Nosso reencontro
Parte 4...
Enquanto andava a passos curtos até a sala da diretoria ela ia remoendo os sentimentos em relação a Luís... Melhor corrigir, Marco Moretti.
Por isso ele nunca voltou e nem a procurou. Estava mentindo o tempo todo e fazendo dela uma imbecil iludida.
E o pior é que ela acreditou e ainda tentou em vão fazer contato com ele. Ligou para o número que lhe dera e estava desligado. Foi até o hotel e não existia nenhum hóspede com o nome de Luís Amparo.
Foi um golpe atrás do outro, inclusive quando descobriu estar grávida quase dois meses depois. Teve momentos de muita preocupação e estresse e sua saúde ficou debilitada por um tempo.
Parou em frente da sala, respirou fundo, endireitou os ombros e bateu.
Quando Marco a viu entrar seu coração disparou de novo e suas mãos suaram.
Ele parecia um garoto nervoso e não um homem de trinta e três anos, dono de várias empresas. A assistente saiu e fechou a porta deixando-os sozinhos. Indicou a cadeira à sua frente e ela sentou hesitante.
— Como está, Carla? – perguntou em um falso tom de calma.
— Muito bem – respondeu seca sem querer olhar diretamente para ele.
“Será que ela o havia esquecido? Ele merecia que o tivesse” - pensou rápido.
— Bem... Acho que já sabe que não me chamo Luís - disse meio sem jeito.
— Sim. Com certeza eu sei desse detalhe – aquiesceu — Percebi isso uma semana depois quando voltei ao hotel em busca de informações.
Ela parecia com raiva dele.
“Será que o odiava?”
Estava mais magra, o cabelo mais curto, mas continuava linda como antes, talvez até mais agora que estava mais madura. Estaria com vinte e quatro anos, se lembrava bem.
— Gostaria de me explicar...
— Não é necessário – o cortou — Não quero ouvir novas mentiras. Me poupe disso!
Foi um tapa na cara ouvir aquilo, mas a entendia. Ele se inclinou para frente.
— Sei que fui uma decepção em sua vida, mas posso explicar o que aconteceu.
— Então sabe também que foi um cafajeste comigo – mirou seus olhos sem piscar, revoltada.
Marco não poderia julgar sem criticar sua reação atual. Sabia que tinha motivos para isso.
— Aconteceram muitas coisas desde a última vez em que nos vimos – sentiu a frustração chegar — Realmente eu não tive...
— Ah, isso é bem verdade, muita coisa mesmo – cruzou os braços — Me chamou aqui para falar do passado? Não me interessa saber seus motivos para me enganar – ela deu de ombros — Eu errei em confiar em um estranho.
— Está casada? - engoliu em seco ao perguntar, curioso.
— Não! – ela respondeu com a pulsação acelerada. Ele não parava de encará-la.
— E tem alguém? Um namorado? – perguntou ansioso.
— Não é da sua conta – levantou e olhou feio para ele — Vai me mandar embora ou não?
— Claro que não... Eu não penso em demitir você – franziu a testa.
— Ótimo! Gosto do meu trabalho aqui – torceu a boca — Se já acabou, tenho que voltar para minha sala.
— Jante comigo – se aproximou dela.
— De jeito nenhum! - apertou os olhos.
— Por quê? Disse que não é casada.
— Mas eu tenho alguém – “seu filho” — E ele é muito importante pra mim.
Por um segundo o coração dele parou. Não queria ouvir isso. Era ruim demais.
— Eu não fiz de propósito, Carla. Nunca pensei em encontrar uma pessoa como você. Quando vim para cá de férias eu queria ser livre do peso do meu sobrenome... As pessoas se aproximavam de mim com segundas intenções. Nunca soube quem gostava de mim de verdade.
Tentou mostrar que não foi algo premeditado e feito de maldade.
— Bem, não é minha culpa que viva entre falsos e hipócritas.
— Ver como me tratou sem saber quem eu era foi maravilhoso. Eu podia ser livre ao seu lado - ele sorriu de leve.
— Ah! Que bom que o ajudei – disse cínica.
— Quero sair com você, conversar sobre o que realmente aconteceu. Você me esqueceu?
Ela o olhou espantada.
— É ridículo de sua parte me perguntar isso – balançou a cabeça.
— Eu senti sua falta demais!
— Não seja estúpido! – disse seca e com um pouco de mágoa — Se você não tivesse comprado a agência nunca nos encontraríamos de novo. Não quero saber do passado e nem dos seus motivos – aumentou a voz — Eu não quero!
Carla deu as costas a ele e saiu da sala enquanto ainda tinha dignidade para não chorar. Reencontrar Marco depois de cinco anos e de tudo o que ela passou, era demais.
Suas pernas tremiam, suas mãos estavam geladas e uma leve dor de cabeça se pronunciava.
Ela só sabia que tinha que se afastar dele antes que começasse a chorar ali mesmo.
*** ***
Marco andou de um lado para outro repassando a breve conversa com ela.
Carla estava mais madura, mais segura de si e isso lhe causou um remorso pelo tempo que perdeu longe dela.
Foi muito difícil o período de adaptação à nova vida com todas as obrigações que teve que enfrentar.
Durante noites se pegou sonhando com ela, mas tinha medo que não gostasse da nova pessoa que se tornara devido o peso nos ombros. Ela estava magoada, era de se esperar, mas seu corpo e seu coração se aqueceram ao vê-la e não podia desistir de novo.
Não queria e não podia deixar que se fosse para longe. Não dessa vez!
— Com licença – Ricardo entrou — Que tal quando sairmos daqui a gente ir tomar uns drinques?
— É... Pode ser – disse sem ânimo.
— Tem um ótimo restaurante mexicano aqui perto. Que tal irmos até lá?
— Sendo perto, melhor. Não vou me demorar, estou cansado.
— Imagino – ele sorriu — Bem, daqui a pouco nos vemos.
— Ricardo – chamou-o de volta — O que pode me dizer sobre a funcionária Carla Mondalez?
— Com relação a que?
— Trabalho... Vida pessoal - deu de ombro — Gosto de saber que não temos pessoas problemáticas no ambiente de trabalho – mentiu.
— Ah, não! Ela é uma profissional competente e muito boa no que faz - abanou a mão sorrindo — Os colegas da agência sempre tecem elogios sobre sua forma de trabalhar, apesar de reclamarem sobre o modo como é fechada com relação à vida pessoal.
— Como assim? - ficou mais curioso.
— Sabe como é... Ela é muito bonita, atraente... Mas é fechada para os flertes e convites para sair de todos os que já tentaram – deu de ombros — Ela sai com as amigas de vez em quando.
— Ela deve ter compromisso com alguém.
— Ah, sim... Um grande compromisso, é verdade. Ela é mãe soleira.
— Mesmo? – segurou o espanto.
— Tem um menininho lindo de quatro anos. Leonardo – sorriu — Já o vi algumas vezes. Pelo que sei é uma mãe modelo. Tudo o que faz é pensando no filho. As pessoas sempre comentam sobre isso.
Fingiu uma calma que não tinha e agradeceu. Quando Ricardo saiu sua mente fugiu para a noite em que ficaram juntos e a descoberta de que era seu primeiro amante.
Ele queria ser o único e se não fosse a tragédia em sua família, talvez fosse isso que aconteceria.
Agora descobria que ela tinha um filho e pelo tempo a criança poderia ser sua.
Precisava descobrir se ela se envolveu com outro homem que poderia ser o pai além dele. Porque se ele estivesse certo, haveria uma pequena semente sua andando por aí e ele tinha que ser responsável por isso.
