Capítulo 6
—Pen, o semáforo está verde. —Dave me tirou dos meus pensamentos e eu acelerei enquanto olhava para a frente para ver a estrada. Senti o olhar de Dave sobre mim pelo canto do olho e apertei os lábios na esperança de que ele não visse minha expressão de surpresa.
—Você vai ver o Patrick hoje? —ele perguntou, e eu balancei a cabeça negativamente enquanto virava à esquerda—. Não. Por quê?
—Não sei. Você se veste diferente quando não o vê. Você nunca usaria isso se ele pudesse te ver. —Ele comentou e eu franzi a testa ao ver minha roupa. Eu estava usando uma saia e um top com apenas um ombro coberto. —É muito revelador?
—Não, de jeito nenhum. Você está bonita. Você sempre está elegante, você sabe disso. Embora ele pensasse o contrário.
Eu dei de ombros. —Não sei. —Era mentira, eu sabia. E ele estava certo. Patrick comentou que eu estava muito nua e muito vulgar para um dia de trabalho. Ficamos em silêncio, e eu estava muito ciente de que Gabriel estava no carro, ouvindo a conversa.
Levantei os óculos escuros para proteger o cabelo enquanto o vento entrava pelas janelas e procurei contato visual com Gabriel pelo espelho retrovisor. —Desculpe pelo que ele disse na sexta-feira, aliás. Espero que você não tenha levado para o lado pessoal.
Ele rapidamente balançou a cabeça: — Não se preocupe com isso.
Senti-me estúpido por pedir desculpas em nome de Patrick, mas mentiria se dissesse que era a primeira vez. O comportamento dele às vezes me horrorizava. Nunca conseguia acreditar como ele menosprezava certos trabalhos, inclusive o meu. O fato de ser um peixe grande em uma seguradora e ter ganhado prêmios por tudo o que havia conquistado em sua curta idade não significava que pudesse menosprezar os outros.
O trabalho de Gabriel e Dave era fundamental para a sociedade, e eu o respeitava profundamente. Eu nunca poderia ter sido assim; simplesmente não tinha paciência.
“O que ele disse?”, perguntou Dave, curioso, e eu dei de ombros. “Apenas algo estúpido sobre o trabalho de Gabriel.”
Ele fez uma pausa por um segundo: — O que também é o meu trabalho... Continuar. —
Olhei para Gabriel no espelho e mordi a bochecha. Não queria contar a Dave, pois isso só lhe daria mais um motivo para não gostar de Patrick, mas, por outro lado, não podia mentir, porque Gabriel sabia a verdade.
O fato de Dave e Patrick nunca se darem bem me incomodava muito. Eles eram literalmente como cão e gato, água e fogo. Eram polos opostos, mas eu gostava muito deles. Patrick achava que Dave era infantil e imaturo, e que deveria ser mais sério para a sua idade. Dave, por outro lado, via Patrick como pretensioso e chato, e sempre dizia que ele tinha que aproveitar um pouco mais a vida agora que estava na casa dos vinte e poucos e não tinha filhos.
Dave sempre dizia que aqueles eram nossos anos dourados e que a vida nunca seria tão boa quanto agora. Ele sempre fazia discursos sobre isso quando estava bêbado, afirmando o quanto amava seus amigos e o quanto adorava que morássemos juntos e que nenhum de nós fosse casado ou tivesse filhos, então não tínhamos tantos compromissos.
Eu não discordava dele, mas, por outro lado, não éramos mais estudantes de 18 anos que ficavam bêbados até perderem o controle todas as noites. Sem dúvida, a vida profissional e morar sozinho traziam certas responsabilidades. O aspecto financeiro era sem dúvida a maior responsabilidade, e era algo com que Dave tinha algumas dificuldades.
Ele sempre pagava o aluguel, mas não entendia muito bem como funcionavam as economias. Ele gastava a maior parte do seu dinheiro, e Katie e eu desistimos de explicar a ele como era importante economizar. Dave queria aproveitar a vida sem se preocupar com dinheiro, e isso era coisa dele. Contanto que as contas da casa fossem pagas, não nos importávamos.
Tive discussões intermináveis com Patrick sobre o assunto. Discussões que me deixaram com as mãos nos cabelos, enquanto me via presa entre meu namorado e minha melhor amiga, que não suportavam estar na mesma sala.
E o curioso era que eles eram amigos quando conheci Patrick.
Ele era muito parecido com Dave naquela idade, mas com o tempo deixou para trás sua personalidade brincalhona e boba para se tornar maduro e sério. Claro, às vezes eu sentia falta disso, mas era assim que as coisas eram. Eu tinha certeza de que também havia mudado com o passar dos anos, e isso era normal.
- O que ele disse? - Dave me empurrou e eu revirei os olhos. - Você sabe como ele é. -
— Caneta, meu Deus! — sussurrou Dave, frustrado. — Pare de dar desculpas para esse cara. Ele não está apenas criticando meu trabalho e o do Gabriel, mas também o seu. Não pense que eu não ouvi na sexta-feira quando ele disse que você só precisa levar um café para o Carlo. Todos sabemos que isso não é verdade.
Não consegui responder nada porque Dave estava certo. Como sempre.
“Podemos... não falar sobre isso agora?”, tentei, esperando que Dave entendesse a indireta de que eu não queria discutir com Gabriel no mesmo carro. Eu tinha certeza de que ele já tinha uma opinião sobre Patrick por tê-lo conhecido e não queria piorar as coisas.
A última coisa que eu precisava era de mais uma amiga que odiasse meu namorado.
Cheguei ao Steve's pouco depois e nós três corremos para entrar no bar fresco. Suspiramos de alívio quando o ar condicionado bateu em nossos rostos e pedimos cervejas geladas imediatamente.
— Este lugar é ótimo — expliquei a Gabriel enquanto me apoiava no balcão. — É para todos os gostos. Para todas as idades, para todos os gostos... Alguns vêm para tomar um drinque com os amigos e jogar sinuca, outros para trabalhar em silêncio ou ler o jornal. É agradável.
Cumprimentei Steve, o dono do lugar, enquanto ele nos recebia e servia as cervejas. Gabriel concordou com minha explicação enquanto olhava ao redor: “Hum, que bom. Não acredito que nunca estive aqui, moro a apenas alguns minutos”.
Sorri para ele, tomando um gole de cerveja. Em vez de olhar nos olhos dele, olhei para outro lugar. Para as minhas pernas, para ser mais precisa. Arrastei os pés um pouco; os saltos altos me davam vantagem, tornando-me quase tão alta quanto ele.
“Meus olhos estão aqui em cima”, brinquei, e Gabriel rapidamente olhou para cima para ver meu rosto. Um leve rubor cobria suas bochechas enquanto ele me dedicava um sorriso com covinhas. “Droga, desculpe. Não queria ficar olhando para você”.
Eu soltei uma risada enquanto balançava a cabeça. —Tudo bem. Você se divertiu na sexta-feira? Desculpe novamente pelo que Patrick disse, espero sinceramente que não tenha ofendido você demais.
—Você não precisa se desculpar por ele, Penny. Não é a primeira vez que algo assim acontece comigo. Ensinar é sempre um trabalho que as pessoas menosprezam porque parece fácil. Gabriel falou e eu soltei um suspiro. —Mesmo assim, eu me sentia culpada.
Ele deu de ombros. —Bem, não é culpa sua. E, sinceramente, não me importo.
Dei outro sorriso para Gabriel e concordei. Vi Dave no canto do bar falando ao telefone com sua mãe. Ele bebia sua cerveja lentamente, como nós, refrescando-se da onda de calor que assolava Londres.
Gabriel muito depois de Patrick me pedir para me trocar lá em cima. Coloquei um jeans porque ele me pediu, embora ficasse tão justo quanto as leggings que eu usava antes. Quando voltei lá para baixo, Patrick estava de mau humor e tinha sido desdenhoso comigo a noite toda enquanto eu tentava conversar com ele.
Eu sabia que ele não gostava dos meus amigos, mas mesmo assim seria ótimo vê-lo se esforçar. É o que eu faria se o grupo de amigos dele me convidasse algum dia. Mas eles não convidaram. Eu nunca me dei muito bem com as namoradas dos amigos do Patrick. Kennedy e Madison eram muito próximas e muito parecidas, e eu não me encaixava no estilo delas.
Elas estavam sempre um pouco isoladas, cochichando coisas que eu provavelmente não queria ouvir. No entanto, quando as via ou elas me convidavam para algo, eu fazia o possível para me dar bem com elas pelo menos por uma noite. Era cansativo, mas eu sabia que era importante para Patrick e não queria ser aquela namorada que arruinava a noite estragando o clima.
Patrick aparentemente não tinha as mesmas preocupações em relação ao meu grupo de amigos. Ele achava que todos eram como Dave: imaturos, infantis e pouco sérios na vida. Ele dizia que eles tinham me contaminado, e isso resultou em várias brigas e portas batidas enquanto eu tentava defender meus amigos dos insultos que Patrick lançava contra eles.
— E para responder à sua pergunta — Gabriel me tirou dos meus pensamentos. — Sim, eu me diverti na sexta-feira. Todos foram muito simpáticos. A verdade é que eu estava um pouco nervoso por conhecer tanta gente nova.
É mesmo? Você não é do tipo que gosta de grupos grandes?
Ele deu de ombros enquanto tomava um grande gole de cerveja. —Tenho um grupo bem pequeno. Não sei, acho que não me abro tão facilmente e tenho dificuldade em me conectar com as pessoas.
Eu tinha dificuldade em acreditar nas suas palavras e arqueei as sobrancelhas, surpresa. —Sério? Eu nunca teria imaginado, você foi tão aberta na sexta-feira.
— Ela sai com as pessoas certas. — Ele riu baixinho.
A campainha tocou e Louis entrou suado, enxugando o suor da testa. Fiz uma careta quando ele me abraçou e apertei o rosto contra seu pescoço suado. “Nossa, como está quente lá fora!”, ele brincou.
Ele cumprimentou Gabriel com um tapinha no ombro e imediatamente pediu uma cerveja enquanto Dave terminava sua ligação.
—Ah, Tomlinson! Que alegria te ver por aqui! —A voz de Dave ecoou pelo bar e os dois se cumprimentaram com um abraço.
Gabriel arqueou as sobrancelhas enquanto olhava para Louis: “Você é o Tomlinson?”
Louis parecia um pouco confuso enquanto ainda tentava se acalmar um pouco. — Sim, sou eu.
— Então vocês dois... — Gabriel apontou com o dedo entre Louis e eu, o que só nos deixou mais confusos — ... como, se beijaram? —
— O quê?! — gritou Dave, enquanto eu franzia a testa para Gabriel. — Hein?
Ele soltou uma risadinha: — Ouvi Patrick dizer algo sobre isso. —
Louis bufou e balançou a cabeça negativamente enquanto revirava os olhos. “Não. Tentei ficar com a Penny há dois anos. Eu estava um pouco bêbado e tentei beijá-la em uma festa, não é, querida?” Ele me perguntou e eu soltei uma risadinha. “Sim.”
— Não me lembre disso. — Dave encolheu-se enquanto tapava os ouvidos. — E não a chame de querida.
