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Capítulo 4

Os olhos de Penny estavam fixos na tinta exposta nos meus braços enquanto ela inspecionava cuidadosamente a quantidade de rabiscos. —Gosto da sua camiseta. —Ela apontou para minha camiseta colorida e eu sorri. —Obrigado. —Era aproximadamente o quarto elogio que eu recebia desde que cheguei aqui, e agora eu tinha 100% de certeza de que tinha escolhido a camiseta certa.

“Combina com seus sapatos”, comentou ela, apontando para meus velhos New Balance, e eu ri discretamente. “Sim, mais ou menos. Não foi intencional.”

Sim, foi.

— Então, como você conhece o Dave? — perguntei para mudar de assunto.

—Oh, conheço o Dave desde sempre. Crescemos juntos e dividimos um apartamento na faculdade antes de comprar esta casa —explicou Penny, e eu concordei com a cabeça—. E a outra garota, Katie?

Encontramos esta casa para alugar e gostamos muito dela, mas tinha três quartos. Então começamos a procurar uma terceira colega de quarto, alguém que nenhuma de nós conhecesse. Parecia divertido. Ela foi a primeira a responder ao anúncio e nos pareceu perfeita, então moramos aqui há cerca de dois anos. — Penny falou com carinho de suas colegas de apartamento, olhando para Katie, que estava a poucos metros de nós, conversando com Zayn.

— Você não vai morar com seu namorado? — Eu a pressionei um pouco, querendo saber mais sobre o relacionamento delas. Seu sorriso desapareceu um pouco quando ela balançou a cabeça negativamente. — Não, agora não.

Franzi ligeiramente o sobrolho perante a sua mudança de energia e lambi os lábios. — Oh, vocês não namoram há muito tempo, pois não? — Parecia a explicação lógica para não viverem juntos.

Penny me olhou insegura antes de olhar ao redor da sala, parando no namorado dela, que estava emburrado em um canto e não falava com ninguém. — Quase oito anos. —

“O quê?!” Quase cuspi minha cerveja enquanto a olhava com os olhos arregalados, e havia um toque de diversão na maneira como ela me olhava, causado pela minha reação. “Sim.”

— Oito anos, caramba! — murmurei antes de perceber. Não queria parecer tão surpreso, mas estava. Não conhecia ninguém da minha idade que estivesse em um relacionamento há tanto tempo. — Espere, quantos anos você tem?

—Tenho. Era assim quando nos conhecemos. —

—Uau. —Não tinha certeza se deveria parabenizá-la ou pedir desculpas. “Uau” parecia um território neutro.

—Você está falando de mim? —Patrick se juntou à conversa, de pé ao lado de Penny. Sua mão envolveu a cintura dela e a colocou em seu quadril enquanto a puxava para si. Os nós dos dedos de sua mão ficaram quase brancos de apertá-la com tanta força, e ela forçou um sorriso, acenando com a cabeça.

Ele sorriu de volta: “Acho que ouvi você rir.”

O contato visual deles era intenso, e eu tinha dificuldade em identificar a energia que sentia na sala naquele momento. Parecia ameaçadora, mas Penny não parecia assustada. Limpei a garganta e estendi a mão: “Olá, sou Gabriel”.

—Ah, certo —disse Penny com voz entrecortada—. Gabriel é colega do Dave. —Ele me apresentou—. E Patrick é meu namorado.

Ela apertou minha mão com cautela, acenando com a cabeça: “Então... outro professor?”

— Sim. Sexto ano.

Patrick assentiu. “Sempre tão ciumento dos professores. Quantos dias de folga eles têm!” Ele riu como se fosse uma piada e eu ri junto, embora não tivesse graça. Dei de ombros e bebi minha cerveja. “Mas estamos formando a futura geração, não é uma tarefa fácil.”

Senti a necessidade de defender minha profissão enquanto Patrick ria baixinho: “Não é tão importante nessa idade, certo? Não me lembro de nada do que aprendi na escola quando era tão pequeno. Sempre acho que deveriam usar uma abordagem mais prática com as crianças”.

Eu estreitei os olhos, discordando totalmente do que ele dizia. Esse cara não tinha ideia do que estava falando, era óbvio. —Hum... Está cientificamente comprovado que a educação é fundamental, mesmo desde pequenos. As crianças que ensino têm entre nove e dez anos, e o cérebro delas está suficientemente desenvolvido para aprender algo de verdade. É preciso começar desde muito cedo com a moral e o desenvolvimento de habilidades precoces. Até falam em implementar a educação sexual nessa idade.

Patrick assentiu lentamente e depois deu de ombros. —Sim, bem... nunca fui muito fã de ciências. Só estou dizendo que invejo seu tempo livre; mataria por dois meses de férias todo verão.

Apertei a mandíbula antes de tomar outro gole. “Não pode haver um trabalho com tantos benefícios, caso contrário não haveria tanta escassez, certo?”, respondi.

Mantivemos contato visual enquanto bebíamos nossas cervejas, havia uma tensão clara no ar que Penny aparentemente também sentiu.

—Patrick —ela murmurou, chamando sua atenção. Ele virou a cabeça para vê-la—. O que foi?

— Não seja rude. — Sua voz era quase um sussurro, e eu sabia que ela estava tentando se conter. Ela se moveu um pouco e ele a segurou com mais força enquanto exalava. — Não estou sendo rude. Só estou iniciando uma conversa, como você me pediu. Você ainda não está feliz?

Mais uma vez, senti que era uma conversa que eu não deveria estar ouvindo, mas ele não estava tentando se calar. Penny apertou os lábios enquanto baixava o olhar, prestes a dizer algo, mas ele a interrompeu, voltando-se para mim. —Mulheres, não é? Tão difíceis de agradar, sempre tão hormonais. —Ele tomou isso como uma piada, mas não pude evitar franzir a testa ao ver como ele falava mal da namorada, que estava ao seu lado. —Claro.

Ficamos em silêncio enquanto Penny quase desmoronava diante dos meus olhos, ficando cada vez menor ao lado de Patrick. Ela não parecia nada com a pessoa que era quando entrei, antes de ele chegar.

Que idiota!

—Então, Penny —clareei a garganta—, o que você faz?

Minha pergunta a animou um pouco e ela me dedicou um sorriso de agradecimento, interrompendo o olhar furioso que estava lançando a Patrick após seu comentário. Eu não sabia pelo que ela estava agradecida, se por dissipar a tensão ou por mostrar interesse em sua vida.

—Você se refere a quando não estou muito alterada hormonalmente? —Ela provocou Patrick, que a fulminou com o olhar, mas ela o ignorou. Tive que conter o riso diante do comentário dela, mas não consegui evitar que os cantos da minha boca se curvassem em um pequeno sorriso.

—Sou assistente executiva da Vivienne Westwood, a estilista —ela me explicou, e eu arregalei os olhos—. Sério? Isso parece ótimo. O que... o que isso significa exatamente?

Penny sorriu: — Bem, eh... Você já viu o filme “O Diabo Veste Prada”?

—Sim, claro. Que clássico!

—Eu sei! Bem, o que Andy faz lá para Miranda Priestly é basicamente o mesmo que eu faço. Mas meu chefe é muito mais simpático e a Vivienne Westwood é uma empresa diferente. No filme, trata-se da Vogue.

Eu mordi a língua quando Patrick voltou a se intrometer na conversa: —Bem, na verdade você nunca conheceu Vivienne Westwood, certo? —.

Seu sorriso desapareceu e ela balançou a cabeça negativamente. —Não, não conheci. Mas Carlo é o diretor executivo da empresa e mora em Londres. E eu sou sua assistente.

—Basicamente, você lhe traz café—, interrompeu Patrick com um sorriso, como se tentasse fazer uma piada, mas pela expressão de Penny, percebi que ele só estava tentando minimizar a importância do trabalho dela. Gostaria que esse cara ficasse fora da conversa.

Voltei a me concentrar em Penny, que franziu levemente a testa. —Bem, não é tudo o que faço. Felix e eu somos assistentes de Carlo, então controlamos toda a sua agenda. Cuidamos de todo o seu planejamento, suas ligações, organizamos reuniões com designers e criativos, participamos delas, tomamos notas e tudo mais. Também cuidamos dos compromissos, reservas e tudo o mais.

Acenei com a cabeça diante de sua explicação. —Parece um trabalho muito ocupado. Qual é o seu diploma?

Tenho uma licenciatura em administração de empresas, fiz um ano extra de comunicação e outro de moda. Fiz estágio na Vivienne Westwood e trabalhei com eles várias vezes em artigos e trabalhos académicos. Por isso, tive uma oportunidade quando me formei. —A Penny era apaixonada pelo seu trabalho, e eu concordei, impressionada. —Três diplomas, uau!

Ela ignorou com um gesto, mas tinha um leve rubor no rosto. Era evidente que se sentia orgulhosa do que fazia.

—Então, essa Vivienne... O nome dela está no prédio, mas você faz todo o trabalho? —concluí, e Penny soltou uma gargalhada—. Basicamente, sim. A vida de uma assistente. Mas, como Patrick disse, eu nunca a vejo. Já participei de videochamadas e eventos em que ela estava, mas nunca conversamos pessoalmente nem nada.

—Que bom que você trabalha com moda. —Tomei outro gole da minha bebida, impressionado com a descrição do trabalho dela. Parecia-me difícil ser tão responsável pela agenda e pelo horário de outra pessoa, já que tinha certeza de que o dela já era bastante ocupado.

Patrick também soltou uma gargalhada. —Eu sei que você não diria que agora trabalha com moda. —Ele a olhou de cima a baixo. —Você não poderia vestir algo mais elegante para uma festa? Tenho certeza de que você não foi para o escritório vestida assim.

Deus, já estou a detestá-lo.

Apertei a mão em torno da minha bebida ao ver os ombros de Penny afundarem um pouco. Ela parecia tão derrotada na presença dele, tão pequena e silenciosa. Eu o odiava por ela.

—Eh... Não —ela gaguejou um pouco—. Mas tive um dia longo e só queria relaxar. Não é como se fosse uma festa elegante nem nada, e ainda estou na minha casa. —Penny parecia se defender a cada frase que dizia ao namorado.

—Então por que você não veste um moletom? Essas leggings são apertadas.

— Calças esportivas? Ah, Pat, eu ainda trabalho com moda — brincou Penny, e eu soltei uma risadinha, mas Patrick não pareceu achar graça. O sorriso de Penny desapareceu instantaneamente quando ela exalou. — Vou me trocar. Volto já.

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