Capítulo 5
Meu pai... bem, meu pai era o homem mais incrível e sensato que a humanidade deveria ter conhecido, achava que em cada centímetro de terra deveria ter um homem como ele no mundo. Aí meu perguntei... então, por que fui para o caminho da criminalidade? Nem eu sabia responder.
Pensei no homem de cinquenta e nove anos, branco, dono do par de olhos castanho-claros mais serenos que se poderia imaginar, cabelo liso e grisalho que já rareava e ele insistia em pintar de preto. Era de estatura baixa, uma barriga saliente, usava macacão de jardinagem – achava que tinha uma coleção daqueles macacões.
Resumindo, e definindo, aquele era meu pai, um ser de carne e osso, um homem amoroso, gentil, honesto e engraçado.
O seu caráter daria inveja ao ganhador do Prêmio Nobel da Paz.
Meus pais eram a combinação perfeita de um casal harmonioso, mesmo na hora das discussões. Nunca os ouvi brigar de verdade, ambos não levantavam o tom de voz, a não ser para chamarem um ao outro, e estavam sempre grudados.
Um dia, eu queria ter um relacionamento como o deles. Uma união capaz de passar por cima de tudo, só para se manterem juntos pela eternidade.
***
De longe, avistei o enorme portão de ferro bem trabalhado, e percebi que algumas coisas tinham mudado naquele local. Muros mais altos, câmeras de segurança na entrada, um jardim no centro, as árvores estavam mais frondosas, mas a casa era do mesmo jeito que me lembrava - foram apenas duas visitas, mas ainda me lembrava da casa.
Duas torres paralelas com dois andares, no centro, a maior parte da mansão, com janelas vitorianas e vidros verdes. Portas grandes de madeira, paredes brancas e impecáveis com detalhes de linhas circulares pequenas nas bordas, formando uma corrente muito bonita. O cheiro das flores era o mesmo, mas a beleza do local havia sido aprimorada pelo meu pai, que agora não podia mais cuidar do jardim, por isso ele convenceu o senhor Joseph Drummond para que me contratasse. Nunca fui tão bom jardineiro quanto meu pai, mas faria de tudo para deixá-lo orgulhoso.
Meu pai aguardava na entrada, e assim que o vi, comecei a chorar, então desci do carro logo que minha mãe parou. Corri para os braços do homem que me deu o exemplo do que é ser bom e honesto, mesmo não me tornando no que ele queria.
Abracei forte meu pai. Minha mãe estava de braços cruzados ao nosso lado chorando, mas não a deixei fora do abraço. Eu a puxei e com o meu um metro e oitenta, apertei os dois seres mais importantes da minha vida, e tudo se tornou completo.
— Oi, pai — falei, enquanto abraçava meus pais.
— Oi, meu moleque — respondeu com a voz embargada.
— Perdão — pedi assim como fiz com minha mãe. — Me perdoa por tudo que te fiz passar.
— Passado é passado — falou, se afastando e passando a mão no meu rosto e no rosto da minha mãe. — Você já pagou pelos seus erros. Agora é só seguir em frente.
— Amo vocês dois — declarei. — Não teve um dia sequer que deixasse de pensar em vocês.
— Nós também pensamos muito em você — falou minha mãe com ternura.
— Vamos — disse meu pai, pegando minha mochila suja de barro e colocando no ombro. — Quero lhe mostrar onde você vai morar.
— Eu não vou ficar onde vocês estão morando? — fiquei confuso.
— Ah, querido, o senhor Drummond fez questão de que você tivesse seu próprio canto e isso será bom para você — disse minha mãe, passando a sua mão em meu rosto enquanto caminhávamos em direção ao local. Não sabia o tamanho da residência, mas era muito grande. A casa onde eu ficaria era quase ao lado da dos meus pais. Perfeita. Quando entramos, ainda tinha o cheiro de tinta, era muito arrumada e organizada, com móveis simples, mas a TV de tela plana de cinquenta polegadas era, com toda certeza, meu objeto favorito.
— Gostou? — perguntou meu pai.
— Se eu gostei? — minha voz saiu surpresa por estar sendo bem tratado, mesmo sem merecer. — Muito — respondi, contente. — É mais do que eu podia imaginar.
— Espero que fique confortável — minha mãe me olhou com carinho. — Temos que ir. Amanhã pela manhã o senhor Drummond quer falar com você sobre o seu salário, já que agora seu pai não vai poder mais trabalhar e vamos ser só nós dois.
— Agora eu vou ser um inútil e explorador — meu pai franziu o cenho, fingindo estar orgulhoso da sua situação. — Trabalhem.
— Não me venha com essa, Jo. Você não é um inútil, só está velho — brincou minha mãe, e meu pai fez uma careta, e logo beijou o topo de sua cabeça. Todos nós rimos.
— Bom, o velho aqui precisa encher o estômago — passou a mão na barriga. — Vamos, minha velha — meu pai chamou minha mãe, segurando a sua mão. — Sam, qualquer coisa é só chamar.
— Obrigado, pai — dei um beijo no topo da cabeça de cada um e nos despedimos.
A casa era pequena, mas aconchegante. Nem lembrava a cela fria e fétida que fiquei. Finalmente teria privacidade, me lembrei, olhando o banheiro que tinha uma banheira enorme em comparação com o cubículo da cadeia e os chuveiros coletivos, onde a cada sabonete caído... um perigo para seu traseiro estava estabelecido. Ainda bem que nenhum sabonete escorregou da minha mão ou meu traseiro entraria para o cardápio prisional.
O meu sorriso aumentou quando vi a cama. Enorme, confortável, com lençóis brancos, macios e limpos – principalmente limpos.
Quando dei por mim, havia tirado os sapatos e pulava na cama, não era mais Sam, o ex- presidiário, era uma criança perdida em cima daquela cama enorme. Pulando, mergulhando e bagunçando a cama, revirando os lençóis.
