
Resumo
Chiara é uma jovem destemida e determinada que trabalha como médica em um abrigo para vítimas de violência. Sua vida é guiada por princípios éticos e um forte desejo de fazer a diferença na comunidade. Ela acredita que o amor é capaz de transformar vidas e superar as barreiras mais desafiadoras.Por outro lado, temos Lorenzo, um homem enigmático, conhecido por muitos como um impiedoso líder mafioso. Ele é respeitado e temido em igual medida pelas conexões que possui e pelo controle que exerce sobre setores diversos da cidade. No entanto, sob a superfície de frieza, Lorenzo carrega um passado doloroso e uma busca constante por redenção.Os caminhos de Chiara e Lorenzo se cruzam quando ela testemunha um ato de violência em uma de suas rondas pelo bairro. Ela socorre um homem ferido, sem perceber que ele é Lorenzo. Impressionado com a coragem e a compaixão dela, Lorenzo começa a se aproximar discretamente, sempre à sombra, observando-a de longe.À medida que Chiara e Lorenzo passam mais tempo juntos, eles descobrem que têm mais em comum do que imaginavam. Ambos tiveram que tomar decisões difíceis para sobreviver em ambientes hostis e aprender a dor de perdas passadas. No entanto, enquanto ela representa a luz e a esperança, Lorenzo está mergulhado na escuridão de seu passado e presente. ATENÇÃO: ESTE ROMANCE CONTÉM CENAS DE SEXO EXPLÍCITO E PALAVRAS DE BAIXO CALÃO!
Capítulo 1
Chiara
— Doutora Chiara. — a enfermeira me chamou com um tom preocupado, aquele cheio de urgência, que só podia significar uma coisa: algum idiota estava morrendo por se meter em brigas outra vez.
Já fazia três anos desde que me coloquei nesse lugar, um hospital que se tornou gradativamente um abrigo para vítimas de violência. Esse lugar se tornou minha casa, ao menos desde que perdi algo que não poderia retornar, nem mesmo que eu desejasse do fundo do meu coração — e claro, desde que a violência arrastou a minha vida para um poço sem fundo.
Eu tinha decidido, por conta própria, ajudar aquelas pessoas e tentar, da minha própria maneira, lidar com tudo isso, apoiando as famílias que, assim como eu, apenas sofriam com aquelas brigas de gangue e, claro, com as drogas que a cada dia pareciam se espalhar mais e mais pelas ruas.
— Saiam da frente! — gritei, enquanto corria pelo corredor, indo em direção a maca que entrava pelas portas da frente — Abram caminho para a sala de cirurgia e me preparem um leito para quando acabarmos! — estava ofegante e minha voz soava entrecortada — O paciente é um usuário? — perguntei para a enfermeira que guiava a maca dele, e mesmo sem ela me responder, obtive a resposta apenas olhando para o corpo magro e as marcas roxas em seu corpo, de que sim, ele era — Preparem contenções! — ordenei — Quando acordar, ele vai tentar escapar e precisamos desintoxicá-lo antes de enviarmos para a clínica de reabilitação.
Respirei fundo com o bisturi em mãos, havia um rompimento nos órgãos internos dele. Eu precisaria abrir e suturar para evitar contaminação, mas a pergunta era: quanto tempo eu tinha? A droga que se espalhava pelas ruas, era bem pior do que maconha quando se tratava em diminuir o efeito dos analgésicos, no entanto, infelizmente, graças aos componentes químicos, ela diminuía em 70% a utilidade das anestesias.
Então… Há quanto tempo aquele garoto usava? Quantas horas ou minutos eu teria, antes que ele despertasse na mesa de cirurgia?
Suspirei. Um suspiro longo e cansado, não tendo resposta para nenhuma dessas perguntas e para todas as outras que rondavam minha mente todas as vezes que um paciente novo entrava nesse lugar.
Eu amava o meu trabalho e amava ainda mais ajudar aquelas pessoas, mas aquela situação tinha se tornado apenas natural, e encarar isso como algo natural era frustrante.
Era de crianças que estávamos falando. Crianças que mal tinham completado seus dezesseis anos, como provavelmente era o caso daquele que estava deitado em minha mesa de cirurgia nesse momento e que, por um milagre, assim como em outros dez naquela semana, eu consegui finalizar a cirurgia sem que ele despertasse.
Estava descartando as luvas e a máscara, quando Beatrice me encarou, recostada à parede do lavatório, como se questionasse minha sanidade, mesmo sem dizer uma única palavra.
— Houve um rompimento na aorta, mas fora isso, apenas uma hemorragia interna causada pela facada e uma dilaceração em seu fígado. Por sorte, a droga não danifica o fígado tanto quanto os outros órgãos, então… — fiz uma pausa — Ele vai ficar bem — expliquei, porque mesmo que ela não tivesse me questionado, Beatrice me encarava com nítida irritação.
— Eu te amo, mas não sei como pode se acostumar com isso… — ela me disse com aquele tom de reprovação, mesmo assim, eu sabia que ela estava orgulhosa de mim, assim como o Angelo também estaria.
— Pare de reclamar — eu falei, a puxando pela mão para fora dali — Nosso plantão acabou, então vamos para casa, ao menos lá eu tenho uma taça de vinho para me acompanhar enquanto ouço o seu sermão.
À medida que andávamos, ouvi o som da língua de Beatrice estalando no céu da boca e a encarei com um sorrisinho cínico, vendo-a com uma expressão de “eu desisto”. Ela apenas me seguiu. Beatrice amava o próprio trabalho, mas me julgava desde o meu primeiro dia naquele lugar, porque, para ela, o jeito que eu lidava com o meu trauma e a minha perda, não era saudável. Contudo, ainda assim, ela continuava lá, ao meu lado, por três anos, sendo uma das minhas maiores fortalezas nessa vida.
Então, esquecendo esse assunto, ela se trocou e eu a acompanhei, deixando, enfim, meus cabelos soltos e dando um pouco de vida ao meu rosto com um batom claro em meus lábios e um lápis mais marcado na linha d'água.
Nos apressamos em ir para casa, para ao menos aproveitar as nossas preciosas horas de sono — que, em sua maioria, não eram muitas — mas ao passarmos pelo beco próximo ao hospital, paramos ao ouvir gemidos ofegantes.
— Isso só pode ser brincadeira! — murmurei, notando que Beatrice também estava ouvindo aqueles gemidos.
Era praticamente inacreditável que, com tanta violência nas ruas, ainda houvesse pessoas dispostas a trepar em público.
— Meu Deus… — Beatrice zombou, tapando a boca para não rir alto e eu revirei os olhos — Vamos embora, eu não quero ser a empata foda que vai estragar tudo.
Com uma sobrancelha erguida para ela, eu estava prestes a concordar, mas o som se tornou estranho e, por um momento, me vi vacilar em minha decisão de sair dali. Aquilo realmente era o som de alguém trepando?
Soltei o braço de Beatrice por um instante, porém, ao me aproximar da escuridão para vislumbrar de onde vinha aquele som, não foi com um casal que me deparei e, sim, com um corpo caído no chão.
— Beatrice! — gritei por ela no impulso, sentindo meu peito ser preenchido pelo desespero, — Tem um homem ferido! Ele precisa de ajuda! Vem!
Falei sem pensar duas vezes e, quando me aproximei para ajudar, me agachando para ficar na altura daquela pessoa, vi o brilho sumir daqueles olhos frios, enquanto a mão dele parecia pressionar o próprio peito.
Não, você não pode desistir! — pensei, retirando meu casaco, o colocando sobre o peito dele e apertando o ferimento com ambas as mãos. Quem quer que fosse esse estranho, eu não o largaria ali.
