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Capítulo 3 Não precisa me agradar

Pedro Ribeiro não conseguiu conter a irritação que se formava em suas feições, franzindo o cenho enquanto dirigia um olhar severo à filha.

— Anabela, que tipo de atitude é essa? — questionou ele, com a voz carregada de desaprovação.

Anabela permaneceu imóvel por alguns instantes, processando a pergunta, antes de esboçar um sorriso que não chegava aos olhos.

— Minha atitude não está boa o suficiente, Sr. Pedro? — respondeu ela, enfatizando deliberadamente o tratamento formal.

Laura sentiu o rosto corar de constrangimento, e apontou o dedo em direção à filha com evidente reprovação.

— Anabela, esse homem é seu pai! Como você pode falar com ele dessa maneira? — repreendeu ela, com a voz tremula de indignação.

Gabriel Ribeiro, o terceiro irmão, deixou escapar uma risada sarcástica que ecoou pelo quarto do hospital.

— O que foi, Anabela? Está fazendo seu draminha de princesinha mimada novamente? — provocou ele, com desdém evidente na voz. — Olha só os maus hábitos que você desenvolveu, nem seus próprios pais reconhece mais. Se você deixar a família Ribeiro, não vai ser nada na vida.

— Sim, sim, você está certíssimo — concordou Anabela, enquanto se acomodava novamente na cama do hospital, assumindo uma postura que claramente indicava sua intenção de encerrar a conversa. — Se vocês não têm mais nada importante para discutir, podem sair. Preciso descansar, então não vou acompanhá-los até a porta.

Anabela refletia sobre como havia protegido Camila durante a fuga, acabando espancada pelos bandidos de forma ainda mais brutal, e agora permanecia internada no hospital enquanto a família vinha defender os direitos de Camila, que saíra ilesa de todo o incidente.

Repetindo exatamente a mesma trajetória da vida anterior, ela ainda nem havia recebido alta médica quando eles já tinham os olhos postos em sua vaga para o concurso de oratória.

Contemplando aqueles rostos repugnantes à sua frente, Anabela não sentia a menor vontade de continuar fingindo cordialidade com eles, desejando apenas que desaparecessem de sua vista o quanto antes.

Todos os presentes franziram o cenho diante da resposta inesperada, mas Nicolas explodiu em fúria imediatamente.

— Anabela, será que as pancadas afetaram seu cérebro? — gritou ele, com o rosto vermelho de raiva. — Você tem noção do que está dizendo? Como ousa nos expulsar daqui? Com que direito você faz isso?

Anabela virou-se de Costa para eles, recusando-se terminantemente a manter qualquer tipo de diálogo adicional.

Nesta vida, se Camila quisesse a vaga do concurso de oratória em inglês, que fosse comer merda!

Camila ergueu ligeiramente a cabeça, dirigindo o olhar para as Costa de Anabela, enquanto uma expressão de perplexidade e algo indefinível dançava em seus olhos.

Em seguida, curvou os lábios num sorriso sutil, pensando que Anabela aparentemente não era mais tão ingênua quanto antes.

Os membros da família Ribeiro exibiam expressões visivelmente constrangidas em seus rostos, e percebendo que Anabela permanecia inflexível como uma rocha, proferiram algumas ameaças antes de se retirarem do quarto.

A porta bateu com força ensurdecedora, e o som foi tão intenso que até mesmo um pedaço do reboco da parede próxima à porta se desprendeu.

Era fácil imaginar o nível de fúria que consumia os membros da família Ribeiro naquele momento.

Assim que a porta se fechou completamente, Anabela abriu os olhos, sentindo uma tranquilidade profunda e inexplicável se instalando em seu coração.

Descobrir que não ansiava mais pelo calor do afeto familiar, que não precisava mais ser a bobinha obediente, era uma sensação incrivelmente libertadora.

Na vida anterior, ela havia sido excessivamente confiante em si mesma, sempre acreditando que, se fosse suficientemente compreensiva e excepcional, conseguiria se integrar completamente àquela família, mas o que recebera em troca havia sido...

Em relação à família Ribeiro, ela já havia feito tudo que estava ao seu alcance e mais um pouco.

Já que havia ganhado uma segunda chance, precisava viver de forma digna, sem repetir os mesmos erros catastróficos do passado.

A porta foi empurrada novamente, e Anabela virou a cabeça com impaciência, descobrindo que quem havia retornado era Gustavo Ribeiro, seu segundo irmão.

Ele se aproximou da cama do hospital e dirigiu-se a Anabela com voz suave.

— Anabela, não seja tão teimosa assim. Será que é tão difícil assim obedecer papai e mamãe? — argumentou ele, tentando soar razoável. — Tenho certeza de que, se você pedir desculpas para Camila e prometer que nunca mais fará algo parecido, papai e mamãe não vão te abandonar.

Contudo, a única resposta que Gustavo recebeu foi o silêncio absoluto, já que Anabela mantinha os olhos fechados, recusando-se a engajar em qualquer conversa com ele.

Gustavo suspirou profundamente, resignado.

— Descanse bem, sua irmã está indo embora — murmurou ele antes de se retirar.

A porta se fechou mais uma vez, e após toda aquela discussão prolongada, Anabela sentiu a garganta ressecada, levantando-se da cama para sair em busca de água.

O corredor do hospital fervilhava com pessoas de todos os tipos que iam e vinham constantemente.

Anabela dirigiu-se ao bebedouro localizado num canto e bebeu vários goles generosos de água, sentindo-se finalmente aliviada.

Encheu o copo novamente, preparando-se para retornar ao quarto, quando se virou e deparou-se com um homem em cadeira de rodas posicionado atrás dela.

O homem possuía feições marcantes e profundas, vestia uma camisa de corte impecável com as mangas casualmente dobradas, revelando pulsos alongados e de pele clara.

Mesmo confinado à cadeira de rodas, era impossível ocultar o ar de nobreza e frieza que emanava de sua presença.

— He... Henrique — gaguejou Anabela, tentando cumprimentá-lo de forma adequada.

Ao ouvir a voz de Anabela, Henrique Souza ergueu seus olhos escuros como tinta, fixando o olhar nela.

— Hm? — murmurou ele, numa interrogação quase inaudível.

— Eu... eu sou Anabela, nos conhecemos anteriormente na família Cardoso — explicou ela, sentindo-se intimidada sob o olhar severo e imponente de Henrique, a ponto de sua fala se tornar hesitante e desajeitada.

Anabela já o havia encontrado duas vezes anteriormente, sabendo que ele era meio-irmão de Leandro Cardoso, e para ser mais precisa, qualquer pessoa ou assunto relacionado a Leandro sempre despertava sua atenção especial.

Segundo rumores, Henrique sofria de uma doença crônica desde a infância, mas demonstrava talento extraordinário nos negócios.

Ele controlava completamente as rédeas financeiras da família Cardoso, ocupando assim uma posição suprema dentro da família, embora fosse o filho mais velho, curiosamente não carregava o sobrenome Cardoso por razões desconhecidas.

Mais importante ainda, Anabela sabia que, dali a dois anos, Henrique morreria prematuramente devido à sua doença.

Pensando nisso, o coração de Anabela deu uma pancada descompassada, e quando olhou novamente para o perfil quase perfeito de Henrique, seus olhos refletiam uma complexidade de sentimentos.

Devido ao fato de que, na vida anterior, Anabela estava completamente obcecada pelos membros da família Ribeiro, ela não sabia exatamente quando Henrique havia falecido, apenas soubera da notícia posteriormente, o que a fez sentir uma melancolia persistente por algum tempo.

Henrique respondeu com indiferença evidente.

— Amiga do Leandro, da família de Pedro Ribeiro? — indagou ele, demonstrando conhecimento que surpreendeu Anabela.

Anabela acenou nervosamente com a cabeça, surpresa por ele estar ciente desses detalhes.

— Isso mesmo... — confirmou ela, com voz hesitante.

Embora o homem possuísse uma beleza masculina incomparável, seus olhos eram excessivamente frios, irradiando uma aura gélida que fazia Anabela se sentir desconfortável, levando-a a apertar inconscientemente o copo em suas mãos.

Na vida anterior, ela havia perseguido Leandro Cardoso com a devoção de um cãozinho fiel, e praticamente todo mundo conhecia essa história.

Durante suas duas visitas à família Cardoso, ela havia se esforçado desesperadamente para conquistar a simpatia de todos os membros da família através de bajulação e comportamento servil, acreditando ingenuamente que estava se saindo bem.

Mais tarde, descobriu que os membros da família Cardoso a viam como uma piada ambulante.

Nas Costa dela, todos zombavam de sua falta de dignidade como mulher, correndo atrás de homens de forma leviana e vulgar.

Anabela observou alternadamente o bebedouro e a cadeira de rodas de Henrique, antes de gentilmente tomar o copo das mãos dele.

Encheu-o com água fresca e devolveu-o a ele.

Henrique segurou o copo de água, estreitou ligeiramente os olhos penetrantes e disse com indiferença glacial:

— Não precisa me agradar. Eu não me envolvo nos assuntos do Leandro.

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