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Preocupada com o futuro

Parte 5...

Carla respirava afogueada dentro do carro. Saíra tão rápido que nem mesmo ligou se ele agora era o novo dono da agência.

Só sabia que tinha que se afastar antes que fizesse uma besteira e acabasse se jogando nos braços dele depois desses anos.

— Sua mãe está em uma enrascada – olhou para trás.

— O que é enlascada, mamãe?

— Enrascada! – riu e repetiu. Ela passou na creche e o pegou mais cedo — Mamãe quase fez bobagem – ele deu uma risada gostosa e ela ligou o carro — Vamos para casa?

— Vamos! – levantou os braços animado.

Ela dirigiu para casa como se estivesse no modo automático, preocupada com o que faria dali em diante e em como esconderia o fato de ter um filho de Marco.

Com certeza acabaria descobrindo e ela não queria entrar em uma briga com ele. Nada que atrapalhasse seu sossego e a vida que batalhara para ter junto ao filho. Além disso, não seria bom para Leonardo.

— Manhê... Eu tô com fome – ele pegou a mochila de cachorrinho no tapete.

— Vamos trocar de roupa e mamãe faz algo bem gostoso pra você – apertou-o nos braços e ele riu.

— Mamãe... Está me apertando.

— Estou? – brincou fazendo cócegas na barriga e ele se contorceu gargalhando.

Carla amava a risada linda de Leo. Era como sua poção mágica que a fazia esquecer os problemas, as dificuldades e o cansaço.

— Vá trocar a roupa, amor – beijou sua bochecha.

*** ***

Estava lavando o copo que Leo usara quando a campainha tocou. Ouviu-o correr.

— Leo! – gritou — Sabe que não pode atender sozinho – foi até ele.

— Eu esperei, mãe – parou na frente da porta — Abre!

Ela riu e abriu a porta, travando o corpo. Marco estava parado diante dela.

— O!i – Leo deu um sorriso — Quem é você, hein?

— É um conhecido meu – ela disse engolindo seco — Vá brincar no seu quarto.

— Quero brincar aqui, mamãe – segurou a mão da mãe.

— Não! – disse forte e ele sabia o que esse tom significava — Vá para o quarto agora.

— Ah, mãe! – saiu fazendo cara de choro.

— Sem reclamar, Leonardo – completou. Não admitia desobediência.

Marco assistiu a cena paralisado. Foi um choque ver o menino e se ver em miniatura. Era como ver a si mesmo nessa idade, até no modo de andar.

— O que faz aqui? – seu coração pulava dentro do peito — Como entrou?

— Peguei seu novo endereço no RH e não havia ninguém na portaria – ela fez uma careta, balançando a cabeça — Não posso perder essa nova chance, Carla. Preciso me explicar.

— Ainda não percebeu que não preciso e não quero explicação? – fechou um pouco a porta — Já tenho minha vida organizada e você não pode aparecer depois de tanto tempo e achar que eu vá fazer o que quer. Não tenho tempo para ouvir você.

— Por favor, tem muita coisa que eu não disse – deu um passo á frente.

— A culpa não foi minha – ela empinou o rosto — Eu não fugi e nem menti.

— Eu sei, eu sei... – ele ficou desolado — E assumo toda a culpa.

— Ótimo! – deu um sorriso falso — Pode ir embora, então.

— A minha vida virou de cabeça para baixo – suspirou — Eu estava feliz ao seu lado.

— Oh!... E é mesmo? – ela inclinou a cabeça — Então por que mentiu? Por que não me procurou depois?

— Você viu como eu sai daqui naquela manhã – passou a mão pelo cabelo — Estava transtornado – era frustrante estar ali e ela não querer ouvi-lo — Quando cheguei meu pai havia morrido – falou baixo.

— Eu... Sinto muito por isso – sentiu pena dele e suavizou um pouco — Deve ter sido muito difícil – respirou fundo.

— E foi mesmo... – limpou a garganta emocionado — Mas não foi só isso... Minha mãe ficou em coma no hospital durante oito meses. Foi um temo muito difícil, com várias disputas pela empresa. Eu tive que brigar com os acionistas pela direção do grupo e ainda cuidar de minha mãe em casa. Não estava bem emocionalmente. Era uma coisa atrás da outra – respirou fundo — Eu pensava em você diariamente e... – parou de falar ao ver o pequeno se aproximar.

— Mãe, eu derramei tinta em cima da cama _ Leo disse com voz de choro.

Carla puxou o ar e olhou para o filho.

— Todo bem, eu já vou entrar – ele se agarrou a ela — Vou resolver pra você.

— Foi sem querer... – ele fez um bico de choro — Desculpe!

Carla o pegou no colo e beijou seu rosto.

— Não tem problema, meu amor. A gente vai resolver isso.

— E vai ficar limpo?

— Claro que vai. Tudo vai ficar bem – disse amorosa.

Marco estava petrificado diante da cena. Não tinha dúvida que o menino era dele, até por ser sua cara, mas não queria um confronto com ela agora.

Antes precisava fazê-la entender o que passou e só então ela o deixaria se aproximar e assumir o filho.

Seu coração batia forte e a vontade de pegar seu filho nos braços era grande.

— Eu tenho que entrar Marco – precisava se acostumar com esse novo nome.

— Sabe que eu vou voltar – disse firme.

Ela ficou nervosa com o que ele disse. Sabia que sua vida mudaria dali em diante.

*** ***

Marco estava com uma leve dor de cabeça. A música alta e o barulho das pessoas em volta começava a irritá-lo, mas não poderia sair agora e deixar Ricardo e os outros. Tinha combinado de ir ao restaurante para comemorar e não estava lá nem há uma hora.

O problema é que não conseguia parar de pensar que era pai e que Carla estava em sua vida novamente.

— Ei, não está gostando do lugar? – Ricardo perguntou.

— Sim. É só cansaço e uma dor de cabeça.

— Se quiser ir para o hotel descansar, não tem problema.

— Acho que vou fazer isso – conversou com os outros e se despediu prometendo outra saída.

No hotel ele pensou muito antes de ligar para ela, mas não conseguiria dormir se não fizesse isso.

Nas duas primeiras vezes ela desligou ao ouvir sua voz e na última vez brigou com ele, dizendo que estava incomodando o sono dela e do filho.

— Eu só quero uma segunda oportunidade. Nós precisamos conversar com calma.

— Por quê? Você fez uma escolha no passado, seguiu sua vida e eu a minha.

— Só uma chance – insistiu — Vamos a um jantar amanhã.

— Não!

— Um almoço, então – se sentia ridículo.

— Eu lhe dou meia hora, amanhã à noite, antes de nove horas.

— Por que esse horário? – queria mais tempo com ela.

— Leonardo vai para cama há essa hora e ele gosta que eu leia para ele.

— E não pode apenas ligar para dar boa noite a ele?

— Ele não tem celular. É muito novo para ter um.

— E quem vai ficar com ele?

— Uma amiga da agência que mora aqui no condomínio também – pediria a Vanessa para cuidar de Leo enquanto ela iria encontrar com Marco.

Vanessa era apaixonada por Leo e ele a adorava. Mesmo os filhos dela sendo maiores de idade, Leo adorava ir visitá-los na casa e jogar videogame.

— Em que hotel você está?

— No Royal Plaza.

— Sei onde é. Tem um bar ótimo no primeiro piso. Encontro você lá.

— Pode subir.

— De jeito nenhum! – se ficasse á sós com ele não resistiria.

— Então, eu te espero. Pode ser ás tipo umas oito horas?

— Melhor que seja ás sete e meia – calculou a volta para pegar Leo ainda acordado.

— Por favor, venha!

— Eu irei – antes de desligar avisou: — Não me procure amanhã no trabalho. Não quero que os funcionários façam fofocas com meu nome. Entendeu?

— Com certeza – de modo algum queria aborrecê-la — Obrigado!

Ela nem respondeu, só desligou.

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