Provocador
— Você quer mesmo ir para casa, agora, Hannah?
Não havia sarcasmo na voz de Eric, agora, talvez uma leve ansiedade.
Eu hesitei. Ao mesmo tempo em que uma espécie de corda invisível me puxava na direção dele, as palavras de Rebeca martelavam em minha cabeça. Além disso, seu comportamento era horrível. Parecia sempre estar me testando e provocando para ver quando eu cairia.
— E o que você quer fazer?
Ele sorriu. O mato estalou não muito longe e eu levei um susto, me distraindo por um segundo. Sua mão subiu pelo meu braço e ele chegou ainda mais perto. Eu conseguia sentir o cheiro de cigarro mentolado na sua boca e o meu coração disparou.
— Vem comigo.
Enquanto eu seguia Eric para dentro da floresta, o caminho ficava cada vez mais difícil. Mas, também, cada vez mais bonito.
Andamos por cerca quinze minutos e eu já estava entregando os pontos quando percebi o sol a pino. Estava cansada, exausta, mas não reclamei. Ele andava um pouco a frente, parecendo muito seguro e a vontade se embrenhando na floresta densa. Estava suado, o cabelo desalinhado, e a camisa grudava em seu corpo, revelando o formato dos músculos.
Delicioso.
Senti o calor se espalhar no meu rosto.
— Você está ficando vermelha de novo. O que estava pensando, coelhinha?
— Nada.
— Nada? — Eric olhou para trás de relance. — Com certeza era alguma sacanagem para você estar vermelha assim.
— Claro que não!
Ele riu, me deixando ainda mais indignada.
— Eu acho isso bem bonitinho, sabia? O jeito que uma garota fica vermelha quando está com tesão.
— Você é tão ridículo, Eric. É um idiota.
— Idiota? Eu gostei. Estamos quase chegando. Você vai ver... vai ficar de queixo caído.
— E o que é?
O olhar dele para mim era maldoso.
— Gosta de esportes radicais?
— Esportes radicais?
— Rapel, tirolesa, bungee jumping? — contou nos dedos e, diante do meu olhar espantado, caiu na risada. Era um riso rouco e sonoro que fez vibrar do meu dedão do pé até o último fio de cabelo. — Fica tranquila, coelhinha. Não vou colocar você em perigo.
— Não sou medrosa, se é isso o que você está pensando.
— Ah não? — ele parou de andar e nossos corpos quase se chocaram. — Então por que está gritando?
— Como é que é?
No momento seguinte, Eric abriu um sorriso diabólico e me puxou pela cintura, me jogando com facilidade sobre os ombros. Soltei um grito agudo, enquanto ele andava, rápido, comigo entre os ciprestes. Foi um milagre não ter tropeçado em um arbusto e me levado para o chão junto.
— O que você está fazendo? — gritei, mas era tarde demais.
Mal tive tempo de ouvir o barulho do rio, antes de ser atirada dentro dele. Não era fundo, só o suficiente para mergulhar, mas por sorte, eu sabia nadar o bastante para me virar caso um maluco tentasse me afogar.
Olhei para cima, ensopada, e me deparei com seu olhar triunfante.
— Foi um castigo — ele sorriu, de braços cruzados. — Por ter me escutado escondido na noite passada.
— Idiota!
Eric apertou os lábios, com uma risada contida. Em seguida, fez uma coisa que eu não esperava. Arrancou a camisa pela cabeça, revelando aqueles músculos incríveis que me deixaram imediatamente sem fôlego. Esperou tempo suficiente para que eu pudesse admirá-lo e, só então, pulou no rio.
A água não estava gelada, mas meu corpo quente tremeu enquanto ele se aproximava com braçadas longas. Passei os olhos pelas costas bem definidas e bronzeadas. Senti uma vontade incrível de tocá-lo e meu coração disparou, subindo para a garganta.
Meu cabelo estava grudado no rosto. Eu devia estar o contrário de sexy, parecendo um pinto molhado. Ele mergulhou e seu corpo ficou submerso por um tempo antes de ele emergir bem de frente para mim. Estava tão perto que notei cada minúscula gota de água no seu corpo antes de sentir os olhos dele me queimarem de volta. Me olhava fixamente. Envergonhada, percebi minha camiseta branca já transparente, quando senti os mamilos enrugados e rígidos. Eu tinha tirado o suéter e, agora, estava totalmente vulnerável aos olhos dele.
Cobri os seios com os braços em cruz e Eric sorriu de lado.
— Gostou?
— Do que?
— Daqui. Este é o meu lugar preferido em toda essa merda de lugar — ele passou as mãos pelo rosto para tirar o excesso de água. — Aqui eu me sinto livre.
— Por quê? Por que quis me trazer?
Mas ele já havia mergulhado e desaparecido na água.
Fiquei olhando em volta, consciente de que o lugar era mesmo uma maravilha. O cheiro das folhas e da água limpa me inebriavam. Só não mais do que a presença de Eric. Sabendo que ele estava debaixo da água, provavelmente me pregando uma peça, meu corpo formigava de excitação, esperando o momento em que iria vê-lo de novo.
Em menos de trinta segundos, ele emergiu, mas apesar de toda a expectativa eu não estava nem um pouco preparada. Estava de novo perto de mim, mas dessa vez, às minhas costas. Senti seu calor antes mesmo de ouvir a voz dele.
— Quero que tenha uma boa lembrança desse lugar — sua voz era grave e baixa, e arrepiou minha pele. Suas mãos seguraram minha cintura, fortes e másculas, e eu prendi a respiração. — Ainda está com frio?
Lembrei dos mamilos duros e, rapidamente, sacudi a cabeça, em negativa. Mesmo assim, uma de suas mãos subiu pela minha barriga, se arrastando pela blusa molhada, até pouco abaixo da curva de um dos seios.
Abri a boca, arquejando. Eric abaixou a cabeça e encostou os lábios atrás da minha orelha.
— Não se assuste ainda, coelhinha.
Um barulho fora do rio, entre os arbustos, me fez pular com um sobressalto. Sem pensar, nadei em direção a margem, para longe de Eric, como se a minha vida dependesse disso. Quando cheguei em terra, ouvi vozes e risadas altas, e Sarah apareceu em seguida, acompanhada de um rapaz alto e musculoso, com olhos azuis zombeteiros.
—Hannah, o que está fazendo aqui? — ela me olhou, espantada. — Você está toda molhada.
— Não sei se você sabia, mas existe uma invenção nova por aí... chama-se roupa de banho — o cara junto a ela ergueu uma sobrancelha para mim, parecendo divertido com toda a situação. Mas quando viu Eric sair de dentro do rio, secando o corpo com a camiseta, seus olhos se arregalaram. — Caralho, é quem eu estou pensando? Eric Flynn!
Sarah me puxou para o canto, enquanto eu tentava, em vão, torcer meu suéter encharcado.
— O que aconteceu, Hannah?
— Nada, eu só me desequilibrei e acabei caindo no rio.
Os olhos dela se estreitaram.
— Você caiu ou o Eric te jogou lá dentro?
— Bom saber que você pensa tão bem de mim, irmãzinha — Eric se aproximou com o outro cara, que tinha um dos braços gigantes em torno dos ombros dele. Eu diria que eram grandes amigos, não fosse o fato de que o irmão de Sarah parecia absolutamente desconfortável.
— Nada além do que você merece, irmãozinho —ela sorriu, olhando de volta para mim. Estava com a pulga atrás da orelha. — E aí, Hannah? Não vai me dizer?
— Eu já disse, Sarah. Eu só caí, ele não me empurrou.
Ela não acreditou, claro, mas o assunto foi abafado quando seu amigo agarrou Eric pelo pescoço, com um golpe rápido, e bagunçou seu cabelo molhado. Eric se livrou do golpe e sacudiu o cabelo em todas as direções, respingando água sobre todo mundo.
— Chega, Eric — Sarah reclamou, rindo, mas ele fez de novo e o grandão caiu na risada e, depois, depressa, agarrou Sarah no colo, fazendo ela dar um gritinho. Ela olhou para mim com um sorrisinho deslumbrado. — Esse é Jack, meu namorado. Jack, quero que você conheça Hanna, a minha melhor amiga.
— Acabei de conhecer. Agora, você vai me pagar pelo que fez agora a pouco, Sarah Flynn — e ele correu com ela nos braços até estarem perto doo rio. Eu o vi balançá-la, uma, duas, três vezes, antes de jogá-la, aos gritos, dentro da água.
— O que é isso? Uma brincadeira típica de Star City? — eu provoquei Eric, porque queria me esquecer como os olhos dele brilhavam enquanto ele admirava o contorno dos meus seios por cima da camiseta.
— Uma brincadeira típica dos idiotas da cidade. Você gostou?
— Nem um pouco.
— Não era para gostar mesmo — ele ficou sério de repente. — Venha, vou te levar de volta para casa.
Eu quis perguntar “Por que?”, mas não ia dar essa confiança para ele, então apenas assenti e fui pegar o meu suéter, que tinha caído no chão pouco antes de ele me atirar no rio como um maldito homem das cavernas.
Quando me virei de novo para Eric, ele estava assistindo Jack e Sarah rirem e se afogarem de brincadeirinha na água. Seu olhar parecia perdido e distante. Seu humor tinha mudado completamente. Alguma coisa o havia incomodado com a chegada repentina dos dois... ou melhor, com a chegada de Jack.
— Vamos? — perguntei e ele piscou, algumas vezes, quando voltou a si.
— Vamos.
