Capítulo 4
“Descobertas não acontecem por causa da medicina. Elas acontecem porque alguém tem medo de parar de tentar.”
Meredith Grey
(...)
Fernando
Saí do lugar onde seria minha futura clínica com uma enorme e uma sensação de satisfação em meu peito. Ainda não tenho nada certo, porque só poderei fechar negócio quando conseguir um advogado, mas só em pensar que, finalmente, terei algo meu, uma coisa que sempre sonhei, não tem preço.
Assim que chego no hospital, paro na recepção e repouso meu braço no balcão.
— Bom dia, meninas — gentilmente, cumprimento a Amber, uma das enfermeiras, que está conversando com a recepcionista — Como estão?
— Olá, doutor Guimarães! Bom dia! — Amber me responde e a recepcionista apenas me lança um sorriso — Só estávamos esperando você chegar, seu paciente já está na sala de cirurgia, toda a equipe já está a postos.
— Obrigado. Vou passar em minha sala para me preparar e já irei para lá.
No caminho até lá, sinto meu celular vibrar no bolso, pego e, instantaneamente, sorrio ao ver o nome do Justin no identificador de chamadas.
— Falaê, garanhão! Não morre mais.
— Pensando em mim, amorzinho?
— Sim, é sobre a clínica, mas não posso falar agora, vou entrar em cirurgia. Te ligo mais tarde.
— Tranquilo. Até mais, então.
Encerramos a chamada e guardo o celular novamente. Enquanto me preparo, colocando o uniforme cirúrgico azul, touca descartável e máscara, rezo mentalmente para que essa cirurgia seja bem-sucedida.
Faz alguns meses que já acompanho esse paciente, ele chegou aqui se queixando de dores de cabeça intensas e frequentes, além de náuseas, vômitos, problemas no equilíbrio e, por vezes, convulsões. Fizemos alguns exames, incluindo, ressonância magnética e tomografia computadorizada e percebi que não havia outra forma de reverter essa situação.
Inicialmente, os pais dele foram contra, foi bem difícil conseguir convencê-los de que não tinha jeito, pois, devido ao estado em que o filho se encontrava, foi diagnosticado com um tumor cerebral, por sorte, benigno. Porém, ainda assim é perigoso.
Por ser menor de idade, com apenas dezessete anos, seus pais precisariam autorizar a cirurgia. O garoto aceitou de bom grado desde o início, visto que lhe expliquei todos os perigos de não a fazer. Mesmo com o tratamento, já não era mais possível controlar os sintomas, principalmente as convulsões que passaram a se tornar ainda mais frequentes. O que acontecia semanalmente, passou a ser quase diariamente.
Termino de me organizar e me dirijo à sala de cirurgia, onde, ao adentrar, vejo meu paciente deitado e a anestesista ao seu lado.
— Como vai, Gabriel? — me aproximo dele, falando de forma descontraída, porque sei o quanto esses momentos são tensos e não somente para os pacientes.
— Oi, doutor. Tô nervoso. — seus lábios se comprimem.
— Não se preocupe, você está em ótimas mãos, tudo dará certo.
— Promete? — vejo-o engolir em seco.
— Farei o meu melhor. Confie em mim.
Percebo o quanto ele está nervoso, então converso um pouco com ele, na tentativa de distraí-lo e acalmá-lo. Aparentemente, funciona. A anestesista aplica a anestesia geral e eu fico de olho na tela ao lado dele, que monitora seus batimentos cardíacos. Em segundos, seus olhos vão se fechando e sua respiração fica controlada.
Inicio o processo com o auxílio da minha equipe, leva alguns minutos até eu conseguir chegar ao local onde está localizado o tumor. É uma cirurgia demorada. Quando estou o retirando, seus batimentos cardíacos aceleram e, consequentemente, dá início a uma crise de convulsão, tornando a situação muito tensa. Imediatamente, uma das enfermeiras segura a cabeça dele e, outra, a língua para não embolar. Tento ao máximo me manter calmo para concluir minha tarefa e, por fim, consigo, fazendo com que seu corpo pare de convulsionar.
Suspiro aliviado, todos ficam felizes pela cirurgia bem-sucedida e uma assistente limpa o suor que escorre em minha testa.
Fazemos a sutura e ele é levado para o quarto, ainda inconsciente.
— Então, doutor...? — o pai do garoto pergunta apreensivo, ao me ver.
— Foi um sucesso! Agora só precisamos esperar ele acordar para testarmos os resultados.
— Obrigada, doutor. Muito obrigada. — a mãe do garoto me abraça e chora.
É difícil não se emocionar, ainda assim, como aprendemos na faculdade e, com alguns anos de experiência, a reprimir nossas emoções, comprimo os lábios, impedindo as lágrimas de descerem.
(...)
Já no final do dia, entro na sala de descanso, onde há alguns sofás e poltronas, e aproveito para ligar para o Justin. Espero que ele atenda.
— E aí, cara? Como foi a cirurgia? — pergunta, demonstrando interesse, como sempre.
— Tivemos uma pequena complicação, mas no final deu tudo certo. E vocês, como estão?
— Estamos bem, mas a Juju está a ponto de me deixar doido. — rio do seu jeito de falar, porque ele havia dito que depois que a filha aprendeu a andar, não para mais quieta.
— Vai se preparando, que logo vem outro por aí. — brinco.
— Vira essa boca pra lá. Não quero outro filho agora e a Ella também não. Talvez no futuro, quem sabe. Mas diz aí, o que queria falar comigo... Aconteceu alguma coisa?
— Não, irmão. É que já consegui o lugar perfeito para montar minha clínica, porém, preciso de um advogado e como sei que essa é a profissão da Ella, pensei que ela pudesse me indicar alguém.
— Ah, era isso? Relaxa, se eu não me engano uma das amigas dela é da área trabalhista. Vou falar com ela e te mando tudo pelo WhatsApp.
— Valeu, cara. Vai me ajudar muito.
— Doutor, acabou de chegar uma paciente desacordada. Precisamos de você. — Amber me informa, segurando a porta e colocando somente a cabeça para dentro da sala.
— Tudo bem, já estou indo. — afasto um pouco o celular do ouvido para respondê-la.
Ela sai, fechando a porta atrás de si.
— Tenho que ir, irmão. Nos falamos depois e não esquece de falar com a Ella.
— Pode deixar.
Após sua resposta, encerro a chamada e saio meio que apressadamente, procurando pela Amber, para que me diga onde a paciente está.
Não preciso de muito esforço para encontrá-la, pois logo a vejo entrando em um dos quartos, no corredor e sigo até lá. Me deparando com uma mulher deitada sobre a maca, inconsciente.
