Capítulo 5
Fiquei em pé, olhando Gregg partir, e analisando se ia ou não falar com o meu vizinho. Seria muita loucura, depois de tudo, eu ainda ir lá oferecendo a bandeira da paz. Será que eu era o tipo de mulher que gostava de ser pisada? Ele tinha feito isso comigo, antes do senhor gostosão aparecer. Mas ainda assim, eu queria ir até lá e falar com ele. Seria a última tentativa de me aproximar. Depois, eu não iria mais perturbar a vida dele.
Respirei fundo, dei uma olhada no meu reflexo no vidro da janelinha da porta, e estufei os peitos, como sinal de que aquilo fosse me dar mais segurança. Ele estava de costas, quando atravessei a rua até chegar em frente à sua casa.
— Oi, vizinho. — certo, eu estava sendo apenas simpática. Nada mais. Apenas falando normalmente com ele. — Bom, eu queria me desculpar pelo outro dia... E sei lá, quem sabe possamos nos tornar amigos. — simpática. Seja simpática, Lili. Foco no gato. O problema era que ele não estava me dando bola. Se ele estava me irritando com o seu comportamento? Sim, ele estava. Mas, aquela era a minha última tentativa. — Moto legal... — comecei a falar parecendo uma matraca. E mesmo eu falando pelos cotovelos, ele mantinha sua concentração em passar um líquido preto nos pneus. — Que marca é? — de repente, ele se levantou, se virou e ficou parado bem na minha frente. Se eu não tivesse puxado um pouco de ar para controlar meu equilíbrio, teria ficado com as pernas moles.
— O que você realmente quer? — perguntou me olhando duro. Tudo nele era duro. Até a sua voz rouca tinha um toque de aspereza no timbre, o que me deixou ainda mais desconcertada.
— É-é-é... — maldita hora para gaguejar. — Vim em missão de paz. Bom, não começamos bem e queria agradecer por ter me salvo no outro dia.
— De nada. — mantenha a simpatia, Lili. Eu tinha que ficar repetindo aquilo na minha cabeça, mas ainda não entendera o porquê de querer que ele falasse comigo. Talvez fosse pelos inúmeros sonhos que tive com ele, ou talvez pelo fato de querer ter algo com ele. Nem eu sabia ao certo o que queria, só sabia que ele tinha algo diferente. — Agora me diga, o que você quer?
— Que nos tornemos amigos... — minha voz saiu um pouco fraca.
— Amigos... — o meu cérebro fritou quando ele sorriu. Eu sabia que era um sorriso de deboche, no entanto, era um sorriso lindo. O rosto dele ficava ainda mais iluminado quando sorria, não que eu tivesse tido muitas oportunidades de vê-lo sorrindo, porque eu não tive. — Só por isso que você saiu da sua casa e veio até aqui?
— Sim, e agradecer por ter me salvo no outro dia. — falei mais firme.
— A parte de ter salvo eu já entendi. Já faz semanas isso, e agora que você veio falar comigo? — arqueou uma das sobrancelhas. — Existe algo a mais aí...
— Desisto. — resmunguei, revirando os olhos. — Não tem algo a mais. Eu apenas quero ser simpática. Eu agradeci, ofereci a bandeira branca e pronto. Se você não quer, problema seu. — quando me virei para ir embora, ele segurou meu braço. Se escutou o gemido que saiu da minha garganta eu não sei, mas seria a vergonha da minha vida gemer por apenas sentir o toque da mão dele no meu braço.
— Não sou muito fã de ser amigo de uma mulher, já que sempre acabo trepando com ela... — falou com sarcasmo. — Porém, posso tentar não comer você.
— Nem em seus sonhos eu treparia com você. O seu ego só não é maior porque não tem como aumentar mais. — eu deveria ter ficado de bico calado, ou ter dado uma de burra e achado graça no que ele dissera, porque eu sabia que não iria me recuperar do que vinha a seguir.
— Só não mostro o tamanho do meu ego agora porque tenho que te mostrar que consigo ficar comportado no meu canto. — certo, ele estava próximo demais e dava para sentir o calor do corpo dele. E eu não estava preparada para isso. Tremi, e não foi de frio. — Acho que vai ser divertido ter uma... amiga. — sorriu daquele jeito debochado, que me fez respirar fundo.
— Tenho que ir. — como eu ia rebater algo, se não tinha nem forças para isso? Era óbvio que eu queria ver o tamanho do ego dele. E era óbvio, também, que seria uma tortura ser amiga dele, enquanto eu sonhava com ele me colocando em todas as posições possíveis. — Acho que deixei algo no fogo...
— Foi um prazer, vizinha...
— C-c-certo. — que merda, eu ia ficar gaguejando todas as vezes que fosse falar com ele? Quando ele se afastou, não tive tempo de apreciar mais um pouco da bela montanha de músculos que estava próxima demais do meu corpo. Queria sair dali o mais rápido possível.
— Vizinha... — eu fiquei arrepiada quando ele me chamou. — Blaine.
— C-c-certo. — de novo. Que merda. — Lilith ou Lili... — topei no degrau da entrada da minha casa, e jurei a mim mesma que jamais passaria uma vergonha como aquela. Corri para dentro da minha casa, para tentar me manter em segurança e me manter longe dos desastres como o que tinha acabado de acontecer. Ainda pude ver o canto de sua boca formar um sorriso quando fechei a porta.
Depois daquilo, não tive uma boa noite de sono. Não quando Blaine tinha ido me visitar e me esquentado com o calor do seu corpo.
