Capítulo 2 Confronto
Anabela ficou atordoada por um momento, enquanto memórias antes nebulosas de repente se tornaram cristalinas em sua mente.
Naquele ano ela tinha dezenove anos e havia acabado de ingressar na universidade há pouco tempo. No caminho de volta para casa com Camila, elas encontraram alguns valentões da rua, e ambas se feriram durante a resistência.
Claramente Anabela havia se machucado mais gravemente, mas toda a família veio correndo para confrontá-la e exigir explicações.
Anabela havia batido a testa com tanta força que precisou de vários pontos, enquanto Camila apenas tinha um pequeno galo na testa. Mesmo assim, queriam que ela carregasse a culpa de "instigar os bandidos a machucar a irmã".
Na vida anterior, seu pai de criação também a questionara da mesma forma. Anabela se esforçara para se defender e pedir desculpas, mas em troca recebeu apenas olhares frios — ninguém acreditaria em suas palavras.
Então desta vez, ela decidiu que não se explicaria mais. Afinal, mesmo que falasse, ninguém acreditaria.
Anabela voltou à realidade e perguntou com indiferença:
— Então ela morreu?
Pedro sentiu as pupilas se contraírem, ficou atônito por um momento e depois explodiu de raiva.
Pedro gritou com Anabela:
— Anabela, que tipo de pergunta é essa? Como você pode ser tão cruel a ponto de amaldiçoar sua irmã desejando sua morte?
O irmão mais velho, Rafael, ficou ainda mais furioso, com as veias saltando no pescoço. Correu até Anabela e a encarou de cima para baixo com olhar penetrante.
— Anabela, como é que temos uma parente tão malvada quanto você? Nunca deveríamos ter te trazido de volta. Devíamos ter te deixado lá fora para se virar sozinha.
Anabela apenas olhou profundamente para Rafael, sem dizer uma palavra.
Os outros irmãos avançaram para repreender Anabela, mas Laura os interceptou.
Laura se sentou perto da cama do hospital, segurou as mãos de Anabela e sorriu com ternura forçada no rosto.
— Anabela, mamãe sabe que você viveu sozinha desde pequena e sofreu muito. Depois que te trouxemos de volta, estamos tentando compensar o que te devemos, deixando você continuar estudando. Agora você está na universidade, enquanto muitas garotas da sua idade precisam fazer empréstimos para custear os estudos. Você deveria se sentir grata.
Enquanto falava, Laura gradualmente ficou com os olhos vermelhos:
— Você não deveria prejudicar sua irmã assim. Embora ela seja uma criança trocada no berçário, cresceu conosco desde pequena, e eu trato vocês duas igualmente. Você não deveria ter mais preconceitos contra ela, está bem?
Laura falava de forma mais doce que mel. Observando essa face hipócrita à sua frente e lembrando das palavras que Laura dissera no momento de sua morte, Anabela sentia como se estivesse abraçando um bloco de gelo em vez de sua própria mãe.
A oportunidade de os pais pagarem suas mensalidades universitárias era realmente rara.
Mas isso era apenas para demonstrar o poder financeiro e o status da família Ribeiro, garantir que cada filho fosse graduado em universidades de prestígio para não manchar a reputação familiar.
Camila morava no quarto da princesa, enquanto ela morava no quarto onde guardavam tralhas. Comida, roupas, tudo que usava, qual dessas coisas não eram sobras que Camila rejeitava?
E ainda tinha a coragem de dizer que tratava as duas igualmente? Isso era uma piada?
Além disso, mesmo com Anabela machucada daquele jeito, eles não demonstraram nem um pingo de preocupação, pelo contrário, vieram especialmente para confrontá-la.
Sem perguntar o que realmente aconteceu, apenas sabiam culpá-la cegamente.
Anabela deu um sorriso irônico, sem querer desperdiçar nem mais uma palavra.
O quarto irmão, Nicolas, não conseguiu mais aguentar e gritou diretamente com Anabela:
— Anabela, não seja tão exagerada! Você fez algo tão terrível com Camila e ainda não podemos falar nada? Normalmente deixamos você fazer suas birras, mas agora você está chegando ao ponto de amaldiçoá-la. Que intenções você tem?
O terceiro irmão, Gabriel, também concordou:
— Anabela, reconheça seu lugar. Tudo que você possui agora foi dado pela família Ribeiro. Do que mais você reclama? Você só ficará satisfeita se forçar Camila à morte?
O segundo irmão, Gustavo, abriu a boca querendo dizer algo, mas no final não disse nada, embora seus olhos claramente mostrassem decepção.
Anabela discretamente retirou a mão, com olhos completamente impassíveis, virou a cabeça para o lado, ela não queria mais discutir com eles.
Para pessoas que não acreditavam nela, cada palavra adicional parecia um desperdício.
— Ouvi tudo que vocês disseram. Então como pretendem me punir?
Com essas palavras, o quarto ficou repentinamente silencioso.
Como se não esperassem que Anabela falasse assim, Laura ficou levemente atordoada, com insatisfação transparecendo em seus olhos.
Pedro suspirou e disse:
— Já que é assim, passe sua vaga na competição de oratória para Camila. Você pode esperar e tentar novamente no próximo ano.
Anabela havia se inscrito nessa competição de oratória por causa de Leandro, querendo ter mais contato com ele.
Embora não gostasse muito do curso atual, por causa de Leandro ela vinha estudando com muito esforço, isso era algo que todos podiam ver.
Todas as pessoas presentes esperavam que ela chorasse e fizesse escândalo, mas quem diria...
Anabela sorriu:
— Está bem.
A velocidade dessa resposta foi tão rápida que deixou todos sem reação.
— Se Camila quiser mais alguma coisa, também posso abrir mão.
Desde pequena, situações como essa aconteciam com muita frequência. Anabela sempre achava que se aguentasse um pouco, tudo passaria.
Mas descobriu que estava errada. Dar um passo para trás nem sempre resulta em céus e mares amplos, às vezes pode resultar em aproveitadores que pedem cada vez mais.
