Capítulo 3 - parte 1
Esta bagunça de emoções levou seu corpo a questionar
Este sentimento está certo?
Ele estudava minhas sardas como as constelações
À procura de sinais
Orion’s Belt - Sabrina Claudio
(...)
Barbara
Eu realmente não sabia o que dizer diante do pedido do Rodrigo, queria muito negar, mas fiquei pensando que poderia magoá-lo, porque já estamos juntos há tanto tempo e não tenho coragem de terminar, então achei que a melhor opção, ao menos naquele momento, era dizer sim.
Ele parecia muito feliz, radiante para dizer o mínimo e eu queria enfiar minha cabeça em um buraco se pudesse, me repreendia mentalmente a cada segundo por ter aceitado, porque, ao mesmo tempo em que tenho medo de magoá-lo, penso que talvez eu o esteja magoando ainda mais por estar o enganando, por ter convicção em meu coração de que não o amo.
Eu preferia mil vezes passar a noite em meu apê, mas após sair do restaurante, fomos embora para o dele, no Leblon.
— Bom dia, flor do dia! — ouço sua voz assim que abro meus olhos pela manhã.
— Que horas são? — pergunto meio sonolenta e com a voz rouca.
— Seis. E, a propósito, sei que deve estar cansada, mas precisamos levantar, tenho que estar o mais cedo possível na agência hoje, mas antes quero te levar em um lugar. — o sorriso dele, é, digamos, sugestivo. Como se estivesse planejando algo.
— O que está tramando, Rô? — franzo o cenho, porque sei que tem alguma coisa por detrás desse sorrisinho.
— Nada demais, meu amor. Vamos logo, pois não posso me atrasar. — ele dá um beijo casto em meus lábios e levanta.
Reluto um pouco, antes de, finalmente, fazer o mesmo, porque minha vontade mesmo é de permanecer na cama. Logo após o Rodrigo sair do banheiro, vou tomar banho também e não demoramos a estar prontos para sair. Entramos em seu Porsche Cayenne e ele dá partida no carro.
Após aproximadamente uns trinta minutos, talvez mais, não tenho certeza, ele para em frente ao condomínio onde a Ella morava. Franzo o cenho sem entender absolutamente nada. Rodrigo acena para o porteiro, que libera nossa entrada e seguimos em frente.
— O que estamos fazendo aqui, amor? — pergunto assim que ele estaciona.
— Calminha aí, apressadinha, você já vai entender. — responde em um tom brincalhão.
Em um gesto bastante incomum, mesmo depois de tanto tempo juntos, ele me impede de abrir a porta do carro, fazendo-o em meu lugar.
— Espera só um pouquinho, não é uma surpresa se você não estiver vendada. — comenta, indo para trás de mim e amarrando um lenço em meus olhos.
— Pra que tudo isso, Rodrigo? É realmente necessário?
— Shiii! Você vai gostar, meu bem. — dito isso, pega minha mão e nos guia.
Vou caminhando bem devagar, com medo de tropeçar ou esbarrar em algo, ou alguém, ouço um som que parece ser de elevador, mas como estou vendada, não tenho muita certeza disso.
— Chegamos! — fala cheio de entusiasmo e, finalmente, tira a venda dos meus olhos.
Fico perplexa ao perceber se tratar do apartamento da Ella. Olho bem ao redor para me certificar de que não estou ficando doida ou vendo coisa.
— Bem-vinda ao nosso novo lar! — abre os braços sem tirar o sorriso dos lábios, demonstrando o quanto está contente.
— Não estou entendendo, amor. Você já tem um apartamento que é, inclusive, num dos bairros mais nobres do Rio, porque alguém tão importante, iria querer morar em um lugar mais afastado e simples?
— Vou continuar mantendo o outro apê, mas justamente por ser muito conhecido, às vezes precisamos de um pouco de privacidade e isso é algo que quase não tenho, levando em conta que muitas vezes os paparazzis ficam de prontidão lá no Leblon.
— É, faz sentido. — concordo, dando de ombros, sem demonstrar empolgação, porque tudo o que planejei fazer, desde a noite anterior, não deu certo.
— O mais importante é saber se você gostou. — se aproxima, ficando por trás de mim, me abraçando e depositando um beijo em minha bochecha.
— Anh… Sim, mas digamos que eu já conhecia esse lugar… — falo, me sentindo bastante sem graça.
— Como assim?
— Lembra que eu havia comentado sobre a minha amiga que se mudou para os States? — viro a cabeça para o lado, o encarando por cima do ombro e ele meneia a cabeça em afirmação — Então, esse apartamento era dela.
— Que maravilha! Isso é bom para que você se sinta mais perto dela, não acha?
— Porque está fazendo isso, Rô? — o questiono, após um instante de silêncio.
— Isso o quê, exatamente? — vejo uma ruga se formar em sua testa.
— Tudo isso. Me pedir em casamento, comprar um apartamento, tomar decisões sem nem ao menos termos conversado sobre, antes…
Ele desfaz o abraço e me vira de frente, colocando uma mão em cada braço meu.
— Não estou te entendendo, Babi. É errado eu querer agradar à mulher que eu amo?
— Sabe do que estou falando, por favor, não me faça parecer mais idiota do que já estou me sentindo, Rodrigo. — altero um pouco meu tom de voz.
— Ei! — me puxa para um abraço, algo que ele costuma fazer sempre que discutimos — Não precisa se estressar e me desculpe se fiz tudo isso sem te consultar, eu realmente só queria te fazer uma surpresa.
E, mais uma vez, o feitiço acabou virando contra o feiticeiro.
— Tudo bem. A propósito, eu gostei, sim. Obrigada. — forço um sorriso de quem está contente, porém, a verdade é que eu não estou nem um por cento feliz com isso.
O lugar já está até mobiliado, ou seja, pronto para morarmos e eu não posso opinar em absolutamente nada. Não que eu ache ruim ter um namorado que se importe com esse tipo de coisa, porém, a única parte boa de uma mudança, de estar em um lugar novo, é escolher e organizar tudo juntos. Confesso que, muitas vezes, sinto falta de ter isso com o Rodrigo, porque, em sua maioria, é como se eu apenas tivesse que seguir os seus passos. Nunca tenho a opção da escolha de sugerir minhas ideias.
Percebo seu entusiasmo, a maneira como ele me mostra cada lugar, como se eu não conhecesse e confesso que eu queria estar sentindo a mesma coisa, porém, como isso seria possível se já não me sinto mais conectada a ele faz tempo? Queria poder dizer tantas coisas ao Rodrigo, ser sincera sobre como me sinto, mas não consigo. É como se toda vez que eu tentasse abrir a boca, algo me travasse, não sei explicar.
— Será que podemos ir embora, amor? Não estou me sentindo muito bem e preciso trabalhar. — peço.
Não minto, pois, de fato, eu não estou bem. Não sei dizer exatamente o que é, mas sinto uma sensação terrível de vazio e infelicidade, por não conseguir compartilhar do mesmo sentimento que ele, nesse momento, por querer acabar com tudo isso e não conseguir.
— Quer que eu te leve ao hospital?
— Não é necessário, é apenas um mal-estar.
— Tem certeza? — seu olhar direcionado a mim está carregado de preocupação.
— Sim, vai ficar tudo bem.
Saímos dali e ele me deixa em frente ao edifício onde fica o meu escritório.
