao local indicado por uma denúncia anônima. No meio do caminho, pergunto:

— Você conferiu a fonte do informante?

— Confirmei. Infelizmente é verdade.

Balanço a cabeça, frustrado. A realidade é sempre mais cruel do que parece.

— Porra... Por que essas meninas se jogam nessa vida? A maioria nem tem 18 anos.

— É o que tem pra elas, cara. Infelizmente —Juliano dá sua opinião.

Quando chegamos ao local, encontramos alguns curiosos espiando, mesmo a essa hora da madrugada. Saco minha pistola, e Juliano faz o mesmo. Nossos sentidos estão à flor da pele. Cada detalhe conta. Nos aproximamos dos corpos com cautela, e a cena é brutal. Peço aos peritos que isolem a área até o amanhecer. Nada pode atrapalhar a análise.

Mandamos os corpos para o necrotério e passamos o restante da noite reconstruindo a cena do crime. Falamos com o dono da boate onde as garotas trabalhavam. Tudo que descobrimos é que elas foram chamadas pra atender um cliente numa casa particular. Não temos muito com o que trabalhar, apenas esperar os resultados da perícia.

Olho para o relógio: são 6 da manhã. Estou exausto, mas ainda há muito por fazer. Deixo o resto da equipe na rua e sigo com Juliano para o IML, para ver como andam as análises dos corpos.

— O laudo cadavérico deve demorar uns 15 dias — comento, ajeitando-me no banco da viatura. — Mas vou pedir urgência. A Ana Paula é nossa melhor legista. Aposto que já tem algo pra gente.

.No caminho, paramos numa padaria para tomar um café rápido. A rotina é pesada, mas não tem descanso. Jurandir ainda está solto, e eu não vou parar até pegar aquele desgraçado.

Chegamos ao IML com o sol brilhando intensamente no céu azul . O trânsito está um pouco intenso, mas os carros fluem sem maiores problemas. A cidade não pára, está sempre em movimento e, dentro da minha cabeça não é diferente, tudo ferve. A adrenalina corre solta, e eu preciso de respostas. Jurandir é um fantasma que há muito tempo atormenta cada passo meu. Hoje, no entanto, sinto que alguma coisa vai mudar.

Subimos as escadas do IML e vamos direto para o necrotério. Lá dentro, o ar é gelado e pesado, como se a morte estivesse impregnada nas paredes. Ana Paula, nossa legista, está à espera, organizando alguns relatórios sobre a mesa de inox. Ela é uma mulher detalhista e não deixa passar nada. Já trabalho com ela tempo suficiente para saber que, quando ela liga os pontos, pode derrubar qualquer criminoso. Ela nos cumprimenta com um aceno, ajeitando as luvas de látex.

— Chegaram cedo, hein? — comenta, abrindo o saco preto com o primeiro corpo. — Eu imaginei que iam vir logo, então preparei um pré-relatório para vocês.

Juliano e eu nos aproximamos, atentos. O corpo da primeira garota está sobre a mesa. A pele pálida e os olhos vazios são um lembrete brutal do que encontramos no esgoto. Ana Paula começa a explicar:

— As duas garotas morreram com tiros na testa. A arma foi uma pistola, provavelmente uma Glock. A precisão dos disparos indica que quem fez isso sabia exatamente o que estava fazendo. Foram execuções rápidas e limpas, sem resistência.

Ela nos mostra as marcas dos tiros, apontando com uma pinça.

— Não houve sinais de luta. Elas não tentaram se defender, o que sugere que ou estavam entorpecidas ou não tiveram tempo de reagir. Ambas têm resíduos de cocaína no nariz e no sangue. Com certeza, estavam drogadas na hora do crime. Juliano franze a testa.

— Drogadas e indefesas… que porra.

Ana Paula continua, enquanto fecha o zíper do saco mortuário e abre o segundo:

— Além disso, encontrei algumas escoriações leves nas coxas e nos braços, mas nada que indique tortura prolongada. Pelo que parece, essas marcas foram feitas durante a movimentação.

Faço uma anotação mental. Jurandir não é do tipo que deixa suas vítimas escaparem facilmente. Essas execuções indicam que talvez tenham dito ou feito algo que o irritou — o que não é difícil, considerando o temperamento dele.

— O tempo de morte é estimado entre 3 e 5 horas atrás — completa Ana Paula. — Ou seja, foi logo depois da festinha. Vocês chegaram bem rápido.

Ela nos olha com uma expressão cansada, mas séria. Sei que, no fundo, ela quer tanto pegar o responsável quanto nós.

— A última coisa relevante é essa aqui. — Ana Paula aponta para o dedo indicador de uma das garotas. — Encontrei um fragmento de unha quebrada. Pode ter se agarrado em algo ou alguém antes de morrer. Estou mandando esse material para análise de DNA. Talvez nos dê alguma pista.

Troco um olhar rápido com Juliano. Qualquer pista, por menor que seja, pode ser a diferença entre pegar Jurandir ou continuar nesse ciclo de frustração.

— Quanto tempo você acha que leva pra sair o resultado do DNA? — pergunto.

— Normalmente, uns 15 dias.— Ana Paula faz um gesto resignado.— Mas como pedi prioridade no exame, talvez tenhamos algo em três dias. Vou ficar em cima disso.

Agradeço com um aceno. Ana Paula retira as luvas e nos entrega uma cópia do relatório preliminar.

— Vocês precisam de mais alguma coisa? — Seu tom de voz é suave, mas firme.

Juliano balança a cabeça.

— Por enquanto, não. Já foi muita coisa. Obrigado, Ana.

Antes de sairmos, ela se aproxima um pouco mais e abaixa a voz:

— Eu sei que vocês estão atrás de um peixe grande. Só cuidado pra ele não virar o caçador. Esse tipo de cara é perigoso e joga sujo.

— Ele que deveria estar preocupado. — Respondo, frio. — Não vou descansar até acabar com ele.

Enquanto descemos para o estacionamento, Juliano quebra o silêncio.

— Você acha que é ele mesmo?

— Quem mais seria? — retruco, o rosto endurecendo. — Jurandir sempre deixou rastros de execuções assim. Rápido e limpo.

— A gente precisa apertar o cerco. Esse DNA pode ser a nossa chave.

Assinto. Estou cansado, mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim se acende: uma raiva controlada e certeira. Jurandir pode ter escapado por anos, mas essa caçada está chegando ao fim. E eu vou fazer o possível e o impossível para garantir que ele nunca mais coloque os pés fora de uma cela — ou que nunca mais respire fora de um saco preto.

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