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Capítulo 04 - O início de tudo (Parte 4)

ALANA

Um ano depois

Entre idas e vindas, quatro anos se passaram desde o início do meu relacionamento com John. O último rompimento foi tumultuado devido às agressões que sofri por parte dele. No entanto, ao decidirmos reatar, percebi uma transformação surpreendente. Enquanto eu trabalhava há pouco mais de um ano em um escritório, decidi embarcar em um curso rápido de idiomas com duração de seis meses. John, por sua vez, tornou-se neurótico e temeroso, constantemente preocupado com a possibilidade de traição de minha parte, o que transformou nossa vida em um caos novamente.

Com o tempo, notei que ele estava retornando a comportamentos controladores e possessivos. Embora não houvesse mais agressões físicas, suas palavras violentas causavam uma tristeza profunda. O relacionamento dos sonhos revelava-se bom demais para ser verdade, e minha intuição deveria ter me alertado. John estava praticamente tentando me manter em cárcere privado.

Num dia de discussão acalorada, decidi desafiar sua vontade e fui para o escritório, trabalhando normalmente durante todo o dia. Ao encerrarmos o expediente, meu sorriso desapareceu ao passar pela porta de saída, pois Jonathan estava à minha espera. Já sabia que uma nova discussão se aproximava. A tensão no ar era palpável, e a sensação de estar aprisionada em meu próprio relacionamento tornava-se cada vez mais evidente.

— Se divertiu bastante pelo jeito, não é? — Ele perguntou, com ironia em suas palavras. Decidi não contribuir com os insultos, permaneci em silêncio. — Estava toda arreganhada sorrindo com aqueles filhos da [censurado] que trabalham com você, não é? Mas hoje isso vai mudar, Alana! — Ele continuou falando, fazendo um trajeto diferente do habitual. Entramos em uma rodovia, e a atmosfera tornou-se mais tensa.

— John, onde você está indo? — Perguntei desconfiada.

— Cale a porra da boca! — Ele gritou, visivelmente enfurecido. Ao olhar para trás, deparei-me com uma pá do tipo usada por pedreiros, o que aumentou meu temor. Desesperei-me e abri a porta do carro, mas a movimentação de carretas e caminhões tornava impossível qualquer tentativa de fuga.

Senti fortes pancadas no meu braço. John estava me agredindo, e só parou quando fechei a porta novamente.

— O que pretende fazer? — Perguntei, quase engasgando com meu próprio choro.

— Já que você não faz do jeito que eu quero, vou dar um fim nessa merda! — Um sorriso maquiavélico surgiu em sua boca.

— John, por favor, eu te imploro, não faça besteira, não faça nada que você possa se arrepender depois! — Implorei chorando, mas ele não respondeu, apenas continuou a dirigir.

Ele percorreu uma região isolada da cidade, adentrando uma estrada que o levou a um matagal. Após cerca de quinze minutos, estacionou o veículo, apertou firme o volante, inclinou a cabeça e soltou um grito horripilante.

— Veja o que você me obriga a fazer, sua maldita! — Desferiu um soco em meu rosto, apontando uma faca na minha direção. Logo, uma intensa dor tomou meu braço. Ao olhar, constatei horrorizada que o sangue escorria; ele havia me cortado com a lâmina. — Saia do carro! — Bradou, e obedeci prontamente.

As lágrimas escorreram pelo meu rosto, enquanto o céu se tingiu de escuridão, cercado apenas pelo matagal, uma vegetação densa e impenetrável. Ele agarrou a pá que repousava no banco traseiro, forçando-me a ajoelhar diante dele. Em questão de segundos, deu a volta, permanecendo imóvel atrás de mim. Instintivamente, fechei os olhos com força, antecipando o inevitável desfecho. Ouvi passos que se aproximavam e, em um momento tenso, percebi que ele novamente estava parado à minha frente. Com brutalidade, ergueu meu rosto, forçando-me a encarar seus olhos penetrantes, selando um momento aterrador.

— Quando estiver no inferno, espero que encontres a redenção pelo que estou prestes a fazer! — Ele arregalou os olhos e, novamente, desferiu um soco em meu rosto.

Foram inúmeros socos, o gosto metálico do sangue inundou minha boca. Naquela situação deplorável, restava-me apenas orar. Comecei a clamar em pensamento, pedindo a Deus que me libertasse desse pesadelo. Olhando ao redor, percebi que ninguém encontraria meu corpo naquele lugar deserto; era o cenário perfeito para um crime sem testemunhas. O desespero e o medo me dominavam, mas persisti em minhas preces até o último suspiro.

Subitamente, o celular dele tocou, desviando sua atenção por um breve instante. Era a oportunidade pela qual eu suplicava a Deus. Levantei-me rapidamente e corri. Ele deu início à perseguição, lançando a faca em minha direção. A lâmina cravou-se em minhas costas, mas a adrenalina encobriu a dor. Continuei correndo desesperadamente, sem enxergar nada diante de mim na escuridão. A perseguição persistiu por um tempo, mas logo percebi que ele desistira. Mesmo assim, não parei, correndo incansavelmente pela noite. Estimava que haviam se passado cerca de uma hora nessa corrida frenética pelo matagal.

À distância, avistei luzes em uma área ampla à minha frente. Forçando meus olhos inchados para confirmar o que via, as pancadas que havia sofrido prejudicavam minha visão. À medida que me aproximava das luzes, percebi que se tratava de uma fábrica. Sem saber exatamente onde estava, a única certeza era que estava viva e precisava desesperadamente de ajuda. Aproximei-me da imensa portaria, com a respiração faltando devido à exaustão da corrida. Minhas pernas estavam fracas, e com muita dificuldade, sinalizei para um vigilante na guarita. Ele veio até mim, iluminando a área com uma lanterna quando me sentei.

— Moço, pelo amor de Deus, preciso de ajuda, tentaram me matar! — Ele me pegou no colo e me conduziu para dentro da guarita.

— Quem fez isso com você? Tem uma faca pendurada nas suas costas! — Exclamou ele, completamente espantado.

— Foi o homem com quem eu morava, por favor, chame a polícia! — Disse eu, praticamente sem voz, muito fraca devido à perda de sangue. O homem rapidamente acionou a polícia, e em questão de dez minutos, inúmeras viaturas chegaram. Pediram o contato de alguém próximo, e acabei fornecendo o da Daniela. Fui levada às pressas para o hospital mais próximo para cuidar dos ferimentos, passando por uma cirurgia para remover a lâmina cravada nas minhas costas.

***

Acordei algumas horas após a cirurgia, e minha visão estava turva devido ao inchaço ao redor dos olhos, que aumentara consideravelmente. Uma voz familiar, cheia de lágrimas, soou ao meu lado: era a voz do meu pai. Esforcei-me para visualizá-lo, mas só conseguia discernir pequenos vultos embaçados. "Quem chamou meus pais aqui? Certamente foi a Daniela!", pensei.

— Alana, quase perdemos você! Por que decidiu voltar com aquele maldito? Por que não nos disse nada? — Meu pai perguntou em prantos.

— Eu pensei que ele fosse melhorar, pai, mas me enganei completamente! — Falei com dificuldade, pois minha boca também estava inchada.

— Pelo amor de Deus, Alana, me promete que nunca mais vai voltar com aquele rapaz. Ele vai te matar se você voltar com ele! — Meu pai implorou, extremamente desesperado. Nunca o tinha visto chorar, e naquele dia, ele desabou. Testemunhar meu pai naquela situação desesperadora partiu meu coração.

— Eu prometo, não quero vê-lo nunca mais! — Senti os braços do meu pai me abraçando forte.

— A polícia foi na sua casa, aquele maldito fugiu! — Minha mãe informou. — Claro que ele iria fugir, ele é um grande covarde. Fez isso com uma mulher, queria vê-lo fazer com um homem! — Notei que ela estava bastante impaciente.

— Alana, quando você tiver alta, iremos até aquela casa pegar suas coisas. Você vai ficar no meu apartamento, a polícia nos acompanhará no caso daquele infeliz aparecer por lá de repente! — Daniela falou, e eu apenas concordei com a cabeça.

Minha recuperação foi incrivelmente lenta. Em certo momento, a curiosidade sobre o estado do meu rosto tomou conta de mim. Foi nesse instante que encarei meu reflexo no espelho e constatei que estava completamente devastado. Não conseguia acreditar que alguém que eu amava profundamente e que afirmava me amar tinha causado tal estrago em mim.

Na minha mente, uma torrente de perguntas surgia incessantemente. Eu buscava desesperadamente uma explicação para como alguém poderia chegar ao ponto de perpetrar um ato tão absurdo contra uma mulher indefesa, no entanto, não encontrava resposta. Em minha cabeça, eu me culpava incessantemente, acreditando que deveria ter sido melhor para ele.

Passei quase um ano trabalhando em home office, enclausurada pela vergonha de mostrar as marcas em meu rosto. As escoriações levaram cerca de nove meses para finalmente desaparecer, mas o peso emocional persistia, marcando uma ferida invisível que levava mais tempo para cicatrizar.

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