Capítulo 2
O tempo está parado
E por que ainda estamos aqui
Eu não quero lutar com você
Eu estou precisando do mesmo que você
Stand Still - Sabrina Claudio
(...)
Fernando
— Ei! Volta pra cama, fica só mais um pouquinho... Tá tão quentinho... — a voz manhosa dela ecoa em meus ouvidos, enquanto me levanto para ir tomar banho.
— Sabe que não posso, Liz, se eu não adiantar, irei me atrasar. Conhece as regras. — a respondo, pegando a camisinha usada, no chão para jogar fora.
— Você e suas regras. Isso é tão chato, sabia? Eu gosto tanto de você, mas parece que isso não é o suficiente. — suspira pesadamente, demonstrando sua frustração.
Elizabete é uma mulher maravilhosa, linda, atraente, sedutora, porém, não sinto nada por ela além de uma amizade e atração física. Sempre prometi a mim mesmo que só entraria de cabeça em uma relação, caso encontrasse uma mulher que me tirasse completamente do eixo. Que chegasse para bagunçar minha vida e eu sentisse meu coração acelerar e minhas mãos suarem toda vez que a visse.
No entanto, esse dia ainda não chegou, então, sigo me relacionando com algumas mulheres que, em sua maioria, não passam de apenas uma noite. Apesar de que, ultimamente, a única que tem estado em minha cama é a Liz. Digamos que depois que o Justin foi para os Estados Unidos, passei a me sentir meio solitário e a companhia dela é sempre agradável.
Numa noite, saímos juntos, tomamos todas e acabamos na cama, desde então, a coisa foi ficando meio complicada, mesmo não tendo nenhum tipo de compromisso, e aqui estamos, há quase dois anos, nessa relação sem títulos.
— Por que a gente não namora, Nando? — ela levanta as costas, se apoiando nos cotovelos e me questiona, mais uma vez.
— É sério que vamos entrar nesse assunto de novo?
— É que... Eu só não entendo, sabe...? Nos damos bem, gostamos da companhia um do outro, o sexo é fenomenal, aliás, nenhum homem jamais me satisfez sexualmente como você, então não há razão nesse mundo para não ficarmos juntos.
Passo a língua nos lábios, comprimo os lábios e, completamente nu, me aproximo da cama, sentando na borda, encarando a loira de olhos castanhos-esverdeados.
— Olha, Liz, você é uma mulher maravilhosa, nunca duvide disso — ponho a mão em seu rosto, acariciando e não desviando a atenção dos seus olhos para que ela entenda a sinceridade com a qual estou falando — Mas você quer algo de mim que não posso te dar. Eu gosto demais de você para te machucar, jamais faria algo assim, não sou esse tipo de cara. A senhorita merece alguém que te ame e te trate como uma rainha.
Sorrio e pisco para ela.
— Aí é que tá, você me trata como uma. — suas palavras me fazem perceber que talvez o erro esteja em mim.
Sempre a tratei muito bem, porque é dessa maneira que penso que um homem deve tratar uma mulher, porém, nunca parei para pensar que talvez minhas atitudes e gestos de carinho, poderiam causar constrangimentos ou confundir as coisas.
— Nesse caso, talvez seja melhor pararmos por aqui, não acha? Me desculpe se dei a entender errado. Não a amo dessa maneira, apenas como amiga. Você é extraordinária, mas não sou e nem posso te dar o que procura. Desculpe se fui egoísta durante todo esse tempo, pensando apenas em minhas próprias necessidades e não pensando em seus sentimentos, tá?
A olho intensamente, sem tirar o sorriso terno dos lábios.
— Tudo bem, você não tem culpa alguma. Sou mulher e, na maioria das vezes, fantasiamos coisas que não existem. Minhas necessidades foram sanadas, mas acho que tem razão, talvez seja melhor evitarmos o contato físico, ao menos por um tempo.
— Vai deixar de ser minha amiga por causa disso?
Ela dá uma risadinha, balançando a cabeça para os lados.
— Nem que eu quisesse, conseguiria. Eu amo sua companhia.
— Igualmente. Preciso mesmo levantar, tenho uma cirurgia marcada para agora de manhã e não posso me atrasar, se tudo der certo, são meus últimos dias no hospital, antes de abrir minha clínica. — dou um beijo em sua testa e levanto, me direcionando ao banheiro.
— Por falar nisso, ainda falta muita coisa? — eleva um pouco o tom de voz para que eu a escute.
— Apenas algumas burocracias que precisam ser resolvidas, já encontrei o lugar perfeito, agora só preciso de um advogado de confiança para fechar negócio — a respondo no mesmo tom, já debaixo do chuveiro — Conhece algum?
— Infelizmente, não. Mas você não disse que a mulher do seu amigo, o Justin, é advogada?
A escuto atentamente, porque, de fato, não havia pensado nisso.
— Ela não é da área trabalhista.
— Certo, porém, deve conhecer alguém para te indicar.
Isso estava tão na minha cara, que não percebi.
— Tem toda razão. Vou falar com eles sobre isso quando chegar do hospital. Preciso resolver isso o quanto antes.
Após sair do banho, a Liz levanta para fazer o mesmo, enquanto me arrumo. Penso que a sugestão que ela me fez sobre procurar um advogado, me fez lembrar que já fazem alguns dias, senão, semanas, que Justin e eu não nos falamos. Deve ser essa a razão para eu estar me sentindo tão solitário.
É difícil quando seu grande amigo, aquele que você conhece desde sempre, que passou pelos maiores perrengues com você e com ele deu as maiores e melhores gargalhadas, está longe.
Enquanto a Liz se arruma, vou para a cozinha preparar algo para comermos, antes de sairmos. Não sou um mestre-cuca, mas sei me virar. Preparo um sanduíche de bacon com ovos para ambos, encho dois copos com suco de laranja e leite, e deixo tudo sobre o balcão da cozinha estilo americana. Sento para aguardar a Liz.
(...)
— Vou precisar passar no edifício onde fica a clínica, antes de ir para o hospital, se for te atrapalhar, posso chamar um Uber para te levar. — a informo, recolhendo o que sujamos para levar a pia.
— Em outra situação eu recusaria, mas realmente não posso me atrasar hoje, tenho uma sessão de fotos para fazer e o Rodrigo Fontenelle, dono da agência, adiantou a sessão. Não vou negar, aquele cara é insuportável. Às vezes, tenho a impressão de que ele é gay. Com certeza não deve ter se assumido ainda, mas deve gostar da mesma fruta que eu — solto uma risada do seu jeito de falar — Nada contra, é claro, apenas um achismo meu.
A Liz é modelo e trabalha em várias agências, por ser muito bem requisitada. E não é a primeira vez que comenta isso a respeito desse tal Rodrigo, porém, como nunca o vi, não posso afirmar nada, ou concordar com o que diz.
— Depois do que conversamos, acho melhor eu ir direto para o meu apartamento hoje, então, não me espere. — pela primeira vez em tempos, ela se despede de mim com um beijo na bochecha, ao invés de na boca, como é habitual.
— Está tudo bem entre nós? — a questiono, pois me importo demais com ela.
— Claro, não pense que irá se livrar de mim assim tão fácil. — fala de maneira descontraída, me deixando aliviado e mais leve.
A abraço forte, depositando um beijo em sua testa.
— Tenha um ótimo dia. — desejo.
— Você também, Nandinho. — diz, ajeitando a bolsa no ombro e se direcionando à porta.
Penso em lavar os pratos, no entanto, não tenho mais tempo para isso, então, me apresso em pegar algumas coisas no quarto, como meu jaleco e a pasta preta onde coloco documentos importantes, e saio do apartamento.
Passo no lugar onde pretendo montar minha futura clínica e sorrio somente em imaginar tudo organizado, cada coisa em seu devido lugar, até mesmo a agitação pelo entra e sai dos pacientes. Mas não fico muito tempo, porque preciso trabalhar, tenho uma cirurgia marcada agora pela manhã, então, rapidamente, sigo para o meu destino.
