Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 6 - parte 1

Lorenzo

— Certo. Você realmente prefere morrer, ao invés de dizer o que sabe? — questionei o filho da puta em minha frente, sentado em uma cadeira com as mãos amarradas para trás, enquanto eu segurava uma adaga enfiada em sua coxa, próximo ao joelho, e a girava de um lado para o outro, a afundando ainda mais, vendo seus olhos quase saltarem para fora ao reprimir a dor.

Minha feição era de poucos amigos — ainda pior do que o normal.

De acordo com informações do hacker da La Cambria, conseguimos identificar o rosto de um dos homens que me renderam há duas noites atrás e me balearam. Convoquei os homens da facção para o pegarem e o trazerem até mim.

O deixamos no porão da minha mansão por dois dias seguidos, sem comer ou beber qualquer coisa, facilitando assim o meu trabalho. O lugar fedia a fezes e urina, devido a surra que levou dos meus soldados tê-lo deixado debilitado e sem forças para fazer qualquer coisa, então o bastardo se mijou e cagou.

Quanto mais debilitado ele estivesse, mais fácil falaria — ao menos era isso o que eu pensava.

— Você acha que é alguma coisa por estar no poder do território, Marino… Mas você não é nada, nem ninguém… — sua fala soava arrastada devido a dor e a falta de dois dentes da frente que um de meus soldados tiraram. Mesmo assim, ele não cedia, não dava o braço a torcer — E quando o meu chefe conseguir tomar o poder de suas mãos, você vai implorar por misericórdia. Escreva o que estou dizendo.

— Fabrizio! — chamei a atenção de um dos meus soldados, corpulento, e de cabeça raspada, e apontei com o queixo para a mesa onde haviam algumas ferramentas. Ele, imediatamente, entendeu o que eu queria e foi até lá.

Segundos depois, se aproximou de mim, me entregando o soco-inglês. O coloquei nos dedos, então retornei para perto do idiota que achava que podia me dobrar.

Sem paciência, levantei a mão com o punho fechado, desferindo um belo soco em seu rosto, tão forte, que foi o suficiente para fazê-lo tombar para trás na cadeira e bater a cabeça no chão. Um filete de sangue escorreu no canto de sua boca, bem como de seu nariz, que eu esperava muito ter quebrado.

Ele grunhiu de dor e, em seguida, começou a rir.

— Marino, você pode queimar minha língua com ferro em brasa, arrancar minhas bolas, o que quiser… Nada disso me fará falar. Sou leal a quem me mandou ir atrás de você. — o sorrisinho de escárnio continuou em seu rosto, me dando ainda mais nos nervos.

Contudo, fiz o possível para me manter são, porque eu estava por um fio de meter uma bala no peito desse cara.

Estava com tanta sede de sangue, que pus o pé direito no assento da cadeira, dando impulso para ela vir para a frente e o imbecil levantar. Tive vontade de lhe dar outro soco, porém, me contive.

— Mas você bem que podia trazer sua mãe aqui pra eu comer… A coroa é gostosa pra caralho.

Nesse momento, eu esqueci completamente tudo ao meu redor. Esqueci qualquer acordo feito com os consiglieres, qualquer código de conduta que eu precisasse seguir e que me impedisse de matá-lo antes de obter informações necessárias. Esse imbecil havia feito o que eu mais desprezava, o que eu menos suportava, mexeu com o nome de alguém da minha família.

Rapidamente e, com o maxilar travado, puxei uma arma da parte de trás da calça social que eu usava e mirei em seu peito, dando um único e certeiro tiro. Com o impacto, a cadeira em que ele estava amarrado com as mãos para trás, foi ao chão e, em questão de segundos, se formou uma poça nojenta e grossa de sangue ao lado de seu corpo.

— Limpem tudo! — ordenei aos meus soldados, enquanto me direcionava a escada para sair do porão.

Mesmo que eles tivessem o estômago forte e fossem treinados para esse tipo de situação, deixei a porta aberta para que o odor forte que emanava do lugar não os enjoassem e segui em direção a escada que dava acesso aos quartos no andar de cima.

— Senhor Marino, o senhor Rossi, senhor Ricci, senhor Greco e senhor Giordano estão aqui para vê-lo. Devo deixá-los entrar? — Ginevra, minha governanta, uma senhora de meia-idade, de estatura mediana e cabelos grisalhos, que trabalhava em minha casa há anos, perguntou, não me olhando diretamente, se referindo a alguns dos homens da La Cambria.

Certamente estava sem graça pela forma como eu estava vestido — uma camiseta branca, que desenhava os músculos do meu peito e braços — ou, então, estava enojada pela minha aparência suja e fedida, devido ao que fiz no porão.

— Deixe-os entrar e peça que me esperem no escritório, que eu já estou indo. — sem esboçar nenhum tipo de emoção, ordenei a ela.

— Sim, senhor. — acanhada, ela meneou a cabeça brevemente e saiu da minha presença, então eu subi os degraus da escada de madeira.

Precisava de uma chuveirada com urgência.

Passei pelo corredor extenso repleto de quartos de hóspedes, indo diretamente para o meu.

Ao adentrar o cômodo com visual totalmente masculinizado, em cores de cinza e preto, segui direto para o banheiro, sentindo, pela primeira vez nesse dia, o lugar onde eu havia levado um tiro no peito, doer.

Não era uma dor horrível, como muitas que eu já havia enfrentado nessa vida, mas incomodava bastante.

Retirei os sapatos com o auxílio do bico de um deles e depois, quando um dos pés estava livre, usei os dedos para tirar o outro, então puxei a calça para baixo, bem como a cueca boxer e, quando fui retirar a camiseta, notei que havia sangue naquela porcaria de curativo. Olhá-lo levou meus pensamentos diretamente para aquela mulher. A médica que cuidou de mim naquele mausoléu. A mesma que estava penetrando minha mente como a porra de um karma desde que abri meus olhos naquele lugar.

Inferno!

Respirei fundo, balançando a cabeça para os lados e entrei no box, girando a torneira para abrir o chuveiro. Sentir a temperatura morna da água batendo em meus ombros, enquanto minhas mãos estavam repousadas na parede gélida a minha frente, devido ao frio intenso da estação, foi como ser acolhido pelos braços calorosos e acalentadores da única mulher que amei nessa vida.

Sabia que não deveria molhar o curativo, mas estava pouco me fodendo para isso.

Fiz o possível para não demorar no banho, já que haviam pessoas me aguardando e saí do box pelado, puxando a toalha branca e felpuda do gancho metálico de parede para me secar.

Me vesti rapidamente e dei um jeito de improvisar um curativo com o kit de primeiros-socorros que tinha guardado em meu quarto, somente para o ferimento não voltar a sangrar.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.