Capítulo 2
Pedro Cavalcante
A menina fica chocada. Acho que ela nem entendeu o que eu quis dizer.
Bom, eu já estou acostumado a ter essa reação quando descobrem. O que vem depois dessa reação, é que são outros quinhentos.
E que mulher! Pqp!
Me deu água na boca quando a vi em pé na minha sala.
Toda no lugar, um bundão da porra, cintura fininha. A típica passista das escolas de samba. Ter Juliana como babá da minha princesa, vai ser um verdadeiro martírio. E eu sei que Amanda também ficou interessada.
Aquela ansiedade de falar tudo ao mesmo tempo, não condiz com a mulher centrada que ela é. Ela quer a menina por perto, e não vai abrir mão disso.
Ela arranha a garganta e diz:
-Eu acho que não entendi direito.
-Entendeu sim querida... Eu e meu marido temos uma namorada, podemos dizer que formamos um trisal. As vezes ela dorme aqui, e uma dessas vezes, a babá nos flagrou na sala de nossa casa. Você já percebeu que nossa casa é toda aberta, não temos paredes, só aqui em cima. Então, ela um dia nos flagrou... Ficou se sentindo ofendida mesmo sabendo de tudo, pois não escondemos nada de nossos empregados e nem de ninguém. Todos sabem do nosso modo de vida.
-Por mim tudo bem, as pessoas vivem do jeito que elas quiserem. Não tenho preconceitos contra isso. Eu mesma sou bissexual, e demorei um pouco para me aceitar. Então eu entendo bem como essas coisas podem machucar. -Ela coça a sobrancelha e continua. - Eu prefiro não dar minha opinião sobre nada disso e respeitar. A minha surpresa é porque eu nunca imaginei conversar sobre isso com meus empregadores. Desculpe se o que disse, soou como um preconceito.
Dentre todas as coisas que ela falou, eu só ouvi bissexual, agora que meu pau deu um pulo dentro do short. Mais que porra!
Olho para Amanda e ela olha para ela com aquele olhar curioso, como se quisesse desvendar tudo sobre a menina.
Merda! Já não bastasse ela ser um pedaço de mau caminho, ainda é bissexual? É pra matar qualquer casal que gosta de variar na relação.
-Então, se nos ver com nossa namorada não ficará constrangida?- Eu pergunto porque isso vai acontecer, mais dia menos dia.
Ela molha os lábios com a língua e diz.
-Não ficarei ofendida. Quando estiver trabalhando, prometo não ficar circulando pela casa. Um bom empregado deve ser invisível para seus patrões.
-Juliana, não ficamos nos agarrando na sala para todos verem. Amanda não soube se expressar direito. O que aconteceu foi um evento isolado. Então não fique constrangida.
Tive que explicar, porque soou como se fizéssemos um bacanal todos os dias. Não era assim.
-E mesmo se ficassem. A casa é de vocês... Tem o direito de fazerem o que quiserem. Eu serei discreta.
Amanda confirma com a cabeça e eu sorrio para ela.
De repente o ar ficou pesado. Não costumamos ter essa conversa com os nossos empregados, mas o que aconteceu com a babá nos deixou muito chateados.
Sabemos que ninguém tem nada a ver com o nosso estilo de vida, mas as pessoas costumam se meter e opinar onde não são chamados, isso não admitimos. Principalmente de colaboradores que nos prestam serviço.
Somos felizes assim.
-Bom, eu preciso ir trabalhar agora. Ao descer, vou chamar Vitória para te mostrar as coisas. Pode esperar aqui mesmo. E na segunda nos vemos. Seja bem vinda a equipe, Juliana!
-Obrigada Amanda!
As duas apertam as mãos e Amanda sai do quarto.
-Também preciso ir me arrumar para o trabalho. Tomara que você goste de trabalhar aqui.
-Obrigada Senhor!
Aperto a mão dela e seguro por mais tempo, segurando com a outra mão.
-Pedro, Juliana... Só Pedro!
Ela sorri e tenta tirar a mão. Eu permito, sorrindo e saindo em seguida.
Estou ferrado!
******************
Juliana dos Santos
Eu estou meio chocada com esses dois. Eles são completamente diferentes do que eu poderia imaginar.
Primeiro eu achei que fosse ser entrevistada, e não contratada de supetão. Segundo que eu nunca imaginei que fosse ter uma conversa sobre sexo num primeiro contato.
Mas posso dizer que gostei da franqueza dos dois. Gostava de pessoas que falavam as coisas na lata, que não faziam cerimônias e que não se importavam se estavam sendo diplomáticas ou não.Meus antigos chefes eram assim: diplomáticos. O que fazia com que eu nunca soubesse o que realmente passava na cabeça deles.
Mas Amanda me pareceu bem sincera. E eu gostei dela!
Agora Pedro não pude saber muita coisa. Apenas que ele era um gato gostoso. E tinha cara de ser bem sacana, porque aquela segurada de mão que ele me deu ao sair, não me soou como gentileza.
Desde que cheguei em São Paulo não havia saído com muitos homens. Eu meio que cheguei traumatizada, e precisei fazer terapia para deixar de olhar com receio, para todos os homens que davam em cima de mim.
Foi nesta época que descobri minha bissexualidade.
Era sexualmente ativa, sentia falta de relações sexuais, mais não conseguia me envolver com nenhum homem. Então descobri que relações com mulheres são muito mais fáceis do que o sexo oposto. Mas até aceitar isso, levei um tempinho.
Desde então tenho preferido sair com mulheres. Não namorei ninguém durantes esses anos, porque não quero, mas já saí com muitas mulheres e apenas alguns homens. Encontrar um exemplar masculino que acenda o meu fogo de uma hora para outra nos últimos cinco anos, foi difícil por causa dos traumas que carrego. Por isso minha surpresa pela calcinha ter ficado molhada com aquele aperto de mão e aquela olhada que ele me deu ao se despedir.
Por este homem, eu fazia sacrifício!
Ô se fazia…
"Que isso Juliana? Está dando em cima de seus patrões? Que merda é essa?Eles são casados."
Bom , isso não é problema para eles.
"Mas eles tem uma namorada."
Bom, é namorada, não tem compromisso sério com ela. Ou tem?
Saio dos meus pensamentos e vejo Vitória se aproximando com Luísa no colo.
-Olá…
-Oi... Vim te passar o grosso do trabalho. Tudo bem, ou eles te assustaram?
Eu solto uma gargalhada.
-Deu pra perceber né?
-Sim, porque quando vim trabalhar aqui, eles me assustaram também. Mas depois eu me acostumei…
-Eu acho que vou me acostumar também …
-Eles são ótimos patrões, e pagam muito bem seus funcionários. São meio maluquinhos, mas são pessoas boas…
-E eles nem acertaram o salário comigo…
-Eu acho que vai se surpreender com o valor... Mas depois eles vão conversar com mais calma. É que Amanda tinha que ir trabalhar.
-Todos chamam eles pelo primeiro nome mesmo? Outra coisa que vou demorar para me acostumar …
-Eu tomei uma surra quando vim trabalhar aqui. Mas me acostumei…
Eu sorrio para ela. Pego Luísa no colo e começo a brincar com ela.
-Luisa é muito boazinha, não dá trabalho nenhum... Ela se entretém com brinquedos, gosta de explorar as coisas porque começou a andar. Só temos que tomar cuidado com as coisas que ela põe na boca, mas quando chega a hora do seu soninho é na lata. Ela dorme de tarde às 14h, temos que acordá-la às 15 h. Às sete ela janta, e até às oito já está dormindo. Anotei tudo aqui neste papel. Amanda disse que vai ficar comigo até o horário do almoço, então vai ser bom que você vai observar a rotina dela.
-Ok!
E assim passamos o horário e eu já estou amando trabalhar aqui.
Só tenho que tomar cuidado com o meu fogo! Porque se envolver com patrão, não está nos meus planos.
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Chego em casa às duas e deito no sofá. Vejo Léo já pronta para ir trabalhar.
-Você está saindo tarde hoje…
-Só dou aula no último tempo hoje. E aí, conta como foi?
-Consegui o emprego, mas te digo que o casal é estranho.
-Como assim?
-Você acredita que eles tem uma namorada? E que a outra babá saiu porque pegou eles transando na sala com a namorada?
Eleonor abre a boca e fecha…
-O que? Já escutou fofoca dos empregados?
-Não... Eles mesmo me contaram... Para saber se eu tinha algum preconceito por eles serem um trisal.
Ela continua me olhando espantada.
-Eu já transei com um casal... É bem legal... Mais conhecer um trisal que siga a vida junto. Nunca... Será que isso é possível? Quer dizer, se apaixonar por dois na mesma intensidade?
-Pelo jeito é, amiga!
-Já pensou? Você ama duas pessoas ao mesmo tempo? Seria uma ótima solução para os amantes espalhados no mundo…
Eu caio na gargalhada.
-Pensando por este lado…
-E fora isso? Como eles são?
-Estranhos... Não me perguntaram nada... Só me ofereceram o emprego. Disseram que gostaram da minha energia e isso basta.
-Eles são hippie?
Eu caio na gargalhada de novo.
-Eles não parecem ser hippie. A mulher é juíza e ele é um delegado. A casa é enorme, uma verdadeira mansão de filmes, cheia de seguranças.
-Amiga... Pelo menos vai estar super protegida.
-Foi o que pensei quando eles me disseram. Também terei que dormir no trabalho. Meu horário vai até meia noite.
-Isso é bom, eu sempre ficava preocupada com você na estrada voltando pra casa.
-Sim, também achei... Enfim, vamos ver no que vai dar…
-E eles são bonitos, novos ou velhos?
-Eles são novos, na faixa dos trinta. A menininha é linda e eles são gatos…
-Muito gatos?
-Muito... A mulher é um pedaço de mau caminho e o homem…
Suspiro…
- O que? Está suspirando por homem?
-Pois é... Esqueci até dos meus traumas perto dele…
-Eita amiga... São seus patrões... Não quero cortar seu barato, mas misturar prazer com trabalho nunca dá certo…
-Eles também são casados Leo...
Não é algo que vá acontecer…
-Mas você disse que não é empecilho, se os dois se interessarem…
Eu arregalo os olhos para ela.
-O que?
-Ué... Vai me dizer que você não ficou curiosa em saber como é?
-Claro que fiquei... Só pensei nisso desde que eles me disseram...
Acho até que se tornou um fetiche.Ela continua diante de meu silêncio.
- E te digo que é bem legal! Eu fico imaginando permanentemente, onde você passa a conhecer o corpo do outro e as suas particularidades.
Eu não tenho problemas com coisas diferentes durante o sexo. Eu gosto de foder, gosto de verdade... Já até realizei alguns fetiches, mas isso de transar com duas pessoas ao mesmo tempo, nunca rolou …
-Eles tem uma namorada... Para de pôr coisas na minha cabeça, Léo…
Ela se levanta e põe a mochila nas costas.
-Não está mais aqui quem falou. Tenho que ir. Beijo!
-Beijo!
Ela pisca o olho e sai para o trabalho.
Às vezes acho que Léo tem a cabeça aberta demais. Devido ao seu passado, onde teve que se prostituir para manter um teto em sua cabeça, ela já viu muitas coisas. Fala de coisas até que nunca imaginei. Então eu não fiquei surpresa quando ela me disse que já transou com casais…
Sabe o que preciso? De uma balada... Daquelas bem pecaminosas.
Amanhã eu arrumo alguém para encher a minha cama e tiro esses dois da minha cabeça.
Afinal Léo tem razão, misturar prazer com trabalho, nunca dá certo.
Eu só preciso focar!
Sempre foi assim na minha vida.
Eu foco num objetivo e vou em direção a ele.
Meu objetivo agora é me manter empregada e é isso que vou fazer.
Me levanto do sofá e vou tomar um banho.
Seja o que Deus quiser!
