Capítulo 6
Mais tarde naquela noite, o som de uma chave girando na fechadura me tirou dos meus pensamentos inquietos. A porta rangeu ao abrir, e Bell entrou, carregando uma bandeja de comida e um vestido cuidadosamente dobrado pendurado no braço. Sua expressão era calma, mas cautelosa, não revelando nada do que poderia vir a seguir.
Ela colocou a bandeja na mesinha perto da janela e colocou o vestido cuidadosamente na cama.
— O Sr. Rodriguez virá buscá-la em breve — ela disse, seu tom medido e profissional. — Você precisa se preparar.
Olhei para ela, o peso de suas palavras se acomodando pesadamente em mim.
— Preparar para quê? — perguntei, embora já tivesse uma sensação de que sabia a resposta.
Bell virou seu olhar para mim, sua expressão ilegível.
— Eu não sei — ela disse calmamente, seu tom firme, mas não indelicado. — Estou apenas seguindo as instruções dele. Agora se apresse. Se quiser, posso ajudar com seu cabelo e maquiagem.
Hesitei, sem saber se deveria me importar com a aparência que eu tinha para o que quer que Theo tivesse planejado. Mas algo no comportamento de Bell me fez concordar. Se eu tivesse que encarar o que quer que estivesse por vir, eu poderia muito bem fazer isso com algum senso de controle, não importa o quão pequeno.
— Tudo bem — eu disse, indo em direção à cama onde o vestido estava.
— Bom — Bell respondeu, seu tom rápido enquanto pegava a bandeja da mesa e a colocava mais perto de mim. — Coma alguma coisa enquanto se prepara. Você vai precisar de força.
Olhei para a comida — uma tigela de sopa, um pouco de pão e um pequeno copo de suco. Simples, mas cheirava convidativo. Meu estômago roncou, lembrando-me de que eu não tinha comido muito o dia todo.
Bell me entregou o vestido.
— Troque-se rapidamente e depois sente-se. Vou pegar os suprimentos.
Peguei o vestido das mãos de Bell, meus dedos roçando o tecido macio. Enquanto o desdobrava, uma sensação de pavor tomou conta de mim. O vestido era vermelho escuro, acetinado e elegante, mas era muito mais revelador do que qualquer coisa que eu já tinha usado. O decote era baixo, expondo mais decote do que eu estava confortável, e a bainha era alta, parando logo acima do meu joelho, deixando a maior parte das minhas coxas nuas.
Fiquei ali por um momento, olhando para o vestido em minhas mãos, sem saber se deveria vesti-lo. A ideia de usar algo tão revelador me fez sentir exposta, vulnerável. Não era só a aparência — era a maneira como me fazia sentir. O aperto no meu peito aumentava a cada segundo que passava. Eu não queria ser o tipo de mulher que usa algo assim. Eu não queria ser cobiçada ou tratada como um objeto.
Mas não havia como escapar da situação. Bell já estava se virando para reunir os suprimentos de maquiagem, de costas para mim. Eu não podia protestar. Não tinha escolha.
Com um suspiro pesado, tirei minhas roupas e vesti o vestido, tentando ajustá-lo para cobrir o máximo que eu podia. O tecido grudava em mim de todas as maneiras erradas, e eu imediatamente me senti constrangida. Olhei para mim mesma no espelho, tentando estabilizar minha respiração enquanto olhava meu reflexo. O vestido abraçava cada curva, mostrando mais do que eu estava confortável, e eu não pude deixar de sentir como se estivesse sendo despojada da minha dignidade.
Puxei o tecido, desejando que fosse mais solto, menos revelador. Mas não era. Parecia que eu estava presa nele.
Bell se virou, sua expressão ilegível, mas eu podia ver a maneira como seus olhos me examinaram brevemente da cabeça aos pés. Ela não disse nada, no entanto, e por isso, eu estava grata.
— Sente-se — ela instruiu, gesticulando para a cadeira da penteadeira.
Fiz o que ela disse, sentindo o tecido apertado se mover conforme eu me movia. Bell não perdeu tempo, pegando uma escova e começando a trabalhar no meu cabelo.
Enquanto Bell trabalhava no meu cabelo, eu não conseguia me livrar da sensação de desconforto que se agarrava a mim, amplificada pelo vestido. Cada puxão da escova no meu cabelo parecia espelhar a tensão no meu peito, e o suave farfalhar das cerdas só aumentava minha consciência de quão exposta eu me sentia. O vestido — apertado, vermelho e muito revelador — estava me sufocando de maneiras que eu não conseguia explicar. Ele fazia minha pele ficar muito quente, como se estivesse se agarrando a mim em uma intimidade desconfortável para a qual eu não estava preparada.
Bell foi gentil enquanto penteava meu cabelo, suas mãos firmes e profissionais, mas eu podia ver o mais leve lampejo de desconforto em seus olhos enquanto ela me observava. Eu dificilmente poderia culpá-la. O vestido, embora lindo, não era algo que eu imaginava usar, e certamente não neste contexto. Mas não foi culpa de Bell. Ela estava apenas fazendo seu trabalho, e eu sabia que não tinha ninguém para culpar além de mim mesma pela situação em que estava.
— Não se preocupe — Bell disse calmamente, quebrando o silêncio enquanto trabalhava. — É só uma formalidade. Você não terá que fazer nada com o que não se sinta confortável.
As palavras dela deveriam ter me tranquilizado, mas elas só me fizeram sentir pior. Eu não tinha certeza do que Theo esperava, mas não conseguia me livrar da sensação de que, o que quer que estivesse por vir, eu não teria controle sobre isso. A realidade de estar presa nesse jogo de poder, de ter que desempenhar algum papel para o qual não me inscrevi, pesava sobre meus ombros.
— Obrigada — murmurei, embora não tivesse certeza se acreditava nela. Ainda assim, tentei me concentrar na tarefa em questão, tentando me convencer de que conseguiria passar por isso — o que quer que fosse — com alguma aparência de dignidade.
Depois de alguns minutos, Bell terminou de modelar meu cabelo em ondas suaves e soltas que emolduravam meu rosto e caíam logo abaixo dos meus ombros. Seus movimentos eram praticados, precisos, e eu tinha que admitir, ela era boa no que fazia.
Assim que terminou, ela deu um passo para trás e avaliou seu trabalho.
— Perfeito — ela disse, seu tom neutro. — Agora, vamos te preparar para o resto.
Eu assenti, tentando não fazer contato visual comigo mesma no espelho. Eu não estava pronta para encarar o reflexo de alguém que eu mal reconhecia. A versão de mim que olhou de volta não era mais a garota que tinha controle sobre suas escolhas. Ela era uma mulher em um vestido que não lhe pertencia, uma mulher desempenhando um papel com o qual ela não havia concordado.
Bell se virou e começou a juntar os suprimentos de maquiagem, seus dedos rápidos enquanto ela preparava os pincéis, a base e tudo o mais que ela precisaria para terminar. Eu a observei, fazendo o meu melhor para manter minhas mãos firmes enquanto ela fazia sua mágica.
Ela aplicou a maquiagem com uma eficiência calma, destacando os ângulos do meu rosto que eu geralmente tentava esconder, acentuando as características que não precisavam de atenção. Eu senti o peso de cada camada conforme era aplicada, uma máscara que me fazia parecer outra pessoa completamente. Era como se, a cada pincelada, eu estivesse desaparecendo sob as camadas de maquiagem, me tornando a versão de mim mesma que atenderia às expectativas de Theo — ou pelo menos a versão que ele queria ver.
Quando ela terminou, Bell me entregou um espelho, e eu não sabia o que esperar. A mulher no reflexo ainda era eu, mas de alguma forma diferente. Minhas feições estavam mais nítidas, meus olhos maiores e mais intensos, emoldurados por sombra esfumaçada e sobrancelhas definidas. Meus lábios estavam pintados de um vermelho profundo que parecia contrastar com a palidez da minha pele, me fazendo sentir ainda mais deslocada.
— Você está deslumbrante — Bell disse, seu tom mais suave agora, como se ela estivesse tentando me confortar, embora eu não tivesse certeza se isso era possível. — Ele estará aqui em breve.
Eu assenti lentamente, respirando fundo enquanto colocava o espelho na penteadeira. Eu não podia continuar me olhando assim. Eu tinha que me concentrar, para me lembrar de que eu não estava fazendo isso por mim. Isso era sobre sobrevivência, sobre superar o que quer que estivesse por vir. O que quer que ele quisesse.
A porta se abriu de repente, e eu olhei para cima para ver Bell parada, seu rosto não revelando nada. Eu estava prestes a perguntar quem era, mas a pergunta foi respondida antes que eu pudesse perguntar. Theo entrou, sua presença imediata e avassaladora, seus olhos se estreitando ligeiramente enquanto se fixavam em mim.
— Vamos — ele disse, seu tom não sugeria nenhuma discussão.
Meu coração pulou uma batida. Senti um arrepio frio percorrer minha espinha, mas fiz o meu melhor para manter a compostura. Era isso. Este era o momento em que tudo o que eu temia estava prestes a se tornar realidade.
Fiquei de pé, dando uma última olhada para Bell, que simplesmente assentiu para mim antes de se virar. Respirei fundo e segui Theo para fora da sala, tentando não deixar o desconforto do vestido e da situação me dominar.
Enquanto eu descia as escadas, vi Theo parado no fundo, seus olhos imediatamente travados em mim. Ele estava vestido com um terno elegante e sob medida, sua postura confiante, mas assim que seu olhar pousou em mim, sua expressão mudou.
Seus olhos brilharam, uma mistura de admiração e algo mais sombrio — algo que fez meu estômago se revirar desconfortavelmente. Ele deu um passo lento e deliberado em minha direção, seus lábios se curvando em um sorriso.
— Bem, você não parece... interessante — Theo disse, seu tom zombeteiro, mas de alguma forma atado com aprovação. — Um pouco demais para o meu gosto, mas acho que funciona para você.
O elogio era uma mistura estranha de elogio e insulto, e eu podia sentir meu pulso acelerar, meu desconforto se aprofundando. Eu não conseguia dizer se ele estava zombando de mim ou genuinamente satisfeito com o que viu, mas não importava. Suas palavras doeram, mesmo que eu soubesse que ele estava tentando me irritar.
Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos, e perguntei:
— Para onde estamos indo?
O sorriso irônico de Theo só aumentou, mas sua resposta foi cortante e desdenhosa.
— Você verá quando chegarmos lá.
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ele agarrou meu pulso com força, me puxando em direção à porta. Eu tropecei um pouco, mas rapidamente recuperei o equilíbrio. O aperto de Theo era firme, inflexível, enquanto ele me arrastava para fora em direção a uma limusine que me esperava. Eu podia sentir o frio do ar noturno, mas a tensão no meu peito era o que mais me fazia tremer.
