Capítulo 6 - parte 2
— Boa noite, senhores! — cumprimentei a todos de forma geral, à medida que adentrava o escritório espaçoso.
— Boa noite, Marino. — responderam em uníssono, fazendo um breve menear de cabeça.
Antes de me sentar, fui até a mini adega onde ficavam algumas bebidas e peguei uma garrafa de uísque.
— Servidos? — perguntei, encarando cada um dos rostos dos homens ali presentes.
Somente o Rossi aceitou, mesmo assim, gesticulando com os dedos, que desejava apenas um pouco.
Após servir o meu copo e o dele, caminhei até minha poltrona atrás da mesa de madeira e sentei-me.
— A que devo a honra da vossa visita, senhores? Creio que não vieram tricotar, estão cansados de saber que não tem mais nenhuma mulher nessa casa, a não ser a Ginevra. — iniciei, tomando um longo gole da minha bebida, sentindo-a descer queimando na garganta.
— Nos poupe do seu sarcasmo, Marino. — o Greco, um dos capos, se pronunciou com uma feição carrancuda e impaciente.
— Sua esposa dormiu de calça jeans noite passada, Greco? — mantive um sorriso de escárnio no canto dos lábios, mesmo que os olhando seriamente.
— Viemos falar sobre o que tem acontecido em nosso território — sem dar importância ao que eu dizia, Giordano, o consigliere, falou — Não dá mais para darmos bobeira, Lorenzo, precisamos saber o mais rápido possível quem está por trás da distribuição dessa nova droga, estamos perdendo o controle da situação, está em circulação até mesmo nas boates mais renomadas. Os chefes das outras facções associadas a nós estão em cima, querem uma resposta.
— Já estou tratando disso, não se preocupem. Alguma vez já falhei com a famliglia desde que assumi o lugar de meu pai? — os encarei, aguardando uma resposta, que não veio — Exatamente como eu pensei. Algo mais? — arqueei as sobrancelhas ao questioná-los.
— Você precisa de uma esposa, Lorenzo! — sem poupar palavras, o Ricci, o segundo capo, e o mais sisudo de todos, que por vezes agia como se fosse o próprio chefe da facção, e não eu, disse.
— Volta e meia, sempre acabamos na porra deste mesmo assunto. Vocês não cansam? — bebi de uma só vez o restante do líquido amarronzado em meu copo, o depositando com certa força sobre a mesa e inclinando meu corpo para a frente.
— Você tem um dever a cumprir, Marino! — com a voz alterada e os dentes cerrados, o Ricci falou.
— O único dever que eu tenho a cumprir, é manter a segurança de todos em nosso território e impedir que bandidinhos de merda ajudem na proliferação da circulação de drogas que prejudiquem ainda mais do que as permitidas por nós! Não preciso de uma esposa para isso, entenderam? — encarei cada um deles, farto desse assunto, que em nossas últimas reuniões, vinha sempre entrando em pauta.
— Escute bem, Lorenzo — Giordano levantou-se e, com sua postura impecável, se direcionou a mim sem vacilar a voz — Você conhece a porra das regras, não me faça ter que citá-las agora. Sabe que todo Don precisa de uma esposa ao seu lado. Sentimos muito pelo que te ocorreu no passado, mas isso não quer dizer que sentiremos pena de você. Tem um dever a cumprir e sabe disso desde que aceitou ocupar o lugar do seu pai. Portanto, você tem somente algumas semanas para conseguir uma mulher e, não, não pode ser uma puta qualquer.
Ele fez uma pausa, provavelmente imaginando que eu havia pensado nessa possibilidade, mesmo sabendo que jamais aceitariam isso.
— A mulher de um chefe precisa ser respeitada, sabe disso. Se após esse prazo, você não estiver com uma aliança nesse dedo, te tiraremos do poder.
O olhei com incredulidade, pois jamais imaginei que eles chegariam a esse ponto.
— Vocês são uns filhos da puta, desgraçados! — elevei minha voz com os dentes cerrados — Se já tomaram uma decisão, deveriam ao menos terem a decência de chamar o Edoardo aqui, afinal, ele é o sub-chefe da La Cambria. — eu estava furioso.
— Não banque o esperto para cima de nós, Lorenzo. Sabe que, desde que eu esteja no meio da decisão, ela pode ser tomada sem precisar passar pelo Edoardo. — apesar de constestá-lo, eu sabia que o Giordano tinha razão. Como consigliere, ele tinha esse poder.
No fim das contas, eu estava apenas tentando argumentar e ganhar tempo.
— Fiquem cientes de que não conseguirão me tirar do poder! — grunhi entredentes, socando minha mesa tão forte, que o copo por pouco não foi ao chão.
— Não queremos o seu mal, Lorenzo. Só estamos tentando te ajudar a cumprir o seu dever como chefe. Pense nisso. — após suas últimas palavras, Giordano, assim como os outros, saíram do meu escritório, me deixando com uma expressão extremamente irritada.
