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Por você, eu faço tudo.

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Debby Scar
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Resumo

Samuel Otto - ou melhor, Sam como é conhecido-, tem a chance de mudar de vida, após sair da cadeia, por cumprir pena por ser cúmplice de um roubo. Um homem bonito que ainda tem a marca da prisão em sua pele e vivendo de pesadelos, tem a possibilidade de recomeçar do zero. Hoje um homem sério que se arrepende profundamente por ter cometido o maior erro de sua vida: ter dado desgosto aos seus pais, que tanto o amaram protegeram e sempre o alertaram que suas amizades erradas, um dia iriam atrapalhar sua vida. Quando conhece Alexya, herdeira e filha única da família Drummond, onde seus pais trabalhavam e lhe arranjam um emprego de jardineiro, tudo em sua vida muda, afinal ele sabia com todo seu ser que aquela era a mulher de sua vida. Mesmo com um inicio de brigas e conflitos, Sam tenta com todas as suas forças viver esse amor sem que a sombra de seu passado tempestuoso, esteja sempre vindo à tona.

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Portugal – Porto Alguns anos atrás.

Não aguentava mais. Minha cabeça fervilhava com a proposta de alguns amigos. Minha mãe se matava de trabalhar e meu pai, meu pai havia começado a trabalhar como jardineiro em uma casa de ricaços. Minhas provas para terminar o oitavo semestre em arquitetura já estavam próximas e eu tinha que estudar – apesar das dificuldades e do dinheiro contado, queria ter um diploma para poder dar orgulho aos meus pais, mas a visão da mãe se matando para ajudar meu pai me cortava o coração. Ela era uma mulher forte, que sempre fazia de tudo para me ver feliz, entretanto, eu queria vê-la feliz também.

O seu cabelo branco já estava em evidência e as marcas de expressão em seu rosto, não me surpreendiam mais do que suas mãos calejadas do trabalho árduo como empregada. Queria poder dar uma vida digna aos meus pais, eu sempre os vi como heróis da minha vida. A tentação de assaltar um dos supermercados mais frequentados da região pairava sobre a minha cabeça e entrava em mim como uma doença.

Uma doença suja. Um vírus quimera.

Estava tentando arrumar um emprego, mas nunca aparecia nada. Eu fazia de tudo para ajudar meus pais, porém, do jeito que as coisas estavam indo, não estava dando.

Meu pai sempre me disse para ser honesto e bom, – assim como todos da família Otto – porém a tentação do dinheiro fácil para ajudá-los não saía do meu pensamento. Quando eu era criança, meu pai me deu um carrinho de brinquedo, entretanto, nada moderno. Era de madeira com as rodas fixadas com pregos e pintado com tinta vermelha. Lembro que todos zombavam da minha cara por ter um brinquedo tão pobre. Acabei o deixando de lado, o que deixou meu pai magoado, e hoje sei que ele trabalhou uma semana para juntar dinheiro, e assim, comprar o carrinho.

“Um dia você vai entender o que fez” disse quando pegou o brinquedo que eu havia abandonado por vergonha e guardou dentro da minha mochila.

E a partir daquele dia, eu tentei ser um homem melhor, mesmo que falhasse depois.

***

— Vamos... — disse Antônio, sacolejando as mãos como um gângster.

— Não sei se é uma boa ideia — eu sentia o medo se formando dentro de mim. A ideia de ser preso me apavorava.

— Você precisa de grana ou não? — perguntou, franzindo o cenho. Antônio era o cara das sombras, dos becos escuros e das vielas. Quando se precisava de dinheiro, ele estava lá, e como em um passe de mágica, o dinheiro vinha para suas mãos, mas isso tinha um grande custo. Se eu aceitasse, sacrificaria meu tempo, minha vida e quem sabe, minha liberdade.

— Preciso, mas essa não é a melhor forma... — hesitei, entretanto, meus pais mereciam uma vida melhor. Eu não conseguia um emprego, não estava conseguindo dar essa vida melhor.

Aos vinte e três anos, eu estava prestes a cometer o maior erro da minha vida, e o pior, sabia disso.

— Você é um otário — resmungou irônico, sua voz soou irritante e desafiadora. — Sabe quando vai surgir outra oportunidade como essa? Nunca mais. O cara que arrumou a parada vai entregar umas armas sem munição. São apenas para amedrontar. Vai ser moleza — disse, revirando os olhos.

— Antônio, eu tenho que estudar — murmurei suspirando. — Tenho prova final e preciso passar, falta apenas um ano e meio para que eu conclua a faculdade.

— Sam, nos conhecemos há muito tempo — apoiou a mão em meu ombro, apertando com força. — Quero você nessa, parceiro. É muita grana envolvida, além do mais, você vai usar máscara — a intenção era diminuir as minhas preocupações, mas não estava conseguindo. — Você pode ir com essa que está usando, acho que todos vão ficar com medo dessa sua cara feia — esboçou um sorriso, tentando me fazer achar graça naquela situação. — Pense direito, você vai ficar com uma boa parte do dinheiro e vai poder ajudar seus pais — ele acertou bem no calcanhar de Aquiles. — E sabe como é, né... grana no bolso, vida mansa, parceiro.

— Não sei... — abaixei a cabeça, pensando melhor sobre “grana no bolso, vida mansa”.

— Deixa de pensar e vamos entrar nessa. Eu até respeito esse seu “tenho que estudar”, mas se liga... — franziu as sobrancelhas. — Dinheiro é dinheiro. Vamos faturar muito com esse roubo — gesticulou com as mãos no ar e, logo, segurou meu ombro novamente.

Sabe como dizem por aí: para levá-lo para o bom caminho, poucos fazem, mas para o inferno, até o próprio diabo aparece sorridente e o carrega no colo.

— Está bem — me dei por vencido, mas sabia que no fundo, eu já havia cedido. — Mas você tem que me prometer que as armas estarão sem munição. Não quero machucar ninguém.

— Concordo. Também não quero que ninguém saia machucado — ele avaliou bem a questão enquanto olhava para mim pensativo, querendo parecer intelectual.

Sabia que era errado, mas estava na hora de fazer algo pela minha família.

— Agora tenho que ir, meu pai precisa de ajuda para levar umas plantas lá para o novo trabalho dele. Até mais.

— Vai na fé, parceiro — falou, apertando minha mão.

Antônio e eu éramos amigos desde o primário, mas do grupo que fazíamos parte, eu fui o único a conseguir uma bolsa de estudo. Porém, meu amigo não ligava para estudos, sempre disse que faculdade era coisa de gente rica, e por isso tinha que ajudar os ricos, roubando deles. Ele sempre esteve ao meu lado em situações complicadas, mas agora era diferente. Era um roubo. Algo que eu nunca havia participado e sequer havia pensando na hipótese, até aquele momento. Até ver como era fácil.