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Capítulo 2: Festa na piscina

Sophia Blanco

É sábado. A semana passou voando, cheia de provas e trabalhos, e eu finalmente podia respirar. Cris me chamou para uma festa na piscina da casa dela — a nova casa, na verdade — e disse que seria uma boa oportunidade para todos conhecerem o novo lar e, claro, o pai dela.

Enquanto me arrumo, coloco uma música animada no quarto. Escolho uma saia rodada branca, uma regata rosa clara e uma sandália do mesmo tom. Gosto de manter um visual delicado, quase angelical, mas com um toque de estilo. Penteio o cabelo com cuidado e deixo solto, caindo em ondas suaves sobre os ombros.

Pego minha bolsa e coloco tudo o que acho necessário: dois biquínis — um azul-claro e outro rosa-bebê —, um vestido florido leve para o pós-piscina, protetor solar, carteira, celular, uma escova de cabelo e um lip tint. Gosto de estar preparada. Sempre fui assim. Cuidadosa demais com as minhas coisas, e comigo mesma. Não suporto perder o controle. Gosto de prevenir. Talvez até demais. Mas prefiro assim. Ser pega de surpresa me causa ansiedade. Na verdade, eu odeio isso.

Desço com a bolsa pendurada no ombro e o celular nas mãos. A casa está silenciosa. Minha mãe, como de costume, não está. Tenho dezessete anos, mas ainda me pergunto por onde ela anda. Ela vive fora de casa, em jantares, viagens, reuniões sociais, clubes… menos aqui. Menos comigo.

Sinto meu celular vibrar e olho a tela: Peter.

Atendo.

— Oi, amor — digo, tentando soar animada.

— Oi, princesa… hum, não vou poder te pegar pra gente ir pra casa da Cris. Meu pai ligou, mandou eu ir pra casa dele urgente. Não sei o que ele quer, mas parece sério — diz ele, com uma voz que não me convence nem um pouco.

Não sei exatamente por quê, mas soou como desculpa. Talvez ele só queira sair com os amigos dele — aqueles idiotas que vivem se metendo em encrenca. Mas enfim, não posso obrigá-lo a fazer o que não quer. Só me incomoda ele mentir.

— Tudo bem. Eu vou com o meu motorista — respondo, calma.

— Ok. Tchau. Te amo — diz ele rapidamente.

Desligo sem responder. Às vezes me pergunto por que insisto nesse relacionamento. Às vezes parece que estamos juntos só porque formamos o “casal perfeito” do colégio. Mas nos bastidores… falta tanta coisa. Falta afeto. Falta verdade.

Mas talvez eu tenha me acostumado com a falta. Crescer com uma mãe ausente nos ensina a sobreviver com pouco.

Vou até a cozinha procurar o motorista e encontro-o comendo um sanduíche na bancada.

Ele se levanta apressado assim que me vê.

— A senhorita precisa de algo? — pergunta, limpando a boca com um guardanapo.

— Sim, preciso que me leve até a casa da Cris. Mas pode terminar o que está fazendo, eu espero na sala — respondo, gentil. Não precisava apressá-lo. Já estou acostumada a esperar.

Já na casa da Cris, fui recebida por uma visão de tirar o fôlego: uma mansão moderna, com jardins bem cuidados, fachada branca e janelas enormes de vidro. Um contraste gritante com o apartamento onde ela morava antes com a mãe — que, por sinal, nunca foi com a minha cara. Nunca entendi o porquê. Nunca fiz nada de mal à Cris. Nunca fui aquele tipo de amiga que pais julgam como má influência. Muito pelo contrário. Sempre incentivei a Cris a estudar, a ser ela mesma. Ela é como uma irmã pra mim.

Mas a mãe dela nunca escondeu o desprezo. Acho que ela é só amarga mesmo. Mal-amada, provavelmente. Assim como a minha mãe, que nunca foi exatamente simpática com a Cris também. No fundo, talvez as duas se pareçam mais do que gostariam de admitir. Mas o que importa é que eu e a Cris nos amamos. E, se Deus quiser, nada vai nos separar.

— Ai, Sophia! Vai logo colocar seu biquíni! Estou te esperando há horas! — grita Cris do outro lado do jardim, com um tom impaciente.

Ela está cercada de gente, sentada ao lado do Marcos, o namorado, com uma bebida colorida na mão. Pelo visto, está ocupada demais para me acompanhar.

— Tá bom! — resmungo, bufando, e entro pela porta que dá na cozinha.

Caminho pelos corredores até encontrar um quarto. Entro com um certo receio — não parece ser o da Cris, mas é grande, bonito e bem arrumado, com decoração neutra e cheirosa. Nada que pareça particular demais. Talvez seja um quarto de hóspedes.

Fecho a porta e deixo a bolsa sobre a cama. Tiro a saia e a blusa, ficando apenas com minha lingerie minúscula, pronta para trocar de roupa. Estava de costas, pegando o biquíni rosa na bolsa, quando ouvi a porta se abrir.

Achei que fosse a Cris. Talvez tivesse se arrependido de me deixar sozinha. Não me preocupei.

— Achei que você fosse me ajudar a escolher o biquíni — falo, rindo, sem nem olhar.

Mas… o silêncio atrás de mim é estranho.

Nada da voz aguda da Cris. Nenhuma resposta.

Um arrepio percorre minha nuca.

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