Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 2

Seus olhos estavam vazios, sem expressão. Assustadores. Um negro frio, profundo. Transmitiam tragédia e caos. Uma aura sombria e misteriosa o cercava.

Ele estudava meu rosto. Eu olhei para baixo, sentindo minhas bochechas queimarem.

— Vamos querer um bife e uma garrafa do seu melhor vinho — quebrou o silêncio o homem à direita.

— Claro. Isso é tudo? — perguntei.

Ele apenas assentiu, e eu sorri levemente. Eles se dirigiram à cozinha para fazer o pedido.

Quase me engasguei com tanta testosterona naquela mesa.

— Isadora, pode entrar por um instante? — chamou meu chefe, Roberto. Eu realmente não gosto dele. Suspirando, me aproximei. Ele me puxou para o lado, longe de todos, e fez o que sempre faz.

— Percebi que você chegou atrasada hoje. Sempre fico feliz — disse, mordendo o lábio inferior.

— Desculpe, não dormi bem — expliquei.

— Você não deve desculpas por nada. Sabe o que precisa fazer para manter seu emprego — respondeu ele, e eu franzi a testa.

Então agarrou meus quadris com força e tocou minha bunda. Apertou com intensidade, murmurando em meu ouvido:

— Você está deliciosa. Um dia desses vou transar com você com muita força.

Encolhi-me ao ouvir isso. Considerando que ele é casado... Odeio que ele faça isso. Sempre me toca de maneira inadequada, mas não tenho escolha; não posso viver sem esse emprego. Espero ter coragem de enfrentá-lo algum dia.

Odeio me sentir desamparada. Odeio os homens. Tudo o que fazem é objetificar as mulheres, usá-las como brinquedos. Nunca fui bem tratada por um homem. Nem mesmo por meu próprio pai.

Gostaria de ter alguém de verdade.

Quando Roberto me solta, saio correndo, lágrimas escorrendo pelo rosto. Não consigo evitar. Estou cansada de ser explorada.

Com a visão turva, bato meu rosto no peito de um homem. Duro como uma rocha. Quase caio, mas ele segura minha cintura, impedindo a queda. Quando olho para cima, vejo o homem de antes. O intimidador. Parado diante de mim, com aquele olhar assassino.

— Eu... desculpe — peço, baixando o olhar e jogando uma mecha de cabelo atrás da orelha, tentando enxugar as lágrimas.

Silêncio. Depois ele fala:

— Está tudo bem? — Sua voz rouca e profunda me arrepia.

— Não.

— Sim, estou bem. Desculpe — digo, desviando o olhar.

Ele me encara.

— Não precisa se desculpar, anjo — disse, com uma doçura firme, masculina e implacável.

"Anjo? De onde surgiu isso?"

Sinto minhas bochechas queimarem. Não consigo deixar de corar a cada gesto gentil.

Ele enfiou a mão no bolso do paletó e tirou um lenço preto, estendendo-o para mim. Fico ali, imóvel, olhando. Finalmente, pego o lenço, sorrindo levemente.

— Obrigada — minha voz tremia. Ele apenas acena com a cabeça.

Aproxima-se um pouco, e o cheiro da colônia me sufoca.

— Vejo você em breve. —

Engulo em seco. Minha timidez vence, e fujo, deixando-o ali.

O que foi isso?

O resto do dia passa lentamente. Já é manhã. Significa que meu turno terminou.

Cama, estou chegando!

Hoje é quarta-feira. É minha vez de fechar o restaurante. A noite foi assustadora, mas aparentemente sobrevivi.

Voltando para casa, sinto uma presença atrás de mim. Viro-me. Ninguém.

Acelero o passo. Essas ruas podem ser perigosas, especialmente para alguém ingênua como eu. Não consigo me defender.

Começo a correr. Meu nervosismo cresce.

Quando me viro, braços envolvem minha cintura e um pano branco cobre boca e nariz. Arfo, chutando e me debatendo, tentando escapar. Fico tonta, quase desistindo.

De repente, tudo fica completamente negro. A escuridão me envolve.

...

Ponto de vista de Caio

Fui ensinado a matar. A não ter piedade.

Ser líder da máfia exige implacabilidade. Não confie em ninguém, Caio — meu pai repetia, formando o homem que sou.

Fui ensinado a tratar mulheres como prostitutas. Nunca tive um encontro real, nenhuma intimidade emocional. Sexo sempre foi apenas para meu prazer. Egoísmo puro. Para que dar prazer? Elas só querem dinheiro.

Fui ensinado a torturar. Isso me dava satisfação. Ver medo nos olhos das vítimas, ouvi-las implorar. Estar no controle absoluto.

Eles sabem a quem pertencem. Sabem quem manda. Sabem que não podem me contrariar.

Ser implacável garante respeito, poder, domínio — o que mais um homem poderia querer?

Ter dinheiro significa ter mulheres. Piscando, prontas a fazer qualquer coisa por atenção, tempo e presença. Todas mulheres são prostitutas. Sempre acreditei nisso.

Até vê-la.

Isadora Almeida.

Vi-a pela primeira vez há dois anos. Um dia ensolarado de primavera, no jardim de sua casa, regando flores. Eu passava de carro.

Ela me deixou sem fôlego. Pele lisa, cremosa como porcelana, brilhava sob o sol.

Vestia um vestido branco de verão, realçando sua pele e combinando perfeitamente com ela. Sua beleza me inspirou a pedir que o motorista parasse. Queria admirá-la mais de perto.

Mesmo à distância, cada detalhe me prendia: rosto redondo e inocente, olhos azuis impressionantes, lábios vermelhos mordendo suavemente. Cercada de flores, mas ela era a flor mais desabrochada.

O que mais me chamou atenção foi seu cabelo castanho sedoso, até a nuca. Desafio qualquer um a vê-la e não se apaixonar.

Queria possuí-la. Talvez fazer o que quisesse e depois deixá-la ir. Mas havia algo mais. Algo que me intrigava. Precisava descobrir.

Voltei para casa, pedindo a Mateus, meu homem de confiança, que investigasse seu histórico.

Descobri que vivia com família adotiva. Sua mãe morreu quando ela era jovem; seu pai ainda vivo, mas ausente. Talvez ela nem saiba quem é.

Minha decisão estava tomada: eu a teria. Mas com paciência. Um ano depois, mudou-se para um apartamento em São Paulo. Começou a trabalhar como garçonete. Foi então que comecei a observá-la de perto.

Analisei cada movimento, cada gesto: como preparava comida para os sem-teto aos domingos, como ajudava senhoras idosas. Ela é um anjo na Terra. E isso alimentou minha obsessão. Eu estava atraído por sua alma, por seu espírito bondoso.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.