Capítulo 4
— Eu ainda vou fazer uma limpeza de pele em você. — ela sabia que eu corria pra bem longe desses procedimentos cosméticos, e sabia também, que ela usava esse truque, para desviar quando estávamos falando algo que ela não queria continuar falando. — Um dia você vai namorar uma garota que mereça seu coração... Você vale ouro. Meu coração de ouro.
— Um dia você vai achar o cara certo. — bem que poderia ser eu, pensei — Que vai lhe dar o devido valor, e serão muito felizes juntos. Não vou perder a esperança de ver um sorriso de felicidade no seu rosto.
— Mas, você não vai fugir da limpeza de pele. — falou rindo e beijando minha bochecha.
Quando eu ia lhe dar a resposta, a enfermeira chegou e ela foi embora, para voltar a ser a mais popular da escola. A pior parte era que o baile estava bem próximo e eu, como sempre, não tinha com quem ir, e quem eu queria que fosse comigo, provavelmente já estaria acompanhada por algum babaca sem miolos na cabeça. Na realidade, ela já estava acompanhada, era eu que não queria aceitar. Último ano e já tinha várias propostas de universidades. Queria cursar química ou física e ser sócio em alguma empresa na qual eu pudesse crescer e ser bem mais que um mero estudante e me tornar um grande empresário.
Eu ia me livrar finalmente daquela escola e nunca mais iria ver as pessoas que mais pisaram em mim. Eu teria uma vida tranquila e sem essas sombras do meu passado ao meu lado, para acabar com os meus dias. Provavelmente, ganhando milhões...
Capítulo 2
Já tinha o roteiro preparado para cada fase das crises dela, mas eu ainda não tinha um roteiro ou fórmula para consolar Elle nas horas de dor de cotovelo. Nunca entendia o motivo de ela gostar de caras errados, ou de caras propensos a um nível de bandidagem previsível.
Elle tinha me convidado para jantar na casa dela, mas eu sabia que quando ela me chamava era porque queria sair depois, porém, não era comigo. Ela usava essa desculpa para que os pais dela não desconfiassem de nada. Os pais dela sempre confiaram em mim, até diziam que tinha mais juízo que Elle, o que era realmente verdade. Outro dia, ela tinha me falado que queria ser estrela de cinema, e ir morar em Hollywood... De quebra, ela queria casar com um galã bem famoso e viver a sua vida de estrela. Além de ser linda, ela também era muito talentosa e eu sempre acreditei nela. Ela iria ser uma ótima atriz, e disso eu tinha certeza. Ela sempre utilizava as habilidades cênicas quando precisava de alguma coisa, até comigo ela fazia isso, mas eu não ligava.
O cheiro da comida da senhora Austin praticamente invadiu toda a casa. Eu não era de me negar um jantar na casa da Elle, exatamente pelo fato de amar todos, e também pelo fato da minha sogra platônica ser um amor de pessoa. A mãe de Elle – Christine - era linda, e eu achava que Elle se parecia muito com a mãe.
A casa dos Austin era uma típica casa americana, mas do jeito simples. O senhor Austin tinha um gosto peculiar de colecionar estátuas de corujas, e eu não entendia direito o que ele queria com tantas corujas espalhadas pela casa, mas eu gostava do seu jeito alegre e animado. Um homem de valores incorruptíveis.
— Então — começou ele —, para onde vocês irão está noite? — perguntou como quem não queria nada. Ele sempre confiava em mim por ser um rapaz estudioso e bem organizado, além de nunca ter me metido em nada errado.
— Ao cinema — não deixava de ser uma verdade e ao mesmo tempo uma mentira, entretanto me prontifiquei em omitir a meia mentira, e falar a meia verdade — Soubemos que vai passar um desses filmes melosos que a Elle gosta, e além do mais, tem o tal ator famoso, que ela acha que vai casar com ele um dia. — respondi sorrindo.
— Elle e essas fantasias. — falou ele gargalhando — Tenho até medo de perguntar o nome do filme...
— E eu tenho até medo de responder. — respondi rindo, disfarçando o fato de não saber o nome do filme, já que não assistiria com ela.
— Queria que a Elle namorasse alguém assim, como você. Aliás, queria muito que minha filha parasse de namorar esses garotos de porta de cadeia. — disse me olhando de maneira sincera.
— Senhor Austin... — suspirei.
— Daniel — me olhou firme. —, você não me engana. Eu sei que você gosta da minha filha desde o jardim de infância. — ouvi-lo falar com tanta propriedade, me deixava sem chão.
Eu queria cavar um buraco e afundar minha cabeça nele, como os avestruzes fazem quando estão com medo. Eu tinha medo. Medo de perder a amizade dela e da família dela, se caso algo desse errado.
— Peço que o senhor não fale nada pra ela — falei angustiado —, não quero perder a amizade da sua filha, e nem a de vocês.
— Tudo bem. — balançou a cabeça decepcionado — Mas, nada me faria mais feliz, do que ter você como futuro genro.
— O que os homens estão conversando? — perguntou senhora Austin alegremente — Bom, não importa. O jantar já está pronto. Vamos?
— Claro que sim. — respondi me levantando e seguindo-a. Passando pela sala em direção a sala de jantar, prendi minha respiração. Elle descia a escada em lindo vestido branco, solto na cintura que ficava acima do joelho. Alças grosas e um decote discreto, ela usava o cabelo solto formando nuvens de cachos loiros. Sua boca estava pintada com batom vermelho, e seus olhos bem delineados com lápis preto e rímel, destacando seus olhos azuis. Ela usava saltos altos pretos, que a deixava mais alta, já que ela era pequena.
