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CAPÍTULO 3

Patrícia.

Saí daquela sala batendo a porta com toda força e raiva que havia em meu corpo.

Aonde já se viu "o" homem vir querer me ensinar como trabalhar, ele pode ser um homem inteligente e muito bem sucedido, mas eu sei muito bem o que fazer e como executar o meu trabalho sem a ajuda de ninguém.

Eu sei que aprendemos coisas novas todos os dias e tudo pode servir como aprendizagem, mas pude vê em seu olhar que ele estava duvidando da minha capacidade, é sempre assim, as pessoas vêm que sou mulher e me enchem de questionamentos como se uma mulher não pudesse ser uma agente, como se "isso" fosse feito apenas pra homens.

- está tudo bem?- Douglas perguntou quando parei ao seu lado.

Fechei os olhos dando um suspiro em busca de me acalmar, abri os olhos o encarando e acenei com a cabeça confirmando.

- O Caio é um homem muito cheio de regras e manias, ele deve estar receoso, ainda mais por ser uma mulher em frente ao caso...- ele falou com tranquilidade.

O encarei de relance, mas decidir manter minha calma e não rebater o seu comentário, eu fiquei em silêncio de pé ao seu lado encostada na parede olhando a "movimentação" da casa, na verdade não estava acontecendo nada, mas como o cara estava plantado ali eu decidi o imitar.

Ele está de pé ao meu lado fumando um cigarro, o olhar dele está sobre mim e ele me encara com um certo afinco, me virei em sua direção e levantei uma sobrancelha.

- você quer me fazer alguma pergunta?- o questionei sem entender seus olhares sobre mim.

Ele jogou seu cigarro no chão apagando o mesmo com pé, deu um sorriso de lado e deu um passo a frente.

- você é uma mulher muito bonita, não acho que essa é a profissão ideal pra você...- ele diz com a maior tranquilidade do mundo, com um sorriso nos lábios e tudo.

Inclinei a cabeça sem entender sua pergunta, cruzei os braços e cerrei os olhos.

Essa é a coisa que eu mais escuto todos os dias "mas você é mulher, não é muito perigoso", pra mim essa pergunta já faz parte do meu dia a dia e hoje eu nem esquento a cabeça, mas vamos vê até aonde essa conversa pode ir.

- por que?- perguntei mantendo minha postura.

Ele deu uma risadinha dando os ombros e balançou a cabeça.

- você sabe, é uma área aonde você corre riscos todos os dias, uma mulher não está pronta pra algo assim...- ele diz como se aquilo fosse normal.

- eu estou ciente de onde eu estou pisando e não tenho receio de nada, se eu tivesse medo da morte não levantaria da cama manhã atrás de manhã!- afirmei.

Ele deu os ombros ignorando minhas palavras.

- você não deve ter um homem, não é?! Até porque um homem jamais aceitaria se casar com uma mulher que quer bancar a poderosa.- ele diz em um tom sarcástico tentando me provocar.

Dei um sorriso irônico e me irei olhando no fundo dos seus olhos.

- realmente, homem nenhum aceita se relacionar com uma mulher mais "poderosa" que ele, geralmente "homens" como você gostam de mulheres alienadas que aceitam tudo que vocês dizem, realmente deve ser muito difícil pra você se relacionar com uma mulher que não lambe o chão que você pisa.- disse mantendo o meu sorriso nos lábios.

O sorriso irônico que estava no rosto dele sumiu em segundos, sua expressão mudou e uma feição carrancuda se formou em seu rosto, ele fez questão de se afastar de mim e ficou me encarando de longe com ódio nos olhos, já eu me mantive inerte, fiquei em meu lugar fazendo o meu trabalho normalmente.

A porta de vidro da sala que dá acesso a área da piscina foi aberta e "aquele" homem saiu pela mesma, sua expressão está mais contida, ele carrega uma pasta de couro fino em suas mãos e caminha com feição fechada.

- você vem comigo, você pode descansar o resto da tarde...- ele praticamente ordenou me encarando.

Douglas caminhou em nossa direção parando ao meu lado.

- mas senhor, você tem certeza?- ele perguntou levantando uma sobrancelha.

"Ele" o encarou de relance, mas desviou seu olhar me encarando novamente, o jeito que esse homem me encara de deixa totalmente desconfortável, é como se o ar fugisse dos meus pulmões.

- eu tenho certeza, você pode descansar Douglas...- ele respondeu sem exitar.

Douglas acenou com a cabeça, mas a expressão em seu rosto transpareceu o quão irritado ele estava com aquela decisão.

O senhor Araújo seguiu para o carro e eu me mantive atrás dele a todo momento.

Ele passou por mim abrindo a porta do carro e eu fiquei parada sem saber o que fazer.

- você não vai entrar?!- ele disse levantando uma sobrancelha.

Respirei fundo e me dirigi até a porta do carona, abri a mesma entrando no carro.

Ele ligou o carro dando partida e saiu pela enorme área daquela casa, eu nunca havia visto ninguém tão fissurado em segurança, a casa é tomada por câmeras, cercas elétricas, fora os seguranças pessoas que ficam na chegada da casa.

- posso fazer uma pergunta?- ele já perguntou e me encarou de relance através do retrovisor interno.

Desviei o olhar da estrada, cerrei os olhos, mas afirmei com a cabeça.

- por que seus companheiros de trabalho a apelidaram com codinome Pit Bull?- ele perguntou me fazendo engasgar com a própria saliva.

Endireitei minha postura ficando totalmente ereta e dei os ombros.

- eu não sei, nunca entendi o motivo desse apelido...- menti sem exitar.

Pude sentir seu olhar em mim, mas não dei importância, me mantive inerte encarando a rua através da janela.

Não demorou muito pra chegarmos ao seu destino, só ali descobri que ele estava se dirigindo ao fórum, ele estacionou o carro em uma vaga especial, se dirigiu até o elevador e eu apenas o segui calada, sem dizer uma palavra se quer.

Quando paramos no quarto andar ele seguiu pra sua sala e eu fiquei plantada na porta, eu realmente não entendo o porque da minha escalação pra essa missão.

Passei grande parte do dia parada na porta daquela sala, pelo visto ele ficou preso lá o dia inteiro em algumas reuniões.

Quando deu exatamente cinco horas da tarde a porta da sua sala foi aberta, ele saiu pela mesma sem terno e com os botões superiores da sua camisa abertos, eu não sei se a solidão ou a carência, mas eu senti um fogo subindo por minhas pernas e meus olhos se perderam no corpo daquele homem.

Minha mente me advertiu me mandando manter a lucidez, subi meu olhar e meus olhos se cruzaram com seus olhos castanhos, ele me encara com uma expressão indescritível, eu sempre consigo ler as pessoas pelos olhos, mas é impossível saber o que ele está pensando e isso me tira do sério.

- já está ficando tarde, não fica aí parada me olhando.- ele disse com uma certa rispidez, uma grande rispidez pra ser sincera, quem esse homem pensa que é pra falar comigo dessa maneira? Se ele não fosse um juiz eu ia mandar ele ir pra um lugar bem agradável.

Cerrei os olhos e tranquei a mandíbula.

- sim senhor!- respondi entre dentes.

Ele seguiu para o elevador esbanjando superioridade, e eu o segui como se fosse sua babá, o caminho de volta pra casa foi mais complicado, o trânsito estava um pouco congestionado então ficamos uns quinze minutos parados e presos dentro do carro, quando ele estacionou o carro na garagem eu agradeci aos céus, sai do carro e quase tive um orgasmo quando me vi livre daquele carro.

- Pit Bull?- ele me chamou assim que pisei fora do carro.

Paralisei no mesmo segundo, por que ele está me chamando assim? Não quero que ele me chame assim!

Me virei o encarando.

- por que você está falando isso? eu não quero que você me chama assim...- respondi com receio, eu não bem o que é, mas não quero que ele me veja como a agente maluca e descontrolada que sai arrancando a orelha das pessoas por aí.

Ele cerrou os olhos dando um passo a frente, deu um sorriso irônico e deu os ombros desviando seu olhar do meu.

- por que não? Todos te chamam assim...- ele diz.

Mantive minha postura.

- você não é meu colega de trabalho, não intimidade pra isso...- falei a primeira coisa que veio a minha mente.

Ele balançou a cabeça.

- bem que seu superior avisou que você era carne de pescoço, maldita hora que eu aceitei seus serviços.- ele diz com um tom superior.

- eu também não estou nada feliz de estar nesse fim de mundo servindo de babá pra um homem da sua idade, olha pra mim, eu sou uma agente experiênte, deveria estar em algo mais excitando que isso...- acabei falando de mais.

Ele caminhou em passos duros em minha direção, parou bem em minha frente e elhou em meus olhos.

- pois sinta-se grata, porque se não fosse esse "casinho" você com certeza estaria sem emprego, essa é minha casa e você está aqui a trabalho pra cumprir ordens, ou você trabalha do  jeito que eu quero ou pode ir embora!- ele afirmou olhando em meus olhos, a sua voz soou em um tom superior e soberbo.

Eu não tive respostas, não consegui abrir a boca pra responde-lo pela primeira vez em minha vida, eu apenas me calei e assenti com a cabeça, ele deu as costas e entrou em sua casa, já eu? Fiquei parada feito uma idiota no mesmo lugar por bons minutos.

Aquela foi a primeira vez em anos que me calei em frente ao alguém, no mesmo segundo eu tive certeza que até o final desse caso e eu esse homem teremos grandes problemas.

.

.

.

Cá estou eu, deitada em minha cama enquanto passa um filme na televisão, pra ser sincera eu ao menos sei do que esse filme se trata, depois de uma semana inteira trabalhando na casa daquele granfino metido a besta eu já estou sem neurônios, graças aos céus hoje é meu dia de folga, a única coisa que eu quero é ficar trancada dentro desse quarto o dia inteiro.

Eu já estava quase praticamente dormindo, mas barulhos de gritos femininos me fez despertar no mesmo segundo, me levantei da cama correndo em direção a porta, quando eu abri a mesma dei de cara com sangue no chão e uma mulher com o rosto machucado, sua boca está com um grande corte e o seu nariz está sangrando.

- moça, o que houve?- perguntei assustada com aquilo.

Ela me encarou com os olhos cheios de vergonha e abaixou a cabeça, pelo seu olhar eu já entendi bem o que tinha acabado de acontecer.

- ele ainda está aqui?- a questionei baixinho.

Ela negou com a cabeça rapidamente, pude vê que ela estava chorando.

- ele fugiu, saiu correndo...- ela respondeu com a voz embargada.

Entrei correndo em meu apartamento, abri a gaveta pegando minha arma e sai pela porta.

Ela arregalou os olhos assim que me viu com uma arma na mão, óbvio que não irei atirar nele, apenas tentarei conte-lo até a chegada de uma viatura.

- o que você vai fazer?- ela pergunto afobada.

Sai pela porta fechando a mesma atras de mim.

- eu vou atrás dele, não se preocupe eu sou uma policial, sei bem como lidar com essa situação.- respondi com firmeza.

Ela me segurou pela mão me impedindo de sair dali.

- não, ele já se foi, não vai adiantar ir atrás dele...- ela praticamente me pediu.

Abaixei minha arma no mesmo segundo e olhei no fundo dos seus olhos.

- isso não aconteceu pela primeira vez, não é?- perguntei mesmo sabendo a resposta.

Ela abaixou a cabeça e voltou a chorar.

- mas dessa vez foi minha culpa, eu não deveria ter provocado ele, eu não deveria...- ela respondi desolada.

Senti meu peito apertar ao ver aquela situação, ela é apenas mais uma das milhares de mulheres que passam todos os dias por essa situação, é sempre a mesma história, é incrível o jeito que esses homens manipulam essas mulheres.

- entra, eu vou fazer um curativo em seu rosto e a gente vai conversar, tudo bem?!

Ela me encarou por alguns minutos com dúvida no olhar, mas acabou aceitando, ela se sentou em uma das cadeiras e eu me sentei em sua frente, lhe dei um copo de água com açúcar e limpei o seu rosto.

- ele é seu marido?- perguntei enquanto faço o curativo.

Ela negou com a cabeça.

- ele é meu namorado, estamos a três anos juntos...- ela respondeu um pesar na voz.

- eu sei bem como você deve estar se sentindo, você sabe que o que ele faz é errado, mas não é forte o bastante pra terminar o que vocês têm.

Ela levantou o olhar me encarando e acenou com a cabeça.

- exatamente isso, eu sou dependente daquele desgraçado, eu larguei tudo que tinha por causa dele, você sabe como é, não sabe?- ela perguntou.

Neguei com a cabeça.

- não, não sei...- respondi com sinceridade.

Ela cerrou os olhos, mas se arrependeu um segundo depois pela sua expressão de dor que ela fez.

- você nunca amou tanto alguém que largou tudo pra viver um amor com essa pessoa?!

Voltei a negar com a cabeça.

- não!- afirmei olhando em seus olhos.

Terminei o curativo e coloquei minha caixa de primeiros socorros no chão, ela me encarou timidamente e voltou a beber no seu copo de água.

- se fosse você em meu lugar, o que você faria?- ela perguntou olhando em meus olhos.

Me levantei no mesmo segundo e dei um suspiro.

- com certeza ele não estaria nada bem nesse momento.- respondi com franqueza - mas me diga, o que levou a essa briga?- a questionei cruzando os braços.

Ela se levantou deixando o copo de água de lado.

- meu sonho sempre foi fazer engenharia, eu comecei uma conversar em fazer o vestibular e ele surtou...ele me proibiu de fazer a faculdade e quando eu o questionei ele me bateu...- ela respondeu aos prantos.

Suspirei fechando os olhos, logo depois caminhei em sua direção.

- pode dar um conselho?! Se você tem que desistir dos seus sonhos por causa de um relacionamento você tem reavaliar esse relacionamento urgentemente, homen nenhum no mundo merece um sacrifício desse tamanho, você acha mesmo que vale a pena jogar um sonho pro alto por causa de alguém que não te valoriza, por alguém que te agride?- a questionei.

Ela negou com a cabeça.

- mas eu não consigo viver sem ele, eu não consigo...- ela disse voltando a chorar.

Levantei seu rosto com minha mão e olhei no fundo dos olhos dela.

- olha, você acha mesmo que essa é a última vez que ele te bateu?! Pois não é, ele vai te bater até chegar em um extremo aonde ele acabe sua vida, aí não terá mais relacionamento, nem sonho e nem vida, é isso que você quer pro seu futuro?! Acabar com morta por causa de um homem possessivo, amiga, homem não vale tudo isso, eu nunca arriscaria minha vida por causa de homen nenhum desse mundo.- fui franca.

Ela não respondeu nada, ela apenas me abraçou, eu não esperava aquele gesto vindo dela, mas confesso que me senti feliz por dentro.

- eu vou pegar minhas coisas e vou pra casa da minha mãe, todo mundo vira a cara pra mim no prédio por causas dessas brigas, eles já nem se importam mais comigo, obrigada por me enxergar.- ela disse limpando as lágrimas em seu rosto.

Acenei com a cabeça.

- eu também sou mulher, entendo a dor que você está passando.

Ela ficou mais alguns minutos ali, eu a acompanhei até o seu quartinho e a ajudei com as malas, quando estávamos descendo pra pegar o taxi notei alguns cochichos vindo dos vizinhos, mas naquele momento eu me senti grata por estar ali e ter ajudado aquela mulher de alguma forma, talvez minha missão possa ir muito além da adrenalina das ruas, talvez eu possa finalmente encontrar uma parte que eu não conhecia em mim...

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