Capítulo 1 - parte 2
— E o seu dia, como foi?
— Prefiro não falar sobre isso, quero apenas aproveitar essa noite com a mulher da minha vida. — responde sorrindo.
Dirige por mais algum tempo e estaciona em frente a um restaurante, que serve comida francesa. Ele sai do carro e entrega a chave ao manobrista.
— Cuide dessa belezinha com a sua vida, meu caro. Ele vale dez vezes o seu salário. — fala com o rapaz, me deixando envergonhada.
— Qual a necessidade disso, Rodrigo?
— É só modo de falar, meu amor. Vamos entrar. — beija novamente minha mão, como se isso apagasse suas atitudes estúpidas.
Entramos no lugar extremamente luxuoso, com um lustre de cristal imenso no teto. Já estou acostumada a frequentar lugares assim com ele, então nem me surpreendo mais. Um garçom nos guia até uma mesa e puxa a cadeira para ambos sentarmos.
— Obrigada. — o agradeço gentilmente.
— O que vão querer? — o garçom pergunta, nos entregando o menu com o cardápio e preparado para anotar nossos pedidos.
— De entrada, um Escalope de Foie Gras, prato principal, pode ser, hum… — analisa o cardápio com os olhos — Um Magret e de sobremesa, Mousse de chocolate.
— E a senhorita? — ele se direciona a mim.
— Pode trazer tudo o que pedi para ela também — até abro a boca, mas ele me impede de prosseguir, respondendo em meu lugar — Ah, e não esquece do vinho. — não somente eu, como também o garçom franze o cenho com a atitude do Rodrigo.
O garçom pigarreia.
— Anh… E qual vinho o senhor deseja?
— Um Chateau Latour 2011.
O rapaz anota nossos pedidos e sai.
— Por que você sempre faz isso? — o questiono com seriedade.
— Do que está falando, meu bem?
— Toda vez que saímos, você faz questão de pedir por mim, de me tratar como se eu fosse uma criança… Eu tenho vontades, Rodrigo, será que isso é tão difícil de entender?
— Ei, meu bem, calma… — percebendo que estou um pouco alterada, ele olha ao redor, certamente para garantir que ninguém esteja vendo o pequeno drama e segura minha mão por cima da mesa, a acariciando — Não gosta mais de chocolate?
— Sabe bem que não é sobre isso que estou falando…
— Só estou cuidando de você. Não posso? — continua acariciando minha mão.
Não o respondo, porque estou ficando cada vez mais farta disso.
— Não vamos brigar, ok? Essa é uma noite especial e eu não quero que nada estrague.
Especial não sei para quê ou quem…
— Espera só um pouquinho, preciso ir ao banheiro. — informa, levantando.
Alguns minutos se passam e estranho a demora do Rodrigo. Enquanto isso, o garçom traz a garrafa de vinho que ele pediu e a repousa sobre a mesa, assim como também, duas taças.
— Posso servi-la?
Olho ao redor, procurando por algum sinal do meu namorado e não o encontro, então balanço a cabeça em afirmação e o garçom enche uma das taças para mim.
— Desculpe a demora, querida, precisei atender uma ligação. — se justifica, puxando a cadeira para a frente após sentar.
— Tudo bem — termino de saborear o vinho e ponho a taça na mesa — Então, o que é tão especial para ter me trazido aqui essa noite? — pergunto, sentindo-me entediada.
Não é pelo lugar, é pela companhia... Eu poderia estar comendo um podrão em uma lanchonete de esquina qualquer, mas se a companhia fosse agradável, seria o suficiente. Coisa que o Rodrigo não tem ajudado a ser.
— Tão ansiosa... — acaricia minha mão, dando uma risada breve — Que tal comermos primeiro, depois falamos sobre isso, ok?
Ele parece estar cheio de mistérios hoje, como não estou com muita paciência, apenas concordo e nossos pedidos não demoram a chegar. Comemos e conversamos um pouco, mas nenhum assunto interessante a ponto de ter minha completa atenção.
— Acho que não aguento a sobremesa, estou cheia... — comento, depois de dar a última garfada no Magret.
— Como não? Essa é a melhor parte. — ele sorri, pisca para mim e acena para o garçom.
O rapaz traz duas tacinhas, sobre dois pratos de louça, com as mousses e deixa na mesa. O cheiro está espetacular e, mesmo que eu quisesse recusar, não conseguiria. Além de estar com uma cara super apetitosa, com raspas de chocolate por cima e um morango cortado. Até salivo.
Dou a primeira colherada, o saboreando, chego a fechar os olhos.
— Gostou? — sua pergunta me faz abrir os olhos.
— Sim, obrigada. — dou um sorriso contido.
— Sabia que iria gostar. — ele fala como se isso mudasse o que eu penso a respeito de suas atitudes.
Após dar a terceira colherada, tenho a impressão de ter mordido algo, uma pedra, sei lá... Ponho a mão na boca, alcançando um objeto meio duro e puxo para fora, me deparando com um anel. Ou melhor, uma aliança com um diamante imenso e brilhante. Em seguida, um violinista se aproxima de nossa mesa, tocando A Thousand Years – Cristina Perri, uma das minhas músicas internacionais favoritas e o Rodrigo levanta com um enorme sorriso, se ajoelhando à minha frente.
— O quê... — tento me expressar, mas estou boquiaberta e assustada demais, tentando entender o que está acontecendo. Aliás, acho que não quero entender...
— Babi, meu amor, você é a luz da minha vida, tudo o que faltava para me sentir completo. Quero acordar ao seu lado todos os dias e expressar o quanto eu te amo. Você é a razão para eu voltar para casa diariamente, porque não há nada mais importante para mim. Então, Barbara Fontes, quer se casar comigo? — cada uma das palavras proferidas por ele, seriam perfeitas, aliás, tudo seria perfeito, se não fossem palavras vazias e sem uma gota de sentimento.
Pelo menos, é assim que eu sinto toda vez que ele diz algo bonito, como o que acabou de fazer.
— Meu amor...? — o som de sua voz me traz de volta à realidade.
Analiso o anel em minha mão, todas as pessoas ao redor com o olhar cheio de expectativa para ouvirem a minha resposta e o homem ajoelhado à minha frente, com um sorriso morrendo aos poucos, devido a minha demora para dizer algo e o cenho franzido.
— Eu... Eu... — engulo em seco sem saber o que responder diante de tamanha pressão.
— Você...? — ele diz.
— Eu... Anh... Aceito. — digo, finalmente, arrancando uma salva de palmas de todos os presentes no lugar.
Rodrigo levanta, limpa a aliança suja de chocolate e a desliza em meu dedo anelar da mão direita, me dando um beijo, em seguida.
— Eu te amo. — diz ao me abraçar, após afastar nossos lábios.
E eu realmente queria poder dizer o mesmo, mas simplesmente não consigo dizer absolutamente nada. Então, me restrinjo a sorrir, forçando uma alegria inexistente, exatamente como tem sido nos últimos meses.
