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Capítulo 04. Beijos proibidos (Parte I)

"Quando o amor se torna um crime... só resta queimar tudo que os separa.”

O jardim imperial estava silencioso naquela manhã, como se até a própria natureza conspirasse para manter um segredo. As cerejeiras, delicadas e esplêndidas, balançavam suavemente ao ritmo do vento, espalhando pétalas rosadas que flutuavam pelo ar, caindo lentamente sobre o gramado verde. O aroma doce das flores misturava-se ao frescor úmido da manhã, criando uma atmosfera quase mágica.

Celine caminhava com passos leves, os dedos deslizando sem pressa pelas pétalas macias, absorvendo cada nuance daquele momento de calma. Um som sutil de passos aproximando-se por trás dela fez seu coração acelerar numa mistura de surpresa e antecipação. Ela nem precisou se virar para saber quem era; conhecia bem aquele caminhar firme, aquela presença que parecia preencher qualquer espaço com sua intensidade.

— Está me seguindo, alteza? — perguntou, a voz carregada de provocação, o canto dos lábios curvado num sorriso que desafiava.

— Eu... só estava passando — Kaelan respondeu, visivelmente ruim em disfarçar a mentira, a hesitação tremendo na voz.

Ela se virou lentamente para encará-lo. Ele estava ali, a poucos passos, com aquele olhar profundo e penetrante que tinha o poder de apagar o mundo ao redor. O vento brincava com os fios soltos do cabelo dele, e o brilho dourado da armadura refletia a luz do sol nascente como se tivesse sido feito sob medida para fazê-la esquecer até como respirar.

— Passando... pelo jardim isolado, no lado oposto da fortaleza... durante o treino dos guardas? — Ela cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha em uma expressão desafiadora.

Kaelan não disse uma palavra. Apenas avançou um passo, depois outro, reduzindo a distância entre eles. O ar ao redor parecia ficar mais denso, como se toda a energia daquele espaço se comprimisse apenas para eles.

— Celine... — murmurou ele, a voz grave e rouca, carregada de uma urgência contida, como se cada palavra pudesse ser a última.

Ela tentou falar, tentou protestar, mas as palavras se perderam na garganta. No instante seguinte, as mãos de Kaelan envolveram seu rosto com delicadeza e firmeza ao mesmo tempo, e seus lábios se encontraram num toque terno, quase reverente. Um instante breve, como se ele testasse a realidade daquele momento.

Mas foi só o começo. O beijo se aprofundou, ardente e intenso, uma mistura de desejo reprimido e veneração silenciosa. As mãos de Kaelan deslizaram para a cintura dela, puxando-a para mais perto, como se quisesse gravar aquele instante na alma, para nunca mais esquecer. Celine respondeu ao chamado com igual intensidade.

Seus dedos se embrenharam nos cabelos dele, puxando-o com vontade, enquanto seu corpo se moldava ao dele. O mundo inteiro desapareceu, as intrigas do império, o peso do destino, o tempo… nada mais existia além daquele toque, daquele fogo compartilhado.

— Pelos deuses... — Kaelan sussurrou contra os lábios dela, ofegante quando se separaram por um instante. — Eu não devia ter ferido sua honra... vou resolver isso me casando com você.

Celine arregalou os olhos, surpresa, e então riu, um riso verdadeiro, solto, que escapou do fundo da garganta.

— O quê? Casar?

— Vou. Está decidido. — Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, completamente encantado, perdido naquele momento, fascinado. — Preciso. Não há outro caminho.

Ela levou a mão aos próprios lábios, ainda tentando conter o sorriso divertido.

— Alteza... de onde eu venho, os homens beijam as mulheres sem necessidade de casamento.

Ele piscou, parou abruptamente, ficou pálido e logo corou.

— O quê? — Seus olhos se abriram em choque. — Então algum homem já te beijou lá na sua terra?

Em menos de um segundo, a mão dele foi firme até a empunhadura da espada.

— Qual o nome dele? — A voz era grave, carregada de ciúme e autoridade. — Eu exijo saber. Juro pela honra do meu nome... quero a cabeça desse insolente.

Celine cruzou os braços, estreitando os olhos com um brilho de desafio.

— E se eu disser... que foram mais de um?

Kaelan congelou por um instante, como se tivesse esquecido de respirar. A mão apertou com força a espada, os olhos faiscaram como lâminas.

— Mais... de um? — A voz dele subiu de tom, quase um rugido contido. — Isso é... isso é... — Ele começou a andar de um lado para o outro, a mão firme no cabo da espada. — Isso é uma afronta à sua honra. Ao meu nome! Ao nosso vínculo! Onde estão? Estão vivos? DIGA!

Por trás de uma das colunas, uma sombra observava tudo com os olhos semicerrados e os punhos cerrados. Aric, com um sorriso cruel se formando nos lábios.

— Perfeito... — sussurrou ele para si mesmo. — Perfeito.

Enquanto armava mentalmente seu plano para desmoralizar o irmão, a cena diante dele parecia um presente do destino para o caos.

— Você ficou louco? — Celine perguntou, incrédula, recuando dois passos diante da espada desembainhada. — Alteza, eu estava brincando!

— Não acredito. — Ele bufou, apontando a lâmina para o chão. — Você ousa brincar com algo tão sério assim?

Ela respirou fundo, levou a mão à testa, cansada da tensão.

— Não, não teve ninguém. Está bem? Nenhum beijo. Nenhum homem. Nenhuma história. Só queria provocar você.

Kaelan estreitou os olhos, avaliando cada expressão, cada gesto.

— Juro que se eu descobrir que alguém ousou te beijar…

Com um estalo, embainhou a espada.

— Eu juro, Celine. Corto a cabeça do primeiro que ousar encostar um dedo em você. Nenhum homem, NENHUM, jamais vai te tocar. Somente eu. Só eu. — Sua voz baixou, intensa, ameaçadora, mas cheia de um amor feroz. — E quem ousar... eu corto, rasgo e jogo para os abutres.

— Pelos céus... — Celine levou as mãos à boca, uma mistura de surpresa, indignação e divertimento estampados no rosto. — Você é louco.

Ele cruzou os braços, firme.

— Louco. Por você.

O silêncio voltou, pesado, até que ela sorriu, aquele sorriso que fazia qualquer império parecer pequeno diante deles. Nas sombras, Aric se afastou, a mente fervilhando de planos.

— Se é assim... — Murmurou — ...vamos ver até onde chega essa paixão idiota.

***

O salão do conselho estava repleto. Nobres, conselheiros e membros da corte formavam um círculo ao redor da imponente mesa central, seus sussurros tecendo uma atmosfera carregada de desconfiança. O ar parecia denso, como se uma tempestade se aproximasse. Aric ergueu-se lentamente, seu olhar afiado varrendo a assembleia, a voz cortante e venenosa.

— Trago uma questão... delicada. — A pausa foi calculada, o silêncio se estendeu como uma lâmina pronta para ferir. — Todos aqui sabem que o sangue real deve permanecer puro. A linhagem Daryen não se mistura... com forasteiros.

Murmúrios inquietos ecoaram pelos cantos do salão. O velho conselheiro Ju Shen, de sobrancelhas arqueadas, perguntou em tom grave:

— E o que exatamente quer insinuar, príncipe Aric?

Com um suspiro teatral, Aric tocou o peito em falso sofrimento.

— Eu presenciei, com meus próprios olhos — e fez um gesto dramático — o Príncipe Herdeiro beijando uma mulher sem clã, sem linhagem, sem nome. Aquela forasteira cuja origem desconhecemos. — Avançou um passo, as palavras afiadas como punhais. — E o que é pior, ouvi dela mesma que já foi beijada... por outros homens antes de chegar aqui.

O burburinho se transformou em um clamor abafado. Alguns entreolharam-se assustados, outros arregalaram os olhos, chocados. Kaelan levantou-se de repente, tão abrupto que a cadeira caiu no chão, fazendo um estrondo.

— CHEGA! — Sua voz trovejou no salão. — Você deturpa tudo de forma vil, Aric. Ela apenas me provocava, e você sabe disso. Não se atreva a lançar dúvidas sobre sua honra aqui.

O sorriso frio de Aric foi um veneno.

— Claro, irmão. — Fez uma reverência falsa, sarcástica. — Se a honra de uma forasteira vale mais que a pureza da linhagem imperial, assim seja.

O imperador bateu o cajado com firmeza, silenciando a sala, mas o estrago já estava feito. Olhares atravessavam-se, carregados de suspeita e julgamento velado. O ar parecia pesado, como antes de uma tempestade.

— Talvez devêssemos nos livrar dela — sugeriu o conselheiro Shen, a voz baixa, mas cortante, como uma lâmina escondida.

Kaelan se levantou num movimento brusco, a determinação estampada no rosto.

— Qualquer um que ouse machucá-la sentirá o peso da minha espada. — A voz do Príncipe Herdeiro ecoou pelo salão, firme e cheia de autoridade.

Um silêncio mortal caiu sobre todos. Ninguém ousou contestar. O restante da reunião seguiu carregado de tensão, como se cada palavra fosse um passo perigoso em terreno minado.

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