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Capítulo 3

Acordei com o som de chaves chacoalhando do lado de fora da porta. Meu coração pulou quando me sentei, o cobertor fino caindo dos meus ombros. A fechadura estalou, e a porta rangeu ao abrir.

Uma mulher entrou. Ela parecia ter quarenta e poucos anos, vestida com um uniforme preto simples com um avental branco amarrado cuidadosamente em volta da cintura. Ela carregava uma bandeja de prata nas mãos. De um lado da bandeja havia um prato de comida — torrada, ovos e um pequeno copo de suco de laranja. Do outro lado havia um vestido cuidadosamente dobrado, uma cor creme suave que parecia caro demais para alguém como eu.

— Você deve estar com fome — a empregada disse gentilmente, colocando a bandeja na pequena mesa perto da cama. Sua voz era suave, gentil, mas havia um lampejo de pena em seus olhos que me fez sentir ainda menor do que eu já estava.

Eu assenti, minha garganta seca.

— Obrigada — eu murmurei, minha voz mal passando de um sussurro.

Ela se endireitou e gesticulou para o vestido.

— O Sr. Rodriguez me pediu para trazer isso. Você vai precisar se trocar antes de vê-lo.

Meu estômago se revirou com a menção de Theo.

— Vê-lo? — perguntei hesitante.

A empregada me deu um pequeno aceno, sua expressão ilegível.

— Ele vai mandar te chamar em breve. Você deveria comer e se preparar.

Olhei para a comida, mas meu apetite não estava em lugar nenhum. Minhas mãos tremiam quando peguei o vestido. O tecido era macio e leve, mas parecia que pesava uma tonelada nas minhas mãos.

— Eu... eu não trouxe nada comigo — admiti, minhas bochechas corando de vergonha.

A empregada ofereceu um pequeno sorriso.

— É por isso que eu trouxe. Não se preocupe, senhorita. Você terá tudo o que precisa aqui.

Tudo o que preciso? As palavras pareciam vazias. Nada sobre essa situação parecia certo ou confortável, não importa quão bonito o vestido ou a comida fossem.

A empregada parou na porta, sua mão descansando na maçaneta. Ela olhou de volta para mim, sua expressão suave, mas distante.

— Meu nome é Bell — ela disse calmamente.

Abri a boca para dizer algo, mas nenhuma palavra saiu. Ela me deu um pequeno aceno e se virou, saindo do quarto. A porta se fechou atrás dela, e ouvi o som inconfundível da fechadura girando.

Olhei para a porta fechada, o peso da situação pressionando-me novamente. Bell não disse mais nada, e seu silêncio me deixou sentindo mais sozinha do que nunca.

Respirando fundo, virei-me para a bandeja de comida. Meu estômago roncou levemente, lembrando-me de que eu não comia desde ontem. Peguei a torrada e tomei um gole do suco de laranja, me forçando a comer alguma coisa, mesmo não estando com fome.

Depois que terminei o que pude, levantei-me e fui até o pequeno banheiro anexo ao quarto. A pia e o espelho eram simples, mas tudo estava impecável. Joguei água fria no rosto, tentando acordar completamente e acalmar os nervos que estavam dando nós no meu estômago.

Olhei para meu reflexo no espelho. Meu cabelo estava uma bagunça, e meus olhos estavam inchados de tanto chorar. Passei os dedos pelo cabelo, fazendo o meu melhor para alisá-lo, e lavei meu rosto novamente.

O vestido estava pendurado na beirada da cama, esperando por mim. Parecia que vesti-lo tornaria tudo real, mas eu não podia adiar mais. Com as mãos trêmulas, deslizei para dentro do vestido, ajustando-o até que ele se encaixasse perfeitamente.

Fiquei em frente ao espelho mais uma vez, encarando a garota refletida de volta para mim. Ela parecia diferente — limpa, polida, mas ainda assustada. Nenhuma quantidade de água ou um vestido novo poderia lavar o medo dos meus olhos.

Sentei-me na beirada da cama, torcendo nervosamente os dedos enquanto os minutos passavam. O vestido creme macio vestia perfeitamente, seu tecido me abraçava de uma forma que parecia delicada e sufocante. Meu estômago embrulhou, e eu não conseguia dizer se era a comida ou a antecipação do que estava por vir.

Uma batida suave quebrou o silêncio, seguida pelo som da fechadura girando. A porta se abriu, e Bell entrou novamente. Sua expressão era calma, mas seus olhos revelavam uma pitada de desconforto.

— O Sr. Rodriguez está pronto para vê-la — ela disse, com a voz baixa.

Meu peito apertou. Fiquei de pé, alisando o vestido com mãos trêmulas.

— Onde ele está? — perguntei, embora minha voz tenha saído mais trêmula do que eu pretendia.

Bell fez sinal para que eu a seguisse.

— Ele está esperando lá embaixo — ela disse, virando-se para a porta.

Hesitei por um momento, olhando para a porta aberta. Era isso, o momento que eu temia desde a noite passada. Respirei fundo, forçando meus pés a se moverem.

Enquanto eu seguia Bell pelo corredor estreito, o ar parecia pesado, o silêncio entre nós espesso. Meu coração batia mais alto a cada passo. A grande escadaria que descemos era forrada com madeira polida, e as paredes eram decoradas com pinturas abstratas que pareciam deslocadas na atmosfera fria e agourenta da casa.

Bell parou em frente a uma grande porta de madeira escura no fim do corredor. Ela se virou para mim, sua expressão ilegível.

— Você tem algum conselho? — sussurrei, minha voz quase inaudível.

Os lábios de Bell se apertaram em uma linha fina, e por um momento, pensei que ela não responderia. Seus olhos piscaram para a porta, depois voltaram para mim, como se debatendo se deveria dizer alguma coisa. Finalmente, ela se inclinou levemente, sua voz pouco mais que um sussurro.

— Ele pode ser... — Ela fez uma pausa, procurando a palavra certa. — Intenso. Não o provoque. Fale quando lhe falarem, e tenha cuidado com suas palavras. — Seus olhos suavizaram, mas havia uma sombra atrás deles. — Ele não gosta de ser desafiado.

Suas palavras me fizeram sentir um calafrio, confirmando o medo que estava me roendo desde que ouvi o nome de Theo pela primeira vez. Assenti rigidamente, sem saber se conseguiria respirar com firmeza, muito menos evitar provocar alguém como ele.

Bell hesitou, sua mão ainda na maçaneta da porta. Ela abriu a boca como se fosse dizer mais, mas então pensou melhor e balançou a cabeça.

— Só... fique calma — ela disse, quase para si mesma. Com isso, ela abriu a porta.

A sala além era enorme, o ar denso com autoridade e poder. Uma mesa longa e elegante se estendia no meio, embora estivesse vazia, exceto por um único copo de líquido âmbar perto da extremidade mais distante. Janelas do chão ao teto deixavam entrar uma onda de luz do sol, mas isso fazia pouco para aquecer a sensação fria e calculada do espaço.

E lá estava ele.

Theo Rodriguez estava perto das janelas, de costas para nós. O corte afiado de seu terno sob medida enfatizava seus ombros largos e seu corpo alto e imponente. Mesmo com seu rosto escondido, a mera presença dele era avassaladora. Ele se virou ligeiramente ao som da porta, seus olhos escuros se fixando nos meus com uma intensidade que me prendeu ao local.

— Deixe-nos, Bell — disse Theo, sua voz suave, mas autoritária.

— Sim, senhor. — Bell não olhou para mim enquanto recuava rapidamente, fechando a porta suavemente atrás de si. O som da fechadura clicando ecoou no silêncio, e percebi que estava sozinha com ele. Meu coração disparou, o som alto em meus ouvidos enquanto Theo me estudava.

O olhar de Theo passou por mim, lento e deliberado, sua expressão ilegível a princípio. Então, o canto de sua boca se contraiu, formando um leve sorriso que fez minha pele arrepiar.

— Ninguém lhe disse para se limpar direito antes de me encontrar? — ele perguntou, sua voz pingando de escárnio. Seus olhos escuros permaneceram no meu rosto, e eu senti o calor subir para minhas bochechas. — Ou esse é seu melhor esforço?

Engoli em seco, minhas mãos apertando o tecido do vestido em meus lados.

— Eu... eu fiz o que pude — gaguejei, minha voz tremendo sob o peso de seu escrutínio.

Ele soltou uma risada suave e sem humor, balançando a cabeça como se achasse toda a situação divertida.

— Seu cabelo ainda está uma bagunça, e esses olhos inchados... — Ele inclinou a cabeça, seu sorriso se alargando. — Chorando a noite toda, não é? Já com medo de mim?

Eu vacilei com suas palavras, mas não disse nada. O que eu poderia dizer? Ele não estava errado.

Theo se aproximou, seus sapatos polidos estalando suavemente contra o piso de madeira, o som fazendo meu coração disparar ainda mais rápido. Ele parou a alguns metros de distância, sua estrutura imponente lançando uma sombra sobre mim. Eu me forcei a ficar parada, mesmo quando cada fibra do meu ser gritava para eu recuar.

— Silêncio — ele disse, sua voz baixa e suave — é uma escolha sábia. Vamos torcer para que não seja a única coisa em que você é boa.

Minhas bochechas queimaram de humilhação, mas mordi o lábio para não dizer nada. O aviso de Bell ecoou em minha mente: Não o provoque. Tenha cuidado com suas palavras.

Theo me estudou por um longo momento, seus olhos escuros se estreitando como se ele estivesse tentando ver através de mim, para separar as camadas de medo e confusão que eu estava tentando tanto manter sob controle. Então ele se virou abruptamente, caminhando em direção à mesa perto das janelas. Ele pegou o copo com líquido âmbar e o girou preguiçosamente, de costas para mim.

Theo tomou um gole lento do copo antes de colocá-lo na mesa com precisão deliberada. Ele ainda estava de costas para mim, mas sua voz atravessava a sala sem esforço, fria e autoritária.

— Eu chamei você aqui — ele começou, seu tom afiado, mas calmo — para estabelecer as regras. Regras que você seguirá se quiser sobreviver. — Ele se virou então, seus olhos escuros travando nos meus com uma intensidade que fez meus joelhos ficarem fracos. — Porque, não se engane, sua sobrevivência depende inteiramente de mim.

Engoli em seco, minha garganta seca como lixa. Meu coração batia dolorosamente no peito, cada batida mais alta que a anterior.

Ele caminhou de volta em minha direção, seus passos sem pressa, o ar predatório ao redor dele inegável.

— Regra um — ele disse, sua voz baixa, mas firme.

— Regra número um — Theo disse, sua voz firme, cada palavra deliberada. — Quando eu mandar te chamar, você vai garantir que esteja... apresentável. Sem cabelo desgrenhado. Sem olhos inchados. E certamente não como se tivesse acabado de sair de um buraco.

Seu olhar passou rapidamente por mim, o desdém em seus olhos fazendo minha pele formigar.

— Um pequeno toque de maquiagem faria maravilhas. Não espero perfeição, mas exijo esforço. Entendido?

Eu assenti rigidamente, minhas bochechas queimando de humilhação.

— S-Sim — eu consegui sussurrar, minha voz quase inaudível.

— Bom — ele disse secamente, como se minha concordância fosse o único resultado lógico.

— Regra dois — ele continuou, circulando-me como um predador avaliando uma presa — você falará somente quando falarem com você. Não tenho interesse em suas opiniões ou pensamentos não solicitados. Quando eu precisar de algo de você, deixarei claro.

Apertei minhas mãos com força, minhas unhas cravando em minhas palmas enquanto eu lutava contra a vontade de dizer qualquer coisa que pudesse provocá-lo. O aviso de Bell se repetia em minha mente como um mantra: Não o provoque. Tenha cuidado com suas palavras.

Theo parou na minha frente, seus olhos penetrantes perfurando os meus.

— Regra três — Theo disse, sua voz caindo para um sussurro perigoso — você não tem permissão para sair desta casa. Nem o terreno, nem os portões, nem mesmo a soleira da porta da frente sem minha permissão explícita. Esta mansão é seu mundo inteiro agora. Cada canto dela pertence a mim, assim como você enquanto estiver aqui.

Meu estômago se contorceu em um nó mais apertado, o peso de suas palavras pressionando-me como um torno. Minha garganta estava seca, mas me forcei a ficar em silêncio. Ele ainda não tinha terminado.

— E — ele continuou, seu tom ficando mais afiado — você não deve fazer contato com ninguém fora dessas paredes. Nenhuma ligação, nenhuma carta, nenhuma mensagem, nada. Eu controlo o fluxo de informações para dentro e para fora desta casa. Você entendeu?

— Sim — sussurrei, sentindo como se a palavra tivesse sido arrancada de mim.

Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso satisfeito.

— Ótimo. — Ele estendeu a mão em minha direção, com a palma para cima. — Agora, seu telefone.

Meu coração afundou. Instintivamente, alcancei o bolso do vestido antes de perceber que não tinha um. Claro que não teria. O vestido foi projetado para tirar qualquer vestígio de conveniência ou normalidade.

— E-eu não o tenho comigo — gaguejei, minha voz trêmula. — Está no quarto.

O sorriso de Theo não vacilou, mas seus olhos escureceram levemente.

— Bell vai recuperá-lo para mim — ele disse friamente. — Você não vai mais precisar dele, então nem pense em pedir de volta.

Minhas mãos se fecharam em meus lados, minhas unhas cravaram em minhas palmas. Eu queria discutir, protestar, mas o peso de sua presença e o aviso de Bell mantiveram minha boca fechada.

— Bom — ele disse novamente, seu tom presunçoso. Ele deu um passo para trás, cruzando os braços enquanto me olhava com um olhar que era partes iguais de satisfação e condescendência. — Você está aprendendo rápido.

O olhar penetrante de Theo não vacilou enquanto ele continuava, o silêncio opressivo da sala amplificando suas próximas palavras.

— Regra quatro — ele disse, sua voz baixa e deliberada — você seguirá minhas instruções sem hesitação. Eu não vou me repetir, nem tolerarei desobediência. Qualquer desvio de minhas ordens resultará em consequências que você não vai gostar.

Minha respiração engatou. Suas palavras estavam atadas com uma finalidade gélida que não deixava espaço para interpretação. Eu assenti uma vez, sem saber se podia confiar na minha voz para responder.

Os lábios de Theo se contraíram em um sorriso fraco e sem humor.

— Ah, finalmente entendendo seu lugar, não é?

Ele se aproximou, sua presença imponente pairando sobre mim como uma sombra escura. Lutei contra o desejo de recuar, sabendo que isso só satisfaria qualquer poder distorcido que ele derivasse do meu medo.

A voz de Theo ficou ainda mais baixa, o tom mudando para algo muito mais perigoso, misturado a uma fome sombria e inegável. Seus olhos perfuraram os meus e, pela primeira vez, vi um lampejo de algo mais aterrorizante do que sua fria autoridade, desejo.

— E a última regra — ele disse, sua voz sedosa e deliberada, cada palavra pingando com uma intensidade possessiva que fez meu estômago revirar. — Você não vai tentar me deixar.

Ele se aproximou, o espaço entre nós quase inexistente agora. Eu podia sentir o calor irradiando dele, e precisei de todas as minhas forças para não recuar. Seu olhar vagou por mim, lento e predatório, seus lábios se curvando em um sorriso que enviou um arrepio frio pela minha espinha.

— Você é minha, Sofia — ele continuou, sua voz quase um sussurro, mas ecoou no quarto como se fosse o único som que importasse. — Minha para guardar, minha para brincar, e minha para descartar quando eu terminar com você.

O ar parecia espesso, sufocante, enquanto suas palavras pairavam no espaço entre nós. Abri a boca para responder, mas nenhum som saiu. O que eu poderia dizer sobre isso? Seus olhos queimavam com um fogo possessivo, um que parecia ver através de mim, removendo qualquer aparência de poder que eu pudesse ter esperado manter.

Theo inclinou a cabeça, estudando meu silêncio com um sorriso fraco e divertido.

— Nenhum protesto? — ele perguntou, sua voz provocante, como se me desafiasse a desafiá-lo. Quando fiquei paralisada, ele se inclinou, sua respiração roçando meu ouvido. — Ótimo. Você está aprendendo.

Eu não conseguia me mover, não conseguia respirar, enquanto o peso de suas palavras se acomodava sobre mim. Cada instinto gritava para eu correr, lutar, fazer alguma coisa, mas a fria realidade da minha situação me mantinha cativa, tão efetivamente quanto sua presença iminente.

Antes que Theo pudesse dizer qualquer outra coisa, a porta se abriu e uma voz soou, aguda e autoritária.

— Theo! — A voz da mulher ecoou pela sala, cortando a espessa tensão como uma faca.

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