Capítulo 4
Quando a polícia chegou, finalmente, ele não ficou lá para contar o que ocorreu. Simplesmente foi embora, como se nada tivesse acontecido. Eu contei quase toda a verdade, omitindo apenas a parte onde ele tinha deixado um homem de mais de oitenta quilos desmaiado no chão. Não dava para saber como era o rosto do homem que me assaltou, já que, no momento em que os policias o levaram, ele estava completamente roxo e inchado, com o supercílio sangrando devido ao enorme corte que tinha. Falei que não fazia a mínima ideia de quem tinha me defendido, pois tudo fora rápido demais e não deu tempo de registrar nada.
Para todos os efeitos, eu não sabia o nome do meu herói, apenas que ele tinha me livrado do perigo. E ocultei também a parte onde o salvador do dia era meu novo vizinho.
Fui para a delegacia prestar depoimento e horas depois cheguei em casa, esgotada.
As quase quatro semanas seguintes foram um completo inferno. Ele tinha uma motocicleta Harley Davidson preta com detalhes cromados no guidão e correntes adornando as laterais da moto, e fazia questão de lavá-la nos horários em que eu estava perto de chegar em casa. Se não era a moto, eram os exercícios físicos, sem camisa, que deixavam à mostra a sua tatuagem no estilo tribal, perto do caminho para a felicidade; sem falar nas dos ombros, que eram enormes asas de anjo.
A pior parte era que eu estava começando a sonhar com ele, e com muita frequência. Por várias noites acordava suada, com a respiração acelerada. Tudo porque eu tinha sonhado com ele me beijando, tomando o meu corpo com aqueles braços fortes. No meu sonho ele metia em mim com tanta força que eu chacoalhava na cama, seguindo o seu ritmo. Eu podia sentir tudo que estava acontecendo naquele sonho, e tive alguns orgasmos depois usando a minha mão para acalmar a sede que começava a brotar de forma inexplicável dentro de mim.
— Minha querida... — murmurou Gregg, olhando através da janela, sem se preocupar se ele o veria ou não. — Se ele fosse gay, eu já pediria o número dele.
— E como você sabe que ele não é gay? — perguntei com ironia e ele olhou para mim com descrença.
— Ele é tão gay quanto eu gosto de mulher. — Gregg deu mais uma olhadela pela janela e suspirou, voltando a sentar no sofá.
Havia sido um dia difícil para mim, e não tinha outra pessoa com quem eu pudesse conversar sobre os meus problemas. Gregg era o único que estava ali comigo, sempre ao meu lado.
— Sonhei com ele. — confessei, sentando ao seu lado no sofá e lhe entregando uma xícara de café. — Desde o dia em que ele chegou não durmo direito...
— Eu também não dormiria direito com um gato desses, seminu, todos os dias bem na frente da minha casa. — ele disse revirando os olhos e respirando fundo.
— Eu nunca mais tinha sonhado, Gregg. — suspirei, fechando os olhos e tentando esquecer ele, não Blaine, o outro. — Não, desde que ele se foi.
— Lili, não sei você, — começou — mas acho que ficar pensando nele não vai ajudar muito. Já se passaram dois anos e nada de ele ligar, mandar uma mensagem de texto ou até mesmo enviar uma carta.
— Não que eu tenha esperanças...
— A quem você quer enganar? — Gregg arqueou a sua sobrancelha grossa e bem desenhada para mim, questionando tudo que estava me acontecendo. — Porque a mim, você não engana. Por que você não tenta falar com o senhor gostosão aí da frente?
— E o quê? Ser pisada novamente? — fechei a cara para Gregg. Ele só podia estar de brincadeira comigo. — Não obrigada. Já fui pisada o suficiente por ele... para querer outro que seja igual, ou até pior.
— Besteira. — suspirou Gregg. — Nem todos os homens são iguais, minha flor...
— Como não? — olhei para ele, cética.
— Veja o meu exemplo. — deu de ombros. — Eu sou gay... — não segurei o riso e gargalhei alto. Era óbvio que Gregg não era como os outros homens. Se ele gostasse de mulher, eu mesma já o teria assediado. — Então... O que você vai fazer sábado à noite?
— Não sei...
— Como assim não sabe? — me questionou.
— Acho que vou ficar em casa curtindo um pouco de The Walking Dead e dormir depois...
— Não... Você não vai assistir isso — falou Gregg fazendo cara de nojo. — Tem que ser muito doente para conseguir dormir depois de assistir àquilo...
— Você que não entende o que é arte, meu querido. — brinquei. — Não fale mal do meu seriado favorito que eu não falo dos filmes que você gosta.
— Bom, eu tenho que ir.
— Mas já? — gemi fazendo cara de choro para ele. Era tão bom quando Gregg vinha na minha casa, que eu me sentia órfã assim que ele saía.
— Tenho, minha flor. Hoje Mike quer conversar comigo...
— Será? — perguntei esperançosa.
— Espero que seja. — vi em seus olhos o desejo de seu maior sonho se tornar realidade.
— Vou ficar na torcida. — me levantei para ir até a porta acompanhar Gregg, deixando nossas xícaras de lado.
— Não sei você, mas eu iria até lá e puxaria conversa com ele.
— Sem chance de eu ir falar com aquele brutamonte, gostoso, sarado e com cara de mau.
— Garota, você precisa é de sexo, pois já está até cheirando a mofo.
— Já disse que não vou...
— Foca no gato. — disse assim que abri a porta. Ele ainda estava lá, perfeitamente incrível. — Vá até lá, e agradeça novamente por ter salvo a sua vida. Chegue na humildade que você consegue tirar as teias de aranha.
— Ei. — sussurrei olhando feio para meu amigo. — Eu não preciso tirar as teias de aranha...
— E eu sou hetero, minha flor. — debochou. — Beijos. Ligo para saber como foi com o senhor gostosão. Foca no gato.
