Capítulo 3
Não tive muito tempo para pensar no que fazer. Em questão de segundos, eu estava sendo assaltada, o ladrão queria a minha bolsa. Minha reação inicial foi pensar em correr o mais rápido que podia, porém, seria muito arriscado. Eu até tinha spray de pimenta na bolsa, só não tive a oportunidade de pegar. Quando você é assaltada, o coração acelera, suas mãos ficam trêmulas e a única coisa que você pensa é que se reagir ou tentar algo, a qualquer momento a sua cara vai ser estourada por uma bala. Segundos se passam em sua cabeça até que se tenha uma reação.
Eu fiquei assistindo, paralisada, quando o homem da cafeteria apareceu do nada, socando o ladrão, se esquivando e desarmando o assaltante com um golpe eficiente. Não demorou muito para que o cara do café enchesse a cara do assaltante com uma sequência de socos poderosos.
— Liliiiii! — eu escutava de longe a voz do meu amigo. O celular ainda estava grudado na minha orelha, no entanto, eu não ouvia Gregg gritando, apenas o som baixo de sua voz.
Pouco tempo depois, o rosto do assaltante já estava ensanguentado. Eu tinha que fazê-lo parar, e, por mais que eu quisesse que o bandido levasse a pior, eu não queria ser responsável por não impedir que o cara fosse morto. Saí do meu transe e tentei segurar os braços do grandão, porém, eu era bem menor e não tinha forças para impedir que ele continuasse batendo. Batendo muito forte.
— Pare! Pare! — eu gritava como uma louca. — Assim você vai matá-lo!
Eu podia ver o quão furioso ele ficava a cada soco. Eu estava grata por ele ter me salvado, só não queria que aquela selvageria toda terminasse em desgraça. A forma como ele não conseguia se controlar já estava me assustando de verdade. Ainda descontrolada, com o celular na mão, desliguei a chamada de Gregg e liguei para a polícia. Eu estava tão nervosa que mal conseguia ficar em pé. Por fim, o grandão se cansou de socar o assaltante e veio na minha direção, transtornado. Suas mãos estavam manchadas com o sangue daquele homem, e a sua respiração irregular me deixou ainda mais assustada.
— Você está bem? — realmente tinha um lado do meu cérebro havia ficado adormecido, de verdade. O homem parado de frente para mim e me olhando com o semblante aflito me livrara de um assalto, e não era em nada igual ao homem com que tentei conversar na cafeteria. Aos poucos, o rosto dele foi ficando com uma expressão mais preocupada, eu só não conseguia entender o motivo.
— Sim. — foi o que eu consegui responder. Eu ainda estava tentando entender tudo o que acabara de acontecer.
— Está machucada?
— Olha, eu estou bem. Obrigada por me salvar. — não queria mais ficar perto dele. Não que eu não o achasse um herói naquele momento, no entanto, o problema era que ele tinha me assustado muito mais do que o assaltante.
— Tudo bem, então. — ele disse, de repente ficando mais sério. Sua postura já era outra, completamente diferente da anterior. Ele tinha passado de príncipe salvador para um bruto, comigo. Da mesma forma que havia sido ignorante quando o atendi no café. — Vê se não se mete mais em confusão. — eu tinha me metido em confusão? Ser quase assaltada era se meter em confusão? Que merda ele estava pensando?
— Que eu saiba, não pedi a sua ajuda. — se ele queria uma Lili furiosa, ele teria uma Lili furiosa. — E sabe de uma coisa, já chamei a polícia!
— Se eu não estivesse aqui, — disse ele com ironia — você não teria como ligar para a polícia, meu anjo. — meu anjo?
— Certo. — falei irritada. — Você já salvou o dia, Clark Kent, agora pode ir embora... — o que me fez pensar que, se ele estava perto, poderia ser que ele estivesse me perseguindo — Espere um pouco... — comecei a falar devagar. — O que você estava fazendo? Me seguindo, seu maluco?
— Você adoraria que eu estivesse. — falou esboçando um sorriso de deboche no canto da boca. — Mas, para sua tristeza, estou morando do outro lado da rua.
Certo, eu bem que queria ter ele me seguindo, mas de outra maneira.
— Você ainda está me olhando como se eu fosse um pedaço de carne. — que inferno! Eu mal conseguia olhá-lo sem imaginar ele me comendo. Tinha algo muito errado comigo. Muito mesmo.
— Eu não estou olhando dessa forma. — ainda bem que eu fui interrompida pelo barulho da sirene do carro da polícia, ou teria ficado o resto do dia discutindo com ele.
