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Capítulo 5 Muito em breve não será mais

Anabela passou a mão pelos olhos mais uma vez, enxugando as lágrimas que teimavam em escorrer.

— Minha irmã se recusa a comer qualquer coisa que a empregada prepare, diz que não consegue engolir e só come o que eu cozinho — explicou ela, com a voz embargada. — Para conseguir pelo menos uma refeição decente naquela casa, não tenho escolha senão me submeter a essa humilhação.

Anteriormente, Anabela sempre acreditara que Camila era tão exigente simplesmente porque ela possuía habilidades culinárias excepcionais.

Durante cada refeição, Camila costumava elogiar suas técnicas na cozinha, declarando que adorava tudo que ela preparava.

Envolvida por aqueles elogios constantes, Anabela havia perdido completamente a noção da realidade.

Agora, porém, ela compreendia a verdade por trás daquela situação, reconhecendo que Camila fazia tudo aquilo de forma deliberada, tratando-a como uma empregada doméstica qualquer enquanto provavelmente zombava de sua ingenuidade nas Costa.

Contemplando a silhueta apressada de Anabela que se afastava rapidamente, as senhoras não conseguiram conter seus suspiros de comiseração.

Realmente era verdade o ditado de que as aparências enganam, pois jamais imaginaram que a filha biológica da família Ribeiro vivesse uma existência pior que a de uma criada, que situação mais lamentável!

Embora não conseguissem compreender completamente as motivações por trás do comportamento da família Ribeiro, elas haviam captado perfeitamente o ponto central de toda aquela tragédia.

Todas as desgraças que atormentavam Anabela tinham uma única origem: Camila.

Aquela filha adotiva sempre parecia tão dócil e compreensiva na superfície, mas quem poderia imaginar que por trás daquela fachada se escondia um coração tão malicioso, confirmando mais uma vez que as aparências realmente enganam!

O pátio da família Ribeiro se estendia por uma área generosa, repleto de uma variedade impressionante de flores e plantas ornamentais, incluindo várias árvores de osmanto que exalavam uma fragrância delicada e envolvente, criando uma atmosfera que revigorava o espírito e tranquilizava a alma.

Quando Anabela adentrou a sala de estar, deparou-se com toda a família reunida em torno de presentes variados, conversando e rindo em perfeita harmonia.

Aquela cena de felicidade doméstica era tão tocante que qualquer pessoa hesitaria em interrompê-la, temendo destruir tamanha beleza.

Anabela havia planejado contornar discretamente a sala de estar para se dirigir diretamente ao seu quarto, mas Camila, com seus olhos sempre atentos, a avistou imediatamente e começou a caminhar em sua direção.

Camila entrelaçou o braço com o de Anabela de forma carinhosa, exibindo um sorriso radiante de felicidade.

— Anabela, que bom que você voltou! — exclamou ela, com entusiasmo evidente. — Hoje recebemos visitas especiais em casa, papai comprou um monte de ingredientes deliciosos para celebrar nossa alta hospitalar, e como você é a melhor cozinheira do mundo, eu simplesmente adoro tudo que você prepara.

Foi apenas nesse momento que os demais membros da família notaram a presença de Anabela, e ao observarem a proximidade física entre Camila e ela, todos franziram o cenho com expressões visivelmente desconfortáveis.

Rafael foi o primeiro a se aproximar, lançando um olhar vigilante e desconfiado para Anabela antes de estender a mão na direção de Camila.

— Camila, venha rapidamente para perto do seu irmão mais velho — instruiu ele, com tom protetor. — Você já esqueceu como acabou se machucando? Mantenha distância de Anabela, ela vai acabar te ferindo novamente.

— Irmão mais velho, eu já expliquei isso milhares de vezes, tenho certeza absoluta de que esse incidente não foi culpa da Anabela... — começou Camila a protestar.

Antes que pudesse completar sua defesa, Gabriel a interrompeu bruscamente.

— Mesmo que ela não tenha sido a autora direta, foi por causa dela que aqueles bandidos te atacaram, Camila — declarou ele, com irritação evidente. — Para de defendê-la, você é bondosa demais e por isso acaba sendo explorada por alguém como Anabela.

Presenciando aquela encenação teatral se desenrolar diante de seus olhos, Anabela permaneceu em silêncio absoluto, sem oferecer qualquer explicação ou fazer o menor movimento defensivo, simplesmente observando tudo com tranquilidade.

Nicolas também se juntou ao grupo, dirigindo-se a Anabela com tom de repreensão.

— Anabela, já que você decidiu voltar para casa, o mínimo que pode fazer é pedir desculpas para Camila imediatamente — exigiu ele, assumindo uma postura moralizadora. — Quando alguém comete um erro, precisa assumir a responsabilidade e demonstrar arrependimento adequado.

Contemplando Camila que permanecia diante dela, Anabela sentiu uma risada irônica brotando em seu peito.

Sem qualquer hesitação, ela ergueu a mão e desferiu um tapa sonoro no rosto de Camila, fazendo com que ela caísse pesadamente no chão.

Nicolas, completamente chocado com a ação inesperada de Anabela, sentiu o rosto enrubescer de fúria.

— Anabela, que tipo de surto é esse? — gritou ele, com a voz estrangulada pela raiva.

Anabela não teve a menor intenção de usar rodeios ou diplomacia, retirando o braço do alcance de Camila com firmeza.

— Jamais vou pedir desculpas por algo que não cometi, então parem com essa farsa ridícula — declarou ela, com determinação inabalável.

Todas as pessoas presentes ficaram momentaneamente paralisadas pela surpresa, observando um homem alto vestindo uma camisa branca impecável que emergia de trás de Nicolas.

Anabela ergueu o olhar e reconheceu imediatamente Leandro Cardoso, seu noivo nominal.

Aparentemente ele havia vindo para defender a honra de Camila, que demonstração tocante de devoção!

— Anabela, você realmente é capaz de qualquer barbaridade para prejudicar sua irmã, não é mesmo? — atacou Leandro, com desdém evidente. — Você imagina que esse comportamento desprezível vai conseguir enganar todo mundo e conquistar nossa aprovação?

Sem demonstrar a menor preocupação ou gentileza, Leandro se aproximou e começou imediatamente a bombardeá-la com críticas impiedosas.

Ele esperava que essa abordagem agressiva forçasse Anabela a se submeter, fazendo com que ela pedisse desculpas humildemente para Camila, exatamente como costumava fazer no passado.

Aquela personalidade patológicamente submissa realmente tornava impossível desenvolver qualquer tipo de afeição por ela.

Contudo, Leandro parecia ter esquecido completamente que Anabela acabara de se recusar categoricamente a pedir desculpas e havia agredido Camila publicamente.

Era evidente que ela havia se transformado numa pessoa completamente diferente, alguém que não mais obedecia cegamente às palavras deles.

Anabela dirigiu o olhar para Leandro, enquanto um brilho de sarcasmo dançava em seus olhos.

No passado, ela havia amado aquele homem com toda a sinceridade de seu coração, admirando sua aparência refinada e elegante, e a maneira como seu sorriso irradiava uma ternura primaveril.

Costumava segui-lo devotamente como um cãozinho fiel, obedecendo a cada palavra que ele pronunciava sem jamais ousar contradizê-lo.

Leandro, por sua vez, sempre havia demonstrado cuidado e proteção por aquela noiva dócil desde a infância, e essa afeição sutil e indefinida havia feito com que Anabela se perdesse completamente em sua ternura, sem conseguir se libertar.

Quando exatamente aquele homem havia começado a nutrir tamanha repulsa por ela?

Quando havia desaparecido completamente toda aquela gentileza do passado, sendo substituída apenas por críticas intermináveis e cruéis?

— Leandro, por favor, não fale assim com Anabela — interveio Camila, assumindo uma postura defensiva. — Ela é sua noiva, e tenho certeza de que deve ter seus motivos para agir dessa forma. Depois de tudo que aconteceu, ela certamente está sofrendo muito internamente.

Camila posicionou-se como protetora de Anabela, dirigindo um olhar de incompreensão e leve censura para Leandro, com seus olhos cristalinos refletindo confusão genuína.

Ao ouvir essas palavras, Leandro curvou os lábios num sorriso carregado de crueldade.

— Muito em breve não será mais — declarou ele, com frieza cortante.

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