Capítulo 2
O moreno alto seguiu caminhando até o balcão e sentou em uma das cadeiras. Eu sabia que tinha que me mexer para ir atendê-lo, mas minhas pernas petrificaram. Eu só precisava lembrar ao meu cérebro que o meu corpo ainda tinha coordenação motora e que sabia andar. E o mais rápido possível.
Não eram todos os dias que aparecia um cara tão perfeito em Harlingen. Óbvio que tinha homens bonitos na cidade, com quem valeria muito a pena sair algumas vezes. No entanto, aquele... Aquele era diferente de tudo que eu já havia visto na minha vida. E não estava falando dos ombros largos e bíceps claramente bem definidos. Existia algo diferente, eu só não sabia o que era.
Aos poucos, meu cérebro foi se lembrando de que eu precisava andar e ir até lá atendê-lo. Dei duas alisadas básicas na saia do meu vestido e no avental, dando uma caprichada no cabelo, quando passei pelo espelho, e respirei fundo. Com sorte, eu conseguiria o telefone dele, transaríamos como dois loucos e depois cada um seguiria o seu caminho.
— Bom dia. — desejei toda sorridente quando assumi o meu lado no balcão para atendê-lo. — Seja bem-vindo. O que vai querer?
— Café. — se existia algo mais sexy que uma voz grossa em uma boca perfeita como aquela, eu queria ser apresentada. E urgente! Certo que ele não tinha sido gentil e nem me cumprimentado de volta, mas aquela boca... Boca de quem sabia fazer um oral divino.... E me deixou completamente louca. — Você escutou?
— Ah... Sim. Claro. Café. — eu estava mais parecendo uma colegial que não sabia o que fazer perto de um homem bonito. — Com açúcar?
— Pode ser. — disse ele apenas. Seja lá o que fosse, ele tinha um mau humor do caralho.
— Notei que você nunca tinha vindo aqui. É novo na cidade? — perguntei enquanto adoçava seu café.
— Vai demorar? — qual era o problema dele? Normalmente, quando uma mulher bonita como eu dava em cima de um cara como ele, a química logo aparecia.
— Não. — sorri, tentando disfarçar. Eu tinha que tentar de novo, já que ele era uma espécie rara. — Já sei... — sorri novamente, dando uma boa olhada em seu rosto.
Aquele rosto parecia ter sido moldado com o que existia de melhor na Terra. Olhos amendoados, só que mais voltado para o castanho, boca perfeita, linha do maxilar de traços firmes e levemente quadrados, e aquela barba, que parecia não ser feita há dias, e mesmo assim estava divinamente desenhada. Cabelo um pouco comprido e sobrancelhas grossas, porém perfeitas.
— Negócios?
— Qual é o seu problema? — perguntou ele do nada. O meu coração gelou, porque ele falou um pouco mais alto do que deveria, fazendo os outros clientes olharem em nossa direção.
— P-p-erdão? — gaguejei pateticamente, olhando para ele, que tinha o semblante sério.
— Além de burra é surda? — droga! O meu plano não tinha saído como eu queria. — Eu estou tentando tomar o meu café em paz, e você fica flertando comigo?
— Ora... Ora... E-eu não estava flertando com você. — menti, ou tentei mentir. E não funcionou muito.
— Olha, eu sei muito bem quando uma mulher flerta comigo. — disse ele claramente irritado. Eu não entendia o motivo daquela irritação toda. — Apenas sirva a porra do café e saia da minha frente. — eu queria tanto um buraco para enfiar a minha cabeça, e só tirá-la de lá quando o apocalipse acontecesse...
De repente, eu não me sentia muito bem. Queria chorar, mas não daria o gosto para aquele brutamontes gostoso.
Eu tinha o meu orgulho, ou parte dele, preservado em alguma parte do meu cérebro.
— Me desculpe pelo incômodo senhor. Não foi minha intenção ser inconveniente. Aceite um pedaço da nossa torta como forma de desculpas. — respirei fundo antes de fechar a cara completamente para ele, e sair com a última gota de dignidade que ainda me restava.
— Tudo bem, querida? — perguntou Kate, quando passei apressada pelo corredor, indo em direção à porta dos fundos.
— Sim. — menti. — Acho que estou começando a ficar doente...
— Se quiser, pode tirar o resto da manhã para cuidar disso. — sugeriu Kate daquela forma tão doce que apenas ela possuía. — Posso ficar aqui com Joe...
— De modo algum. — jamais deixaria Kate na mão apenas porque um cara não gostava de receber cantadas de garotas bonitas. — Vou apenas tomar um ar e já volto para trabalhar.
Kate pareceu acreditar no que eu dissera.
Segui para os fundos do café, ainda me perguntando que diabos tinha acontecido com aquele cara. Ou poderia ter sido uma má ideia flertar com alguém que eu não conhecia... O que eu tinha na cabeça? No que eu estava pensando? A resposta para a última pergunta era: idiota. Era óbvio que eu estava pensando em como a boca dele se encaixava perfeitamente na minha, ou no que as mãos grandes, e possivelmente ásperas do trabalho duro, faria com o meu corpo.
Ao meio-dia o café fechou, já que Kate tinha que resolver algo sobre a hipoteca da casa. Caminhei tranquilamente até a minha casa, feliz por ter conseguido amenizar dentro de mim todo aquele sentimento de que perdera algo. E eu realmente tinha perdido algo, o amor próprio, no momento em que não me toquei que aquele cara não era nenhum príncipe encantado.
De resto, estava tudo perfeito. Eu nunca mais o veria. Não teria o desprazer de ver aquele rosto perfeito, nem aquela boca maravilhosa de homem que sabia chupar bem uma boceta na seca, deixando-a saciada. Eu tinha que parar de pensar, e conseguiria.
— Gregg! — atendi o meu celular, quando já estava a poucos metros da minha casa. — Sair? — Gregg era o meu amigo gay, que tinha a vida perfeita com o seu namorado gostoso perfeito, em uma casa perfeita. Não, eu não tinha inveja dele, mas, às vezes, eu mesma lhe falava que chegava a ser irritante tanta coisa perfeita em um só lugar. É que não bastava ele ter tudo isso; Gregg ainda era um negro lindo, que fazia a cabeça das mulheres girarem em uma rotação completa por pura contemplação. Corpo definido e a bunda maior que a minha, e até que eu tinha uma bunda bonita, só que a dele deixava qualquer mulher louca de raiva.
