Capitulo 1(suit)
Cláudio. Isso só reforçou a impressão de que ele era um mero estranho, alguém que nunca havia encontrado um lugar naquela casa. E agora aquela mesma casa parecia ainda mais fria do que antes.
Após alguns momentos de silêncio pesado, Pierre se levantou do sofá, sentindo que a atmosfera não melhoraria tão cedo. Ele se virou para a mãe, que ainda não havia saído da cozinha. “Vou dar uma volta pelo bairro”, disse ele calmamente, tentando não se sentir mais desconfortável.
Ela assentiu sem nem olhar para ele, absorta pelos sons da cozinha. Então Pedro caminhou em direção à porta, seus passos ecoando na casa vazia. Assim que cruzou a soleira, ele respirou fundo o ar fresco da noite, esperando que a caminhada o ajudasse a clarear a mente.
Ele caminhou pelas ruas conhecidas de seu bairro, a paisagem praticamente inalterada desde que ele saiu. As mesmas árvores, as mesmas lojinhas e casas com fachadas um pouco desbotadas, mas charmosas. Pierre deixou-se levar pelas memórias da infância, o som de risadas de muito tempo atrás flutuando em sua mente.
Ele se lembrava de brincar no parque e correr solta com as outras crianças da vizinhança. Ele nem sempre estava no comando, mas se lembrava daquela sensação de liberdade, quando tudo parecia possível e as preocupações não existiam. Isso foi antes das coisas ficarem complicadas em casa, antes que as tensões com Claude aumentassem, antes que ele se sentisse distante, como... um estranho.
As imagens passaram por sua mente: ele se viu correndo entre as folhas mortas, rindo muito com as outras crianças, adormecendo sob uma árvore depois de um longo dia de brincadeiras. Ele quase podia sentir o calor do sol em sua pele, ouvir as vozes alegres ao seu redor, vozes que pareciam tão próximas e, ao mesmo tempo, tão distantes hoje.
Mas conforme ele caminhava pelas ruas, uma voz familiar o tirou de suas memórias.
"Pedra ?"
Ele virou a cabeça, seus pensamentos ainda nublados pelas memórias do passado. E ali, nas sombras de um beco, estava Andrea, uma garota que ele conhecia desde a infância. Ela ainda estava tão animada como sempre, com seu cabelo castanho preso em um rabo de cavalo elegante e um olhar que tinha uma mistura de curiosidade e travessura.
“Andrea…” Pierre não conseguiu deixar de sorrir. Ele não via essa garota há anos, e ainda assim sua aparição naquele exato momento parecia quase irreal, como um círculo se fechando.
“Você está em casa?! Você demorou, certo?” ela disse com um sorriso travesso, seus olhos brilhando com aquela energia que era unicamente dela. “Você sabia que a vizinhança não tinha mudado, certo? Você também não mudou, ao que parece. Sempre querendo escapar do caos, hein?”
Peter corou levemente, embora se sentisse um pouco mais leve ao vê-la. “Preciso de um pouco de ar fresco”, ele respondeu, tentando mudar de assunto. Ele não estava pronto para compartilhar suas preocupações, não com ela.
Andrea, como sempre, percebeu. “Dá para ver”, ela disse em uma voz mais suave. “Você parece… diferente, Pierre. Não como antes. O que está acontecendo?”
Ele hesitou, imaginando se poderia falar com ela, mas em um instante ele se sentiu vulnerável demais, inseguro demais para abrir seu coração para alguém. Especialmente para Andrea. Então ele apenas deu de ombros. “Nada sério. Vou me acostumar.”
Andrea o examinou por um momento, como se soubesse que algo estava errado, mas não fez mais perguntas. Ela sorriu e mudou de assunto, parecendo relaxada. “Estou trabalhando agora, sabia? Não por aqui, mas um pouco mais longe, na cidade. Você deveria me visitar um dia desses. Você verá, as coisas estão acontecendo.”
Pierre sorriu de volta, feliz por essa pequena pausa no peso de seus pensamentos. Mas ele sabia que Andrea, mesmo que estivesse ali, não conseguiria acalmar o tormento que crescia dentro dele. Mas, por enquanto, sua presença era um pouco de luz naquela noite que parecia infinitamente escura.
Eles se conheceram em um café que costumavam frequentar. O lugar tinha um charme nostálgico, com suas paredes cobertas de fotos em preto e branco e o cheiro de café moído na hora no ar. Andrea já estava lá quando ele chegou, sorrindo como sempre, um pouco mais adulta, um pouco mais séria, mas com o mesmo brilho nos olhos.
“Pierre, já faz uma eternidade!” ela exclamou, levantando-se para cumprimentá-lo. Eles se sentaram e pediram suas bebidas.
“Sim, muito tempo”, respondeu Pierre, acomodando-se confortavelmente em sua poltrona. De repente, ele se sentiu bem, como se estivesse retornando a uma época mais simples.
Os primeiros minutos foram cheios de risadas e leveza. Eles conversaram sobre o tempo que passou, sobre suas respectivas vidas, sobre o que fizeram desde o último encontro. Andrea lhe contou sobre seu trabalho, sua vida, um pouco mais estável e organizada que a de Pierre, que, mesmo aos 25 anos, às vezes se sentia perdido.
“E você, como vão as coisas, Pierre?” Andrea perguntou, lançando um olhar curioso. “Você voltou há alguns dias, certo?”
Pierre deu de ombros, com um pequeno sorriso no rosto. “É… é complicado. Nada muito emocionante, sabe. Eu me sinto um pouco… fora de mim, digamos assim. Nada mudou realmente por aqui, então acho que estou um pouco… perdido nisso tudo.”
Andrea olhou para ele com atenção, como se pudesse ler nas entrelinhas. Ela o conhecia bem, muito mais do que ele às vezes admitia. “Você é uma pessoa atenciosa, Pierre. Vai ficar tudo bem. Você vai encontrar seu lugar, como sempre.”
Pierre tomou um gole de café e observou os transeuntes pela janela. O mundo parecia girar sem ele. Ele não era mais uma criança, mas também não era um adulto. Ele se sentiu suspenso no vazio.
“Sinto que tudo ao meu redor mudou, mas eu não mudei. Sou um pouco o mesmo de antes, mas com mais… perguntas, talvez”, ele confidenciou.
Andrea sorriu suavemente, como se quisesse aliviar seu tormento. “É normal. Todos nós passamos por isso, sabia? O tempo faz isso. Acabamos nos encontrando, à nossa maneira.”
Pierre olhou para ela, um pouco envergonhado. “Você está certa. É que… às vezes me sinto um pouco… presa. Como se minhas escolhas não fossem mais minhas.”
Seus olhares se encontraram e, por um momento, o mundo ao redor deles pareceu desaparecer. Andrea, vendo que Pierre não tinha intenção de desenvolver mais o assunto, decidiu mudar de assunto, para não insistir.
“Você se lembra do nosso último verão antes de você partir?” ela perguntou, com um sorriso travesso nos lábios. “Prometemos nunca esquecer aquelas noites passadas no parque, conversando sobre tudo e nada.”
Pierre sorriu, lembrando-se daqueles momentos despreocupados. “Como eu poderia esquecer? Aquelas noites eram as melhores.”
Eles passaram o resto da noite discutindo seu passado, os sonhos que tinham naquela época e o que havia acontecido com eles. Pedro percebeu o quanto essas
