Capítulo 4 Rostos repugnantes
Anabela sentiu seus olhos se arregalar gradualmente, enquanto compreendia que Henrique acreditava que ela estava fazendo aquilo para agradá-lo, na esperança de que ele intercedesse a seu favor diante de Leandro.
— Eu não fiz isso com essa intenção! — protestou ela, fechando as pequenas mãos com nervosismo, baixando o olhar enquanto sua voz se tornava mais suave. — Eu apenas me preocupo genuinamente com você, e além disso, eu também não gosto do Leandro.
Vivendo uma segunda vida, tanto em relação aos membros da família Ribeiro quanto a Leandro Cardoso, ela havia decidido que não seria mais uma dessas pessoas que se rebaixam para agradar os outros.
Após pronunciar essas palavras, Anabela deu as Costa e saiu do local sem hesitação.
Contemplando aquela silhueta que se afastava, Henrique franziu ligeiramente as sobrancelhas expressivas, enquanto seu olhar se tornava ainda mais penetrante e enigmático.
No dia da alta hospitalar, um sedan Santana estava estacionado na entrada do hospital, enviado pela família Ribeiro para buscar Camila quando ela recebesse alta.
Rafael Ribeiro, com toda a cortesia de um cavalheiro, abriu a porta do carro para Camila, enquanto Gabriel Ribeiro a seguia por trás, carregando suas numerosas bagagens, e os três embarcaram no veículo entre risos e conversas animadas.
O carro desapareceu rapidamente na estrada, levantando uma nuvem de poeira, sem que ninguém demonstrasse a menor preocupação ou sequer lembrasse da existência de Anabela.
Anabela deixou escapar uma risada baixa e irônica, sem sentir qualquer sombra de decepção diante daquela situação.
Simplesmente, de repente, sentiu um desejo intenso de escapar daquela casa, pois por mais rica que fosse a família Ribeiro, aquilo não tinha a menor relação com sua vida.
Aos olhos deles, ela não passava de uma palhaça inadequada que não merecia estar em ambientes refinados.
A propriedade da família Ribeiro consistia em uma elegante residência de três andares com pátio privativo, decorada com um estilo arquitetônico único que a tornava a joia mais deslumbrante de todo o bairro residencial.
Anos atrás, Pedro Ribeiro havia deixado seu cargo no governo para se aventurar no mundo dos negócios.
Tinha que admitir que Pedro havia apostado corretamente naquela jogada, pois nos últimos anos, através da administração bem-sucedida de sua empresa de confecções, havia acumulado uma fortuna considerável, tornando-se o objeto de inveja e admiração de todos os habitantes da pequena cidade.
Naquele horário comercial, o bairro residencial abrigava apenas alguns senhores idosos tomando sol e algumas senhoras que aparavam as plantas do jardim enquanto saboreavam chá e trocavam fofocas em sussurros conspiratórios.
Quando avistaram Anabela retornando sozinha com sua bolsa de lona transpassada no ombro, elas não demonstraram surpresa excessiva, como se já estivessem acostumadas com aquele tipo de situação.
Mesmo assim, não conseguiram resistir à curiosidade habitual e fizeram algumas perguntas de cortesia, como sempre faziam.
— Anabela, por que você voltou sozinha? Seus irmãos mais velhos, Rafael e Gabriel, saíram de manhã cedo com um carro luxuoso para buscar sua irmã, como é que não trouxeram você junto? — indagou uma delas.
Quando mencionou o carro luxuoso, Vera não conseguiu disfarçar o brilho de inveja que dançava em seus olhos, pois era de conhecimento geral na pequena cidade que a família Ribeiro possuía riqueza e influência consideráveis.
Em toda a extensão da pequena cidade, não havia uma única pessoa que não invejasse aquela família.
Vera era conhecida como a maior fofoqueira da cidade, sempre metendo o nariz nos assuntos alheios.
Desde intrigas familiares até comportamentos mesquinhos, e até mesmo casos extraconjugais dos maridos, ela estava sempre perfeitamente informada sobre tudo.
Essa Vera parecia demonstrar um "interesse" particular pelos assuntos da família Ribeiro.
Se fosse no passado, Anabela certamente teria protegido a reputação de sua família, alegando que sofria de enjoo em veículos e que vomitava constantemente durante viagens de carro, preferindo caminhar a pé por ser mais prático.
Desta vez, porém, Anabela não tinha intenção de esconder ou dissimular mais nada, e já que havia decidido não mais agradar os membros da família Ribeiro, não havia necessidade de mentir.
— Eu até gostaria de ter voltado de carro, mas minha irmã me achou suja demais e não me deixou entrar no veículo, então o que eu poderia fazer? — revelou Anabela, com um sorriso amargo. — Vocês não sabem, tia, mas eu moro num depósito de tralhas da casa, e assim que você entra lá já sente um cheiro horrível e fedorento, e com este calor todo, é realmente insuportável ficar lá dentro.
Anabela continuou suas revelações, com os olhos marejados de lágrimas, fungando o nariz antes de prosseguir com suas denúncias.
— Nem mesmo posso me sentar à mesa para as refeições, tenho que esperar minha irmã terminar de comer para então poder comer os restos, as roupas que uso no corpo são todas roupas velhas que minha irmã rejeitou, e até mesmo esta mochila que carrego é uma que minha irmã não queria mais e que acabou sobrando para mim.
As senhoras que escutavam ficaram chocadas e expressaram sua compaixão por Anabela através de suspiros compadecidos.
Aquela família Ribeiro era tão rica, mas mesmo assim conseguia ser tão mesquinha a ponto de tratar a filha biológica como uma empregada doméstica, enquanto criava a filha adotiva como se fosse um tesouro precioso, o que era uma injustiça absurda!
Aparentemente, toda aquela bondade que demonstravam pela filha era apenas uma fachada falsa, tratando a filha adotiva como uma joia preciosa e a filha biológica como erva daninha, comportamento que só a família Ribeiro seria capaz de exibir.
— Querida menina, pare de chorar, olha só que tipo de coisa essa família toda está fazendo! — consolou uma das senhoras, com indignação evidente. — Se eu tivesse uma neta tão maravilhosa quanto você, certamente a mimaria como um tesouro precioso, não sei nem como eles conseguem pensar desse jeito, que situação lamentável!
— Normalmente vemos eles te tratando bem, mas tudo não passava de fingimento, nunca imaginamos que a família Ribeiro, sendo tão rica, pudesse ser tão avarenta com a própria filha, isso é realmente inadmissível! — exclamou outra senhora, balançando a cabeça com desaprovação.
Escutando os comentários daquelas pessoas, Anabela sentiu um brilho de satisfação dançar em seus olhos, pois era exatamente esse tipo de reação que ela esperava provocar.
Calculava que, em poucos dias, essa história se espalharia por toda a pequena cidade, e então seria interessante ver como eles conseguiriam manter suas máscaras de família perfeita.
— Tias, não posso ficar conversando mais tempo com vocês, preciso correr para casa para preparar o almoço, senão se eu me atrasar, vou levar uma bronca terrível dos meus pais e irmãos — anunciou Anabela, criando uma desculpa para se despedir.
Essa afirmação não era exatamente uma mentira, pois as habilidades culinárias de Anabela eram reconhecidas e elogiadas por todos os membros da família Ribeiro.
Não sabia exatamente quando havia começado, mas além de frequentar as aulas na universidade, ela também se tornara responsável por preparar todas as três refeições diárias da família.
Isso acontecia porque Camila nunca comia as refeições preparadas pela empregada doméstica, então Anabela era obrigada a dormir mais tarde que um cão e acordar mais cedo que um galo para servir toda a família, mas agora ela havia decidido que não serviria mais ninguém.
Vera demonstrou certa confusão e não conseguiu conter sua curiosidade.
— A família Ribeiro não contratou uma empregada doméstica? Por que ainda é necessário que você volte para casa para cozinhar? — perguntou ela, intrigada.
